O The Game Awards 2025 chega com um dos line-ups mais diversos dos últimos anos. Entre produções que já nascem com personalidade forte — como Clair Obscur: Expedition 33, Hades II, Kingdom Come: Deliverance II e Hollow Knight: Silksong —, existe um título que se impõe de outro jeito: pela marca autoral, construção narrativa e ambição técnica que só Hideo Kojima parece disposto a perseguir com tanta convicção: Death Stranding 2.
A sequência da Kojima Productions não tenta reconstruir sua proposta do zero, avançando em direção ao que o estúdio faz de melhor, com propósito em cada escolha, e mecânica refinada, e isso transparece desde os primeiros minutos de jogo; o título destaca-se dentro desse ecossistema competitivo pela união de ambição criativa, solidez técnica e identidade autoral conforme aprofunda temas, evolui mecânicas e expande a visão de mundo proposta pelo primeiro título.
O projeto também ganhou aperfeiçoamentos visuais que refletem o salto geracional dos últimos anos. Modelos de personagens, iluminação, partículas, texturas de materiais e expressões faciais atingem um nível de realismo em ambas as qualidades brutas e cuidado artístico na composição das cenas e na direção de fotografia.
Por Que Death Stranding 2: On the Beach merece o Game of the Year 2025
No meio de tantos projetos competitivos, Death Stranding 2 se destaca porque sabe exatamente o que quer ser. Ele toma riscos, entrega algo que poucos fazem e amarra tudo em uma obra que conversa com o jogador mediante experiência construída com cuidado, dando-lhe assim um argumento real para conquistar o prêmio de Jogo do Ano.
Um aprimoramento direto do primeiro jogo
A principal crítica, muitas vezes injusta, ao Death Stranding original sempre foi a mesma: “é só entregar pacotes”.
A sequência responde diretamente a essa percepção ao expandir e refinar o conceito central de forma inteligente, mesclando mais elementos de ação tradicional enquanto aprofunda a fórmula e mensagem do antecessor com novas mecânicas e ferramentas que ampliam as possibilidades de gameplay. A travessia continua sendo o centro da experiência, mas agora ela se desdobra em caminhos mais táticos, com ferramentas que ampliam a autonomia do jogador e transformam o deslocamento em algo mais envolvente.

Apesar da estrutura ainda centrada na jornada e no planejamento, rotas parecem mais orgânicas e os equipamentos mais elaborados, com customização mais ampla dos detalhes e veículos, e interações com companheiros que fazem a experiência deste título soar mais vívida e menos desoladora que a de Death Stranding. Além disso, o jogo incorpora novas situações de risco: desde pequenos encontros com ameaças e inimigos até operações mais complexas, oferecendo mais ação. Death Stranding 2 equilibra melhor o ritmo entre “ser o entregador” e “ser o protagonista”.
Para quem chega agora, o sistema pode parecer inusitado, mas é essa estranheza inicial que torna a recompensa mais empolgante. Há uma sensação genuína de conquista ao dominar o ambiente, ao planejar uma rota que só você enxergou, ou perceber como o mundo responde. Enquanto não tenta agradar todos os públicos, este é um jogo que recompensa quem abraça sua proposta enquanto apresenta desafios novos e antigos para os fãs do primeiro título da série.
Gráficos da mais alta qualidade
A Kojima Productions reafirmou seu lugar entre os estúdios mais competentes do mundo no uso de tecnologia gráfica. Sua engine já impressionava no primeiro jogo, mas atinge um patamar ainda mais alto, graças à geração atual de hardware e ao refinamento técnico acumulado ao longo dos anos. O uso de captura de movimento está entre os mais sofisticados já registrados em jogos, trazendo expressões faciais e movimentos corporais de realismo que poucos estúdios conseguem proporcionar com tamanha fidelidade e qualidade.
O design de áudio também se integra perfeitamente ao conjunto: sons ambientais, tempestades, ruídos de criaturas e trilha sonora recheada de grandes artistas acompanham a jornada com uma qualidade digna dos constantes flertes que Hideo Kojima sempre teve com o cinema.
Uma narrativa digna de cinema
Death Stranding 2 se debruça sobre os temas já presentes no primeiro jogo, mas o faz com um olhar mais maduro. Kojima demonstra domínio sobre a construção de personagens e entende que o público chegou à sequência com vínculos fortes com Sam, Fragile e os demais sobreviventes. A história usa essa familiaridade para desenvolver sua trama com uma abordagem original, mesmo que ainda com as nuances complexas que são marca registrada do primeiro jogo.

O elenco, que já era carregado de grandes nomes no primeiro jogo, se expandiu: Norman Reedus retorna como Sam Porter Bridges, enquanto Léa Seydoux aprofunda sua presença na história. O jogo também conta com participações marcantes de Elle Fanning, Shioli Kutsuna e outros nomes que reforçam o compromisso de Kojima em unir cinema e videogame de forma orgânica.
O resultado é uma narrativa que sustenta as atuações mais dramáticas com um ritmo narrativo maduro e sem medo de arriscar. O ritmo da trama é mais intenso que o do seu antecessor, com menos dispersão e mais foco nos conflitos centrais, o que resulta numa trama mais clara visando conectar o jogador à jornada de Sam conforme reinterpreta eventos passados e endereça os pontos soltos do primeiro jogo, somadas com as performances de Reedus, Seydoux e Fanning, que entregam atuações densas que potencializam momentos-chave e as transformam em cenas memoráveis.
O toque inovador de Hideo Kojima
Mesmo quando não reinventa mecânicas inteiras, Kojima é reconhecido por sua postura vanguardista, e Death Stranding 2 reforça essa característica. A inovação neste título se apresenta na maneira como diferentes elementos: gameplay, narrativa, música, performances e ambientação.
O tema das conexões humanas, central ao primeiro título, ganha novas facetas ao abordar laços sociais e até espirituais. O jogo explora e discute a fragilidade dos relacionamentos em mundos desfeitos, explorando, assim, o que significa reconstruir os laços que emergem na própria proposta da série.
A assinatura de Kojima está presente em cada camada do desenvolvimento: na narrativa que explora responsabilidade coletiva e fragilidade social — mas também brinca com filosofia, política e existencialismo de forma natural, como já ocorre nos trabalhos anteriores do diretor, tornando este um dos projetos mais coerentes e ambiciosos de 2025.
Direção artística digna de Hollywood
A direção artística do jogo é construída com uma atenção visual exemplar: os cenários variam entre paisagens amplas e ameaçadoras, vales silenciosos e regiões que parecem suspensas em outro plano. Cada ambiente é trabalhado para transmitir algo específico ao interlocutor, carregando uma sensibilidade cinematográfica, mas sem abandonar a imersão que o formato interativo permite.
O elenco reforça essa dimensão cinematográfica. Norman Reedus e Léa Seydoux voltam com segurança, mas é o conjunto de novos e antigos nomes que eleva o jogo. Elle Fanning, Shioli Kutsuna e Troy Baker entregam atuações que extraem o melhor da captura facial e do trabalho de direção dramática. Os momentos com Fanning, em particular, se tornaram destaque pela precisão na interpretação.
Por que Death Stranding 2 não merece o Game of the Year
Mesmo com todos os méritos, há argumentos sólidos que podem pesar contra a vitória do jogo na premiação. Death Stranding 2 não é um jogo perfeito, longe disso, e existem outros nomes e concorrentes pesados que podem ofuscar o seu brilho para o júri do The Game Awards.
Falta de inovação radical em comparação com outros concorrentes
A evolução de Death Stranding 2 em relação ao primeiro jogo é clara, mas parte das discussões entre críticos gira em torno do grau dessa mudança. O refinamento é evidente, assim como a expansão de mecânicas e sistemas, porém as bases continuam firmemente ancoradas no que já foi apresentado.
A impressão é de que o jogo de Kojima avança dentro da própria lógica, enquanto outros títulos tentam expandir horizontes de gênero. Mesmo que isso seja totalmente coerente com a visão autoral da franquia, pode não ser o suficiente para garantir preferência em uma premiação como o The Game Awards.
Gameplay que continua sendo divisiva e aliena parte do público
Death Stranding não tenta se moldar a expectativas externas e isso o torna autêntico, embora, inevitavelmente, restrinja seu alcance. A essência da série permanece ancorada na travessia, no ritmo contemplativo e em uma cadência que prioriza a atmosfera acima da ação. Essa característica cria uma identidade forte, mas também mantém a barreira que já afastou alguns jogadores no passado.

Para quem já não se conectou com o primeiro título, a sequência traz mudanças importantes, mas mantém o mesmo núcleo conceitual. Não há uma virada que convide esse público de volta com promessas diferentes, e isso afeta a percepção de novidade, e até entre jogadores que apreciaram o original, parte da recepção aponta a ausência de algo realmente surpreendente dentro do gameplay.
A concorrência revolucionária de Clair Obscur

Entre todos os indicados, Clair Obscur: Expedition 33 surge como o título que mais mexeu com as expectativas da indústria em 2025. Seu sistema de combate por turnos, sincronizado com ritmo, aliado a uma estética surrealista e uma narrativa experimental, produziu uma explosão na crítica.
O jogo da Sandfall Studio criou um espaço próprio no debate sobre o futuro dos RPGs. A mistura entre ritmo musical, estratégia e expressão artística apresentou algo que muitos jogadores nunca tinham visto ou não haviam experimentado há décadas, um frescor que contribuiu para posicioná-lo como um dos projetos mais influentes do ano
Comparado a isso, Death Stranding 2 aparece como uma obra menos disruptiva. Sua consistência é admirável, mas a busca por inovação estética e mecânica de Clair Obscur pode incliná-lo ao favoritismo entre jurados que valorizam experimentação acima de continuidade.
Concluindo
Death Stranding 2 se destaca como um dos trabalhos mais completos e artisticamente ambiciosos de 2025. Em um ano marcado por projetos de alto nível, o jogo se mantém firme. A sequência consolida o amadurecimento da proposta original e reafirma o talento de Hideo Kojima, mas ao mesmo tempo, enfrenta uma disputa complexa.
O estilo contemplativo e o gênero próprio voltado para conexões ainda dividem opiniões, a continuidade estrutural pode soar conservadora diante de competidores mais experimentais e o impacto de jogos como Clair Obscur altera o equilíbrio da disputa.
Esses elementos tornam o resultado final menos previsível — e deixam claro que a competição pelo troféu está acirrada —, mas ainda assim, os méritos de Death Stranding 2 são tão sólidos e consistentes que tornam sua candidatura ao Game of the Year uma das mais justificadas da edição. Independentemente do resultado final, o jogo já consolidou seu lugar como uma das obras mais marcantes e influentes de 2025.











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