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Conheça a Relação entre Assassins Creed Shadows e a Criação da Nintendo

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Você sabia que existe uma relação entre a criação da casa do Super Mario e o novo jogo da Ubisoft? Vamos falar sobre essa estranha coincidência.

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revisado por Romeu

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Com o recente lançamento de Assassin’s Creed Shadowslink outside website surgiu uma boa oportunidade de falarmos sobre a criação de uma das mais amadas e odiadas empresas de jogos: A Nintendo.

Criadora de inúmeros games de sucesso, como a franquia Legend of Zeldalink outside website, Pokémonlink outside website, Super Mario e Donkey Konglink outside website tem uma estranha ligação com o período em que o jogo da Ubisoft se passa.

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E você sabe qual é essa ligação? Vamos explicar nessa matéria sobre a criação da Nintendo e, se você tiver dúvidas, deixe um comentário.

A Chegada dos Portugueses

Você deve se lembrar nas aulas de história que os navegadores portugueses chegaram ao Brasil no ano de 1500 e que foi Pedro Alvares Cabral e “Terra à vista” e tudo mais, certo? Os navegadores portugueses aparentemente não estavam só atrás de especiarias das Índias, pois alguns deles foram parar “do outro lado do mundo”, chegando ao Japão.

No início do século XVI, o Japão encontrava-se em um período de intensas transformações. Em 1543, os portugueses chegaram à “Terra do Sol Nascente” dando início ao que ficou conhecido como o Período Nanban.

Esses primeiros contatos não se limitaram ao comércio de especiarias e seda, mas também trouxeram uma série de influências culturais e tecnológicas ao país, como as armas de fogo, novas técnicas de navegação e, claro, elementos da cultura ocidental, como a religião cristã. A ideia era exatamente difundir o cristianismo entre o Japão.

Contudo, essa não foi a única coisa introduzida lá. Os marinheiros de ambos os lados também passaram a trocar outros costumes culturais, entre eles, a jogatina. Mais especificamente, os jogos de cartas.

Pôster com todos produtos que a Nintendo produzia na Era Meiji
Pôster com todos produtos que a Nintendo produzia na Era Meiji

Durante esse período, o Japão que estava dividido em diversos feudos em constante conflito, via com interesse as novidades trazidas do Ocidente. Os marinheiros portugueses, com seu costume de jogar e apostar, também levaram para o país os baralhos europeus com naipes e números, além de uma série de jogos conhecidos, como o pôquer.

Esses jogos de cartas despertaram a curiosidade dos japoneses, que acharam muito interessantes os baralhos com seus naipes e números, além do social das partidas, ou, em outras palavras, a possibilidade de ganhar dinheiro com as apostas. No final das contas, como sabemos hoje em dia, o cristianismo não se popularizou por lá, mas a influência dos jogos de cartas e apostas permanecem fortes até hoje!

A Era dos Jogos

Inicialmente, esses jogos eram realizados tanto pelos comerciantes quanto pelos samurais, e logo se espalharam pelas classes sociais e eram frequentemente associados ao ato de apostar, o que despertava um interesse considerável, principalmente naqueles de classes mais baixas.

Os jogos de cartas passaram a ser praticados em ambientes informais, mas também em locais de maior visibilidade, como salões de entretenimento e festivais. A empolgação com as partidas e a possibilidade de ganhos rápidos ajudaram a espalhar os jogos de azar entre a população japonesa, marcando o início de um costume que, apesar das controvérsias, atravessaria os séculos.

As partidas se transformaram em eventos sociais, onde as apostas podiam envolver altas quantias, tornando o jogo um vício entre todos. E foi esse novo vício que chamou a atenção das autoridades, que viam nas apostas um potencial para a desordem social e a degradação dos valores tradicionais.

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Alessandro Valignano
Alessandro Valignano

Esse período, em 1579, que temos a chegada dos padres jesuítas no país, com nosso protagonista do game, o samurai Yasuke, que chegou ao Japão como servo do missionário jesuíta Alessandro Valignano, é bem provável que ele tenha viajado em navios portugueses, já que Valignano era um visitador da Companhia de Jesus responsável por supervisionar as missões no Oriente.

Durante as longas viagens marítimas, era comum que marinheiros, mercadores e até mesmo os servos passassem o tempo jogando cartas para se distrair, especialmente com baralhos de estilo europeu (como os de origem portuguesa ou espanhola). Portanto, embora não haja registros históricos específicos sobre Yasuke jogando cartas, é bastante plausível que ele estivesse familiarizado com esses jogos durante a viagem.

A Proibição pelo xogunato

Com o aumento das apostas e os problemas decorrentes do jogo excessivo, as autoridades japonesas, especialmente durante o período do xogunato Tokugawa, passaram a adotar medidas rigorosas para conter os excessos. A administração centralizada e autoritária buscava manter a ordem social e, para isso, via nas atividades de jogo uma ameaça ao equilíbrio e à moralidade da sociedade.

O Japão passava por um período de diversas guerras e conflitos, como mostrado em Assassin’s Creed Shadows, e era necessário manter os valores tradicionais e conservadores, visando uma unificação do povo, sem influência de países estrangeiros que tinham ideias e modelos de governo muito diferentes daqueles desejados pelos poderosos e governantes locais.

Durante o xogunato, várias proibições foram impostas aos jogos de azar. Os baralhos ocidentais, que haviam ganhado popularidade, foram associados ao vício e à instabilidade, e, portanto, passaram a ser proibidos ou fortemente restringidos. Essas restrições visavam não apenas coibir as apostas, mas também preservar os costumes e tradições japonesas, que eram vistos como elementos essenciais para a manutenção da ordem feudal.

Em 1579, ano em que Assassin's Creed Shadows se passa, os jogos mais populares entre os europeus eram Ombre, Triunfo e Primero.

Ombre era um jogo sofisticado e estratégico, jogado com um baralho espanhol de 40 cartas. Triunfo envolvia o uso de um naipe trunfo e era mais simples, parecido com o truco moderno, sendo popular em tabernas e entre marinheiros. Já Primero é considerado um avô do pôquer, com apostas e combinações semelhantes a pares e flushes, que atraiam jogadores que gostavam de arriscar a sorte. Embora menos conhecido, Landsknecht também circulava entre europeus, funcionando como um jogo de aposta contra o banqueiro.

No entanto, a proibição não foi suficiente para acabar com os jogos de cartas. A criatividade, vontade de apostar e a necessidade de burlar as leis, fizeram com que os japoneses criassem alternativas. Assim, os próprios jogadores e fabricantes começaram a reinventar os baralhos, criando designs e regras que os diferenciassem dos modelos europeus. Essa adaptação foi a forma que eles encontraram de escapar das proibições.

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Um exemplo desses baralhos adaptados foi o Karuta, que surgiu como uma fusão entre cartas japonesas tradicionais e influências ocidentais. O nome "karuta" vem da palavra portuguesa carta. Existiam diferentes tipos de karuta, mas um dos mais antigos e populares era o Tenshō karuta, criado no século XVI, que ainda preservava muito da estética e do formato europeu.

A principal diferença estava na forma artística das cartas, que começava a se afastar das figuras europeias tradicionais, embora ainda mantivesse a lógica dos quatro naipes: espadas, copas, ouros e paus.

Os jogos jogados com o Tenshō karuta eram basicamente versões locais dos jogos europeus, como Triunfo e o Primero. Assim como os baralhos ocidentais, ele também era usado para jogos e apostas, com regras que variavam de acordo com a região ou com o grupo de jogadores.

Um grupo de mulheres jogando Karuta
Um grupo de mulheres jogando Karuta

Entre os jogos exclusivamente japoneses que surgiram para driblar a proibição está o Uta-garuta, que utilizava cartas com poemas em vez de números ou figuras. Esse jogo consistia em combinar trechos de poemas clássicos da literatura japonesa, especialmente do Hyakunin Isshu (uma antologia de 100 poemas de 100 poetas). Os jogadores precisavam encontrar a carta correspondente ao trecho recitado, exigindo tanto memória quanto conhecimento poético.

Contudo, cada novo jogo, cada novo tipo de carta vinha uma nova proibição. Cartas com naipes eram proibidas. Cartas com números eram proibidas. Cartas com letras. Cada nova tentativa de burlar o sistema gerava uma reação.

O Baralho das Flores

Foi nesse contexto de proibições e reinvenções que surgiram os baralhos Hanafuda. O nome "Hanafuda" significa literalmente “cartas de flores”, uma referência direta às ilustrações detalhadas e coloridas que adornavam cada carta. Diferente dos baralhos europeus, os Hanafuda não possuíam naipes convencionais, mas sim um conjunto de figuras que representavam elementos da natureza, como flores, pássaros e outros símbolos tradicionais japoneses.

Composto por 48 cartas divididas em 12 conjuntos, cada uma representando um mês do ano e ilustrado com diferentes flores ou plantas. O Hanafuda tem vários modos de jogo, mas o mais comum é o Koi-Koi, onde os jogadores formam combinações de cartas para acumular pontos.

Um baralho de hanafuda
Um baralho de hanafuda

Ao modificar a aparência e a simbologia das cartas, os japoneses conseguiram continuar com os jogos de azar sem chamar a atenção das autoridades. As novas cartas, além de escaparem da censura, passaram a ser valorizadas por sua beleza artística e por seu conteúdo cultural, o que as transformou em um artigo de luxo e orgulho nacional.

Os jogos com Hanafuda se popularizaram entre diversas camadas da sociedade. Eram jogados em reuniões familiares, festivais locais e até mesmo em encontros de amigos, sempre acompanhados por apostas – mas agora com um simbolismo que remetia à própria cultura japonesa.

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O sucesso do baralho Hanafuda fez com que as cartas passassem a ser vistas como peças de arte, refletindo a tradição, a estética e o espírito do povo japonês. Até que, em 1889, um homem quis abrir uma empresa para fazer baralhos de Hanafuda e nomeou-a com o nome da mão mais forte no jogo de Hanafuda. Adivinha o nome dessa mão?

A Fundação da Nintendo

Em 1889, Fusajiro Yamauchi, um empreendedor japonês, fundou a Nintendo Koppai, inicialmente com o propósito de produzir cartas Hanafuda. A escolha desse negócio não foi por acaso: o mercado de jogos de cartas estava em alta e já havia conquistado o público japonês, e o nome Nintendo vem da mão mais forte do jogo Koi-Koi conhecida como "Nin-Ten-Do". A explicação está na sonoridade e na interpretação dos caracteres:

1. Nin (任) - Significa "responsabilidade" ou "dever".

2. Ten (天) - Significa "céu" ou "paradisíaco".

3. Do (堂) - Significa "salão" ou "templo".

A expressão completa "Nin-Ten-Do" (任天堂) pode ser interpretada como "Deixe a sorte para o céu" ou "Deixe a fortuna nas mãos do destino".

Primeira Sede da Nintendo em 1889
Primeira Sede da Nintendo em 1889

A Nintendo, em seus primeiros anos, dedicou-se exclusivamente à produção artesanal dos baralhos. Cada conjunto de Hanafuda era cuidadosamente elaborado, com ilustrações que mesclavam técnicas tradicionais de pintura e design gráfico, garantindo um produto final que combinava estética e funcionalidade nos jogos, o que ajudou a Nintendo a se consolidar no mercado nacional, ganhando notoriedade e respeito entre os jogadores.

Conclusão

O legado dos jogos de cartas, que teve suas origens na chegada dos portugueses, vista durante tada a nossa gameplay de Assassins Creed Shadows, e na subsequente proibição dos jogos, acabou por fornecer a base para o surgimento de uma das marcas mais reconhecidas do mundo dos videogames. Você conhecia essa história? Tem mais fatos interessantes para acrescentar? Se tiver, é só deixar um comentário.