Seja em uma conversa descontraída com um grupo de amigos ou em alguma das centenas de listas ranqueando os melhores, ou mais populares títulos da franquia Final Fantasy que podem ser encontradas pela internet, baseadas nos mais diversos critérios, as chances de Final Fantasy X ser mencionado são sempre muito grandes.
Um dos queridinhos de muitos fãs e conceituados pela crítica, é um dos jogos da mainline que traz um visual diferente dos anteriores, personagens carismáticos, momentos icônicos e, entremeado com tudo isso, uma das melhores narrativas sobre perda já contadas nos games.
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É necessário estabelecer que é impossível discutir os temas centrais de FFX sem dar spoilers da história inteira, então abaixo discutiremos todos os segredos revelados durante o gameplay, incluindo o final do jogo!
Recapitulando Final Fantasy X
Em Final Fantasy X, acompanhamos Tidus, Yuna e o resto da party principal quando embarcam em uma jornada, chamada Pilgrimage, através do continente de Spira, um mundo dominado pelos Mestres que pregam os Ensinamentos de Yevon, a religião predominante no local, repudiando o uso da tecnologia da Machina e mantendo a população sob o domínio do medo de Sin, uma “criatura gigante” que, na verdade. é o veículo utilizado pelo verdadeiro vilão do jogo: Yu Yevon.
Essa religião prega que Sin é a manifestação física de uma espécie de punição divina pelos pecados de todos os moradores de Spira, e a única forma de derrotá-lo é com uma solução temporária: pessoas que se tornam Summoners, indivíduos que conseguem conectar-se com o plano espiritual, o Farplane tem duas tarefas importantes, e viajam pelo continente juntamente a seus companheiros, chamados Guardiões cumprindo-as.
A primeira é performar o Sending, o envio das almas das pessoas para o Farplane após sua morte, para que elas não fiquem presas ao plano mortal e tornem-se Fiends, os monstros do jogo, ou Unsent, almas que por algum motivo tem uma força de vontade grande o suficiente para manter sua forma física e permanecer no plano dos vivos, fingindo ainda pertencer a ele.
A segunda é ir em um Pilgrimage, passando por cada um dos templos principais de Spira e, em cada um deles, obter um Aeon, uma manifestação física da capacidade do Summoner de se conectar com a Fayth, nome dado para quando uma pessoa morre e sua alma fica literalmente presa no plano mortal, ligada a uma rocha, ou estátua e sua força e poder podem ser canalizados pelos Summoners e usados em batalha.
Uma vez que o Summoner consegue todos os Aeons, incluindo o Final Aeon, ele pode performar o Final Summoning, um ritual que elimina Sin por um tempo, porém ao custo da vida do Summoner, que se sacrifica voluntariamente para trazer aos cidadãos de Spira esse tempo sem Sin, chamado de Calm
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Introdução - Os Temas de Final Fantasy X
Final Fantasy X foi um marco na história da saga por vários motivos, entre eles por ser o primeiro jogo da franquia onde o par romântico principal se beija, em uma cena marcante no Lake Macalania e muito famosa, ao som de Suteki Da Ne. Outro motivo é o mundo de Spira em si, muito elogiado por sua riqueza de detalhes e world building.
Todos os Final Fantasy anteriores tinham sua ambientação profundamente baseada em fantasia, claro, mas sempre trazendo temas e elementos de alta fantasia, fantasia medieval ou uma variante futurística e distópica. A intenção do time de concept artists do X era fazer um game dentro dessa temática, mas com outra ambientação, muito mais ligada a temas asiáticos, e é possível identificar nos visuais essas influências claramente, como no estilo polinésio e tailandês das estátuas e construções e nos estilos e cores vibrantes das roupas dos personagens.
Porém, além disso, a história e os temas trazidos em FFX são motivos mais do que suficientes para o sucesso que ele alcançou. O conceito inicial do jogo era colocar o jogador na pele de um jovem que vive em um mundo acometido por uma pandemia misteriosa que faz com que as pessoas morram ao fazer 17 anos, e sua jornada para descobrir uma cura, ou seja, apesar de muita coisa ter mudado entre essa ideia inicial e o Final Fantasy X que conhecemos, um tema se sobressai como central a narrativa: A morte, a dor da perda e como lidamos com ela.
FFX é, acima de tudo, uma Tragédia. Uma história sobre luto, apresentada sob a ótica de diversos personagens, entre eles a party principal, vilões e personagens secundários, cada um com seu arco pessoal que envolve lidar com alguma grande perda. É uma história sobre uma sociedade presa em um ciclo eterno de morte, acobertado por mentiras e por uma religião construída e mantida em cima dessas mesmas mentiras, onde o sacrifício e toda a dor decorrente dele são glorificados.
O Luto Como Instrumento Narrativo
A narrativa do jogo traz, por meio das histórias e arcos de seus personagens, diversas facetas do mesmo tema, e até mesmo posições diametralmente opostas sobre um mesmo fato, então a forma mais simples de recapitular os temas centrais do mesmo é falando um pouco sobre a história particular de cada um deles ao lidar com sua própria forma de luto.
Tidus
Tidus é o protagonista do jogo, fato que nos é lembrado várias vezes, inclusive pelo mesmo com suas repetidas declarações de “This is my story”/ "Essa é a minha história", e sua relação com o luto é a mais complexa exatamente por esse motivo.
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Sua jornada junto a estes sentimentos dolorosos começa ainda muito jovem, ao perder os pais com quem já tinha uma relação conturbada por conta da negligência de sua mãe quanto a ele em prol de apoiar o pai, Jecht, um jogador muito famoso de Blitzball que, apesar de amar o filho, não tinha exatamente uma boa forma de demonstrar isso. Quando Jecht desaparece, tudo piora e logo Tidus também perde a mãe, que morre basicamente de um coração partido, negligenciando mais ainda o filho pequeno ao ficar esperando o retorno de Jecht, que nunca aconteceria.
O nosso gameplay se inicia no ponto em que Tidus sofre mais uma grande perda: sua cidade, sua própria carreira como jogador de Blitzball, tudo que ele conhece é tirado dele quando Zanarkand é atacada por Sin e ele é jogado de cabeça em um mundo desconhecido. Ao longo do jogo, ele ainda tem que lidar com o luto quando descobre que o objetivo final de sua jornada envolve o sacrifício de Yuna para derrotar Sin por um tempo e, posteriormente, quando descobre que ao derrotarem Sin de uma vez por todas, irá perder sua própria existência.
O grande plot twist do jogo é que Tidus não passa de um sonho criado por Yu Yevon, que está canalizando os poderes e manipulando literalmente os sonhos de uma Fayth imensa, criada por ele próprio milênios atrás, quando Zanarkand ainda existia e estava perdendo a guerra contra Bevelle, uma cidade mais avançada tecnologicamente que usava Machina para combate. Ele sacrificou todo seu povo para criar esta Fayth, e usar seus poderes para summonar uma versão de Zanarkand e de toda sua população criada por sonhos, recusando-se a aceitar que perderia sua cidade e preferindo mantê-la “viva” dessa forma.
Toda a religião de Yevon foi fundada com o objetivo real de ajudar Yu Yevon a manter esse summon, todos os Mestres, cujo são quase todos Unsents, tem plena ciência de que Sin nunca teve nada a ver com o uso de Machinaou com pecados e que ele nunca irá desaparecer para sempre, tudo sempre foi uma farsa criada visando continuamente mandar Summoners e seus Guardiões para a morte, para servirem de fonte de poder para o vilão.
Um Guardião voluntariamente dá sua vida, virando uma Fayth, da qual ao ser summonada como o Final Aeon vira o novo Sin, enquanto o Summoner também morre para que o Sin anterior seja derrotado, mantendo assim um ciclo.
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Justamente por Tidus ser o protagonista - e por ser através de sua ótica e sua narrativa que acompanhamos os eventos de FFX - é possível perceber sugestões da sua jornada através dos cinco estágios do luto.
Quando ele vai parar em Spira, conhece o resto da party em Besaid e ouve deles que Zanarkand foi uma cidade destruída já há um milênio, Tidus entra em total negação da sua realidade, pois para ele Zanarkand é uma cidade ainda inteira e habitada. A fase da raiva entra em jogo quando ele descobre que Yuna terá de se sacrificar ao final da jornada e como a religião de Spira prega e glorifica mortes e sacrifícios que ele considera desnecessários por serem apenas uma solução temporária.
A Barganha é caracterizada a partir do ponto em que ele se recusa a aceitar que Yuna se sacrifique, e tenta encontrar uma alternativa. Logo após segue a depressão, no momento em que Tidus conversa com a Fayth e descobre que não passa de um sonho que tomou forma e que, se sua jornada for bem sucedida, irá desaparecer.
Por fim, a aceitação vem através de suas últimas palavras direcionadas à Fayth, “I’m grateful”/ "Eu sou grato", quando ele aceita que seu destino é desaparecer, mas vê isso com gratidão por, antes de sumir, ter tido a oportunidade de viver o que viveu, conhecer quem conheceu, e ajudar a livrar Spira de um grande mal, permitindo aos seus companheiros que eles continuem vivendo através de seu sacrifício.
Yuna
O luto de Yuna vem em parte da perda de Lorde Braska, seu pai e o último summoner a dar sua vida em nome de derrotar Sin e trazer um período de calma a Spira, e em parte da inevitabilidade, aos seus olhos, de ter o mesmo destino.
Yuna lida com o luto colocando todo seu peso em cima da responsabilidade de seguir os passos do pai e se sacrificar em nome do que acredita e, a partir do momento em que as falhas na fundação de sua religião começam a entrar em evidência demais, ela ainda tem que lidar com tudo que acreditou sua vida inteira ser baseado em mentiras, se sentindo traída pela própria religião e sociedade pelos quais ela estava disposta a sacrificar sua vida sem questionar.
Wakka
Semelhante a Yuna no que toca a religião, uma das principais fontes do luto de Wakka também é ligado a ela. Logo no começo do jogo descobrimos que Wakka perdeu seu irmão, Chappu, em um ataque de Sin, e a chegada inesperada de Tidus em Besaid traz essa perda à tona por ele se assemelhar bastante com Chappu, tanto que a espada Brotherhood/Irmandade é presenteada a Tidus por Wakka como uma forma de “honrar” seu irmão falecido.
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Wakka é o personagem mais fervorosamente religioso do grupo, sendo o que mais fala sobre os ensinamentos de Yevon e quem mais entra em conflito direto com Rikku por ela ser parte dos Al Bhed, inimigos dos seguidores de Yevon. A religião que ele segue é sua base moral e a única fonte de conforto sobre a morte do irmão, e justamente por isso quando os personagens começam a descobrir as mentiras acobertadas pelos mestres de Yevon, ele é quem tem mais dificuldade de lidar com essa perda.
Lulu
Lulu tem seu luto relacionado ao de Wakka em partes, pois ela era noiva de Chappu e sua morte também deixou cicatrizes profundas na maga, revisitadas pela chegada de Tidus e sua semelhança com ele.
Porém, Lulu também carrega traumas pelo fato de já ter sido guardiã de um summoner duas vezes antes e ter, aos seus olhos, falhado em ambas, especialmente em sua primeira jornada, com Lady Ginnem, que morreu antes de conseguir completar seu Pilgrimage, e Lulu se culpa por sua morte, por não conseguir salvá-la. Lulu é inicialmente contra Yuna ir à jornada, justamente por saber que ao final irá perdê-la também no Final Summoning, e não querer lidar com esse luto mais uma vez.
Auron
Talvez o personagem mais trágico da party, Auron foi um dos Guardiões do pai da Yuna, Lorde Braska, juntamente com Jecht, pai de Tidus, que quando sumiu de Zanarkand, alguns anos antes do filho, foi transportado para Bevelle ao entrar em contato com Sin, deixando o mundo dos sonhos e se tornando “real”.
Ao final da jornada, Jecht se sacrificou para virar o Final Aeon, dessa forma se transformando no Sin atual, e Braska sacrificou sua vida para derrotar o Sin anterior, cegamente acreditando na esperança de que seu sacrifício tinha chances de eliminar Sin definitivamente. Auron foi, então, deixado sozinho para descobrir posteriormente a verdade envolvendo Sin e Yevon, e que os dois melhores amigos sacrificaram suas vidas em nome de uma mentira. Ele vai, então, até Yunalesca e a enfrenta, perdendo sua própria vida nesse embate.
Porém, sua jornada com o luto não termina nem sequer com sua própria morte, pois ele permanece em Spira se recusando a ir para o Farplane, o plano dos espíritos para onde vão os mortos, e mantém aparências como se ainda estivesse vivo para ajudar os filhos de seus melhores amigos a derrotar, de uma vez por todas, Yu Yevon e o ciclo de morte no qual Spira está presa.
Auron e Jecht tem um plano, e ele é justamente trazer Tidus para esse mundo fora do sonho, para que ele elimine Yu Yevon, Sin e liberte a Fayth que está sendo forçada a permanecer sonhando a versão de Zanarkand, e Auron está determinado a cumpri-lo mesmo sabendo que no final, sendo vitoriosos, vai perder de uma vez por todas sua própria existência e que Tidus terá um destino semelhante.
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Rikku e Kimahri
Rikku é uma Al-Bhed, um povo que é marginalizado, vilanizado e considerado herege por conta de sua relação próxima com o uso de Machina, considerado errado pelos ensinamentos de Yevon e pela falsa moral da religião predominante.
Além de ser prima de Yuna, cuja mãe era uma Al-Bhed, e ter com Tidus a pior reação de todos ao descobrir que ela pretende se sacrificar, não querendo perder mais um membro de sua família, durante o gameplay presenciamos a destruição da cidade dos Al-Bhed, sua cidade natal, pelas mãos dos Guado - mais uma das raças que povoa Spira - sob o comando de Seymour, um dos mestres de Yevon e líder do seu povo, e essa é uma perda que pesa muito sobre seus ombros.
Kimahri passa por um luto semelhante, porém ao ser exilado de seu povo ao invés de sua cidade ser destruída, vivendo como guardião de Yuna e sendo motivo de piada pelos seus semelhantes até o momento em que passamos por Mt. Gagazet no jogo e, em uma batalha para recuperar sua honra, Kimahri é aceito de volta pelo seu povo, os Ronso. Porém, antes desse ponto, é evidenciado mais de uma vez o quanto esse afastamento e a perda de tudo que o conecta com suas origens é motivo de dor para o Ronso.
Seymour
Seymour é um dos principais vilões do jogo, e também é fortemente motivado pela perda que viveu. Filho de um Guado e de uma humana, sua existência tinha a intenção de unir as duas raças, mas acabou tendo o efeito oposto e Seymour foi rejeitado por ambos, crescendo em exílio com sua mãe até em torno de seus 10 anos. Um dia, ele foi levado por sua mãe até Zanarkand, onde ela pretendia se sacrificar e tornar-se uma Fayth para que Seymour pudesse usar seu Aeon, Anima, para derrotar Sin e ganhar a simpatia de todos.
Porém, Seymour não lidou bem com a perda da mãe e, ao longo dos anos, foi desenvolvendo uma visão distorcida sobre a vida. Cronologicamente, pouco antes do início do jogo, ele mata seu pai, se torna líder dos Guado e dá início a seu plano. Ele pretende se casar com Yuna e, quando ela performar o final summoning, virar o novo Sin para destruir Spira por completo e aliviar todos seus habitantes das suas vidas, já que segundo ele, o sofrimento é inerente à vida e à existência.
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Luzzu e Gatta
Luzzu, mais velho e mentor de Gatta, seu jovem guerreiro aprendiz, são dois Crusaders que conhecemos pela primeira vez em Besaid e reencontramos mais tarde na Operação Mi’ihen, uma força-tarefa montada por uma aliança entre Crusaders (o “exército” da religião de Yevon) e os Al-Bhed para tentar parar Sin.
Nas interações com eles, o jogador pode escolher algumas opções de diálogos, que no segundo encontro irão determinar qual dos dois irá, inevitavelmente, encontrar seu fim, deixando para trás o outro se sentindo devastado pela perda, tendo agora que lidar com a ausência de seu companheiro. Eles não são personagens relevantes para a história central e apenas fazem essas duas aparições, mas são uma evidência do cuidado com detalhes no jogo e mais um exemplo dos temas abordados.
A Mensagem em Final Fantasy X
O jogo nos traz esse contraste entre as diferentes formas de lidar com o luto, muito bem exemplificado pelas duas personagens que são paralelos diretos uma da outra: Yuna e Yunalesca, filha de Yu Yevon e a primeira Summoner a dar sua vida e a de seu Guardião e marido, Lorde Zaon, para derrotar Sin por um tempo.
Além de compartilharem o nome, ambas têm pais que fizeram sacrifícios em nome de uma força maior - Braska sacrificando a si e Yu Yevon a toda sua cidade e sua população - e ambas sabem que a dor da perda é inevitável. Porém, a maneiracomo elas encontram de lidar com isso é diametralmente oposto.
Yunalesca encara o luto como algo que deve ser mascarado com o fim de dar esperança às pessoas. Ela morreu milênios atrás, mas sua alma permanece presa ao plano mortal para manter o ciclo vicioso no qual Spira se encontra presa, sabendo que Sin sempre retornará e a destruição, morte e perda que ele traz também, mas na sua visão, os pequenos períodos de esperança que os summoners e suas jornadas trazem ao povo valem a pena.
Já Yuna passa a enxergar a dor como algo que, infelizmente, faz parte da vida como ela é, e que não deve ser mascarado por mentiras, e sim aceito por cada pessoa; cada um tendo que aprender a viver com seu próprio luto. Yuna entende que é necessário aprender a viver e seguir em frente apesar de quaisquer perdas, pois o luto e a tristeza fazem parte da vida e não existe uma forma de simplesmente erradicá-los, e dar às pessoas esperança disso é cruel.
E essa é a “lição” que FFX nos passa. Ao longo dos seus arcos, Kimahri consegue ganhar de volta o respeito do seu povo e retorna a eles, eventualmente se tornando líder dos Ronso. Rikku e os Al-Bhed sobreviventes entendem que, apesar de terem perdido sua casa, eles sempre podem reconstruí-la. Lulu aceita que não pode proteger todos que ama e a não guardar rancor pela morte de Chappu, enquanto Wakka percebe que depositar toda sua fé na religião como forma de “justificar” a morte do seu irmão ao invés de aceitá-la e aprender a viver com a dor é errado.
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Contrastando com isso, temos Yu Yevon, que é a personificação da obsessão em negar a perda. Ao invés de aceitar a perda da sua cidade, ele sacrificou toda a sua população, e posteriormente as vidas de sua filha e genro, em nome de manter a ilusão de Zanarkand. O grande inimigo do jogo, Sin, é literalmente um produto da incapacidade de Yu Yevon de lidar com seu luto.
O Papel da Religião em Spira
Um dos maiores responsáveis por perpetuar esse ciclo de morte e destruição é justamente a própria religião de Yevon, que prega dois pontos principais: O primeiro é que Sin é o resultado dos pecados dos cidadãos de Spira e sumirá totalmente quando todos pagarem por eles, culpando o uso de Machina e qualquer ideia que vá contra os mestres de Yevon por tais pecados e, de certa forma, jogando o peso dessa destruição e morte trazidas por Sin nas próprias vítimas dele.
O segundo é que um dia o Final Summoning poderá de fato fazer com que Sin nunca mais volte, apesar de todos os líderes e mestres da religião saberem sobre a natureza de Sin e saberem que isso é impossível. Partilhando de uma visão semelhante à de Yunalesca, eles mantêm toda uma sociedade cruelmente presa num ciclo vicioso sob uma falsa premissa, e continuam mandando Summoners, Guardiões e Crusaders para suas mortes em vão, apenas para manter aparências e poder.
Conclusão - Quebrando o Ciclo
Ao final do jogo, o ciclo de morte e sofrimento no qual Spira se encontra presa é quebrado, e seu povo liberto da ameaça de Sin e da opressão da religião de Yevon, cada um agora responsável por encarar as próprias perdas e aprender a viver com elas e seguir em frente, seguindo o ciclo da vida sem ficar preso a falsas esperanças.
A sequência final do jogo é de quebrar o coração, em meio a felicidade de todos pela vitória em sua luta contra Sin, Auron e Tidus são obrigados a também aceitar o fim de suas existências, Auron aceitando sua morte e indo para o Farplane quando Yuna performa o Sending, e Tidus deixando de existir com toda a versão de sonho de Zanarkand, quando Yu Yevon é derrotado e a Fayth finalmente pode descansar, parando de sonhar.
É um final agridoce, que traz ainda mais uma última perda: Para Tidus sua existência, e para Yuna a perda do seu par romântico, mais um luto com o qual ela deverá aprender a conviver.
Jogar Final Fantasy X pela primeira vez aos meus 13 anos, sem ter experienciado nenhuma grande perda, e re-jogar ele agora, aos 27, depois de já ter passado por situações de luto, incluindo uma recente, foram duas experiências totalmente diferentes.
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As últimas palavras de Tidus para a Fayth, “Eu sou grato”, é a mensagem que tiramos desse jogo.
A única certeza que temos na vida é a inevitabilidade da morte, e, ao invés de ficarmos presos ao passado lamentando eternamente algo inevitável, FFX tenta nos mostrar que podemos ser gratos por termos tido a oportunidade de ter vivido junto a quem amamos, e mantê-los “vivos” na nossa memória e no nosso carinho.
Obrigada pela leitura!
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