Jogos gacha são um estilo cada vez mais presente na vida dos jogadores. Se antes você tinha apenas alguns games do gênero no celular enquanto os consoles e os PC tinham games completos, livres de sorteio ou do “acaso” para conseguir algum personagem ou equipamento, os jogos mobiles eram repletos de games grátis que estavam sempre tentando te pegar pela carteira com personagens legais, poderosos, bonitos, sexys ou descolados.
Porém, hoje em dia, mesmo só consoles de última geração tem sua parcela de jogos gratuitos e muitos games com “mecânicas de surpresa” (as loot boxes) que te entregam um personagem, jogador ou equipamento na base do acaso e das probabilidades, como o Genshin Impact, Love and Deepspace e Etheria: Restart.
Mas o que exatamente é Etheria: Restart? Em resumo, é um jogo de estratégia por turnos com foco muito mais voltado ao PvP do que a maioria dos títulos do gênero de RPG com gacha, que costumam se concentrar quase totalmente no conteúdo PvE. A história se passa em Etheria, um ecossistema digital criado pela humanidade como uma fuga de um mundo real em colapso, onde as consciências humanas foram carregadas para sobreviver dentro dessa nova realidade.
Por um tempo, a vida em Etheria seguiu tranquila. Mas aos poucos começaram a surgir divisões ideológicas. Para manter esse mundo funcionando, os humanos desenvolveram o Animus — seres de dados senscientes que assumem forma humana dentro do universo virtual.
Algumas facções defendiam libertar os Animus, enquanto outras queriam manter o sistema como estava, entre elas, um grupo chamado de terrorista, o Gênesis, é contra o Animus e quer que as pessoas voltem ao mundo real e, para proteger a paz conquistada ao custo de muito trabalho, surgem os Hyperlinks, aqueles dentro do Animus capaz de lutar contra o Gênesis e proteger o Animus. O resultado foi um conflito que explodiu de vez, envolvendo até mesmo os civis que só queriam viver em paz.
O modo história não empolga
Em teoria, a premissa até tem potencial. Sim, é previsível e traz os mesmos clichês pós-apocalípticos que já vimos em outros jogos e filmes, mas isso nem seria um problema se a história fosse bem escrita e tivesse bons momentos. Mesmo um cenário repetido pode render algo interessante, se for apresentado com cuidado.
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Só que não é o caso aqui. A sequência dos eventos é bem morna, e mesmo nas partes onde deveria haver impacto ou urgência, a narrativa falha em envolver. Em um dos capítulos, por exemplo, você é jogado numa versão de Etheria que funciona como uma arena de esportes sangrentos. A ideia parece que vai entregar um chefão digno e uma batalha épica.
Mas logo a cena é interrompida por um personagem que perdeu para você anteriormente e aparece do nada pra roubar o destaque. É o tipo de reviravolta que só enfraquece a trama — e o pior, isso acontece no final de um capítulo que já é bem cansativo de atravessar.
A jogabilidade atrelada à campanha também deixa a desejar. Parece que colocaram esse modo só para cumprir tabela. Ele mistura uma exploração leve com mecânicas de furtividade e quebra-cabeça, mas tudo de forma bem superficial, com aquele jeitão de design feito pra celular. Um exemplo disso é o sistema de emboscada: você se esconde atrás de caixas ou paredes para pular nos inimigos.
Na teoria, soa interessante. Na prática, é só um botão de pular disfarçado. Não tem tensão, não exige raciocínio. Escondeu? Pronto, ficou invisível. E o pior: o sistema nem sempre funciona. Alguns inimigos você embosca, outros não — e você é forçado a lutar de qualquer jeito. No fim, a coisa vira um quebra-cabeça confuso e mal amarrado.
O sistema de times é surpreendentemente bom
Felizmente, é aí que os maiores problemas do jogo param. O restante varia entre bem polido e apenas detalhes menores. A jogabilidade, por exemplo, não é revolucionária, mas é bem executada. Dá pra perceber que os desenvolvedores se preocuparam em fazer com que todos os personagens funcionem tanto no PvE quanto no PvP — ao menos em algum grau.

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E é justamente isso que faz com que o sistema de formação de times seja tão legal. Como todos os personagens foram pensados com o PvP em mente, os kits são cheios de interações, contra-ataques e sinergias. Funciona quase como uma versão mais elaborada de pedra-papel-tesoura, mas com dezenas de variações.
A Freya, por exemplo, é uma boa resposta contra debuffers como o Kloss, já que limpa efeitos negativos de forma passiva. Mas se você usar alguém como a Tsukiyo, que é forte contra a Freya, dá para inverter a situação — mesmo que ela seja fraca contra debuffs ou dano explosivo que ignora defesa.
No fim, o que surge é um sistema dinâmico onde várias partidas de pedra-papel-tesoura acontecem ao mesmo tempo dentro da sua composição. Você busca encaixar suas "tesouras" nos "papéis" do oponente, enquanto tenta evitar as "pedras" que te param. Há bastante coisa para experimentar, bastante armadilha para evitar e aquele prazer real de achar uma combinação que encaixa perfeitamente.
E o jogo ainda adiciona mais uma camada de complexidade com os Shells — algo como pets, só que muito mais ativos. Cada personagem pode equipar um, e os efeitos são bem impactantes. Alguns Shells têm habilidades tão fortes que mudam o rumo da batalha. Eles funcionam como um tipo de equipamento especial que ativa sozinho sob certas condições.
Pode causar dano extra, acelerar sua próxima ação ou até bagunçar completamente a ordem dos turnos. Fora isso, eles aumentam stats e ainda se ligam aos bônus de conjuntos para deixar seus personagens ainda mais insanos.
A sinergia entre Shells e personagens permite montar combos quebrados de verdade. Dá para criar situações onde dois personagens se empurram mutuamente na linha do tempo e praticamente "dançam" pelos turnos, ignorando a sequência esperada.
Claro, no PvP o inimigo também pode montar essas estratégias — o que mantém tudo num equilíbrio bem instável e divertido, onde qualquer um pode tirar uma vitória inesperada com um bom combo.
Mas prepare-se para grindar
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Agora, montar o time ideal não vem fácil. O sistema de equipamentos de Etheria: Restart tem uma mecânica interessante. Em vez de cada peça dar um ponto fixo para ativar um bônus, os módulos (o nome dado ao equipamento aqui) vêm com valores variados — normalmente um ou dois pontos cada. Já os Shells, além de tudo, podem dar até três pontos para dois bônus de conjuntos diferentes. Isso abre um leque enorme de possibilidades, mas também complica bastante o processo.
Na prática, você pode empilhar até três bônus de conjunto em um só personagem — embora dois já sejam mais do que suficientes. Só que se você é do tipo que gosta de maximizar tudo ao extremo, boa sorte. Além de caçar os stats certos, você também precisa pegar as combinações de bônus perfeitas nos módulos corretos.
O verdadeiro pesadelo começa quando entra no farm de Shells. Nas raridades altas, eles podem ter até oito efeitos diferentes, cada um associado a conjuntos distintos. Aí, além de caçar os efeitos certos, você ainda tem que torcer para eles virem com força suficiente para ativar os bônus de conjunto.
É o tipo de grind que mistura sorte, repetição e uma dose de loucura — especialmente se você quer ter tudo no limite máximo. Mas pra quem curte esse tipo de desafio, pode ser exatamente o que estava procurando.
Um futuro delicado
Existe uma preocupação: os personagens de classe especial, os chamados Desordem e Constante (que representam os elementos de luz e escuridão), têm um sistema de obtenção mais difícil e caro. Eles quase não aparecem no banner normal e os banners especiais exigem três vezes mais recursos. Por enquanto, nenhum deles está completamente quebrado.

Mas e no futuro? Não é novidade que muitos jogos gacha apelam para esse tipo de desequilíbrio como forma de lucro, premiando quem gasta mais. Já vimos isso em outros títulos como Genshin Impact e o “power creep” constante. E como Etheria: Restart é um jogo com forte apelo competitivo, a tentação de pagar por vantagem é grande. O próprio sistema parece feito para empurrar os jogadores nessa direção.
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Prós e Contras
Prós
+ Teambuilding muito bem feito;
+ Sinergia entre personagens bem construídas;
+ Equipamentos Adicionam várias camadas ao game;
Contras
- Muito grinding;
- Modo história fraco;
- Falta balanceamento;
Conclusão
Mesmo com o equilíbrio ainda um pouco instável, Etheria: Restart tem muito a oferecer. O modo competitivo entrega uma experiência sólida, com mecânicas bem pensadas e personagens que funcionam tanto na prática quanto no visual.
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A monetização premia quem gasta? Sim. Mas não chega a ser abusiva. Ainda! Os prêmios por gastar são até modestos, e o jogo não joga você direto para o conteúdo endgame só por passar um cartão. Parece que os desenvolvedores tentaram manter o jogo justo o suficiente para manter a competitividade viva.
Se você gosta de estratégia por turnos, PvP tático e formação de times com mil camadas de possibilidades, vale sim dar uma chance. Especialmente se curte competir e quebrar a cabeça com sinergias.
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