Towa and the Guardians of the Sacred Tree chegou prometendo uma mistura ambiciosa de ação rápida, narrativa emocional e progressão entre runs, tudo com visual colorido e trilha sonora de Hitoshi Sakimoto, veterano de clássicos como Final Fantasy Tactics e Vagrant Story.
Desenvolvido pelo estúdio japonês Brownies Inc. e publicado pela Bandai Namco, o jogo tenta entregar um pacote completo: dois protagonistas jogáveis, armas personalizáveis, uma vila que evolui com o tempo e combates que exigem estratégia.
No papel, parecia a combinação perfeita para fãs de roguelites, como Prince of Persia, mas a experiência final é uma mistura de momentos inspirados com falhas que atrapalham o ritmo e a satisfação de jogo.
Primeira impressão: visuais e música que chamam atenção
O primeiro impacto de Towa é visual. Os cenários são variados, cheios de cores e detalhes, e os personagens têm designs que lembram animes modernos sem perder identidade própria. Desde as florestas místicas até áreas mais sombrias, a ambientação consegue transmitir personalidade e mantém a atenção do jogador mesmo quando a jogabilidade começa a se repetir.

A trilha sonora é outro ponto que impressiona. Com composições orquestradas de Sakimoto, as músicas dão peso aos combates e criam momentos de tensão, mas também funcionam em trechos mais calmos, como na vila de Shinju, reforçando a sensação de que o mundo continua vivo. Pequenos detalhes, como a música mudando com o tempo ou com o surgimento de novos NPCs, ajudam a criar uma experiência mais envolvente.
A vila em si é um dos destaques mais elogiados. Diferente de hubs genéricos, Shinju muda com o passar do tempo: personagens envelhecem, alguns morrem, novos aparecem e pequenos eventos alteram a dinâmica do lugar. Essa progressão visual e social dá uma sensação real de passagem do tempo, fazendo com que o jogador sinta que suas ações dentro das runs têm consequências, mesmo que de forma indireta.
Progressão que vai além das runs
Uma das maiores forças do jogo está no sistema de progressão permanente. Cada run deixa algo para trás, sejam recursos, construções ou habilidades que persistem, fazendo com que cada tentativa de avançar no jogo não seja totalmente desperdiçada.
O sistema de forja de espadas merece destaque. Ele permite personalização real, exigindo decisões sobre materiais, tipo de ataque e durabilidade. Há até minijogos dentro da forja, que quebram a monotonia das batalhas e tornam a construção de novas armas mais divertida.
Além disso, a vila oferece diversas opções de evolução: novas lojas, áreas de treino, NPCs que oferecem habilidades especiais ou itens, e pequenas interações sociais que ajudam a reforçar a sensação de que o mundo do jogo está vivo. Essa combinação de progressão pessoal e coletiva faz com que o jogador se sinta recompensado mesmo em runs curtas ou fracassadas.
O combate: boas ideias, execução irregular
O sistema de combate de Towa é interessante, mas imperfeito. A proposta de controlar dois personagens é diferenciada: Tsurugi atua como espadachim direto, enquanto Kagura oferece suporte com magias e habilidades especiais. Alternar entre os dois e coordenar ataques traz uma camada estratégica que, em teoria, funciona bem.

Na prática, o suporte de Kagura nem sempre cumpre seu papel. Algumas habilidades são pouco perceptíveis em meio ao caos das lutas, fazendo com que ela pareça mais um peso do que um recurso útil. Além disso, a alternância de espadas com durabilidade limitada adiciona complexidade, mas também exige atenção extra que, em combates com muitos inimigos e efeitos visuais, pode se tornar cansativa.
Os chefes são outro ponto delicado. Muitos têm barras de vida muito longas e ataques punidores que exigem reflexos quase perfeitos. Isso, combinado com inimigos comuns que absorvem muito dano, cria momentos de frustração, onde a dificuldade parece mais injusta do que desafiadora. Por outro lado, em algumas lutas mais equilibradas, a combinação de dois personagens e troca de armas consegue proporcionar momentos de combate intenso e satisfatório.
Narrativa: charme na vila, fraqueza na trama principal
A narrativa de Towa é desigual. Enquanto a trama central envolvendo o antagonista Magatsu e a ameaça ao mundo é simplista e pouco memorável, a história da vila é encantadora. Pequenos eventos do dia a dia, interações entre NPCs e o impacto da passagem do tempo criam uma sensação de mundo vivo que prende o jogador.
O problema surge quando diálogos longos ou momentos narrativos interrompem o fluxo das runs. Para um roguelite, a fluidez é essencial, e essas pausas acabam frustrando quem quer progredir de forma rápida. Ainda assim, a combinação de narrativa ambiental com evolução da vila consegue gerar engajamento, mostrando que o jogo acerta mais na construção do microcosmo do que na grande história épica.
Comparações inevitáveis com Hades
É impossível jogar Towa sem lembrar de Hades. Estrutura de salas, upgrades temporários, progressão entre runs e chefes regulares claramente se inspiram no sucesso da Supergiant Games. No entanto, Towa não consegue replicar o equilíbrio de Hades. A alternância entre narrativa, combate e progressão às vezes falha em criar ritmo natural, e o resultado é um jogo que parece menos polido.
Apesar disso, Towa tem identidade própria. A vila, o visual e a mecânica de dois personagens dão personalidade suficiente para não ser apenas uma cópia. Mas a comparação inevitavelmente destaca onde o jogo poderia ter ido além.
Desempenho técnico e repetição
Tecnicamente, o jogo é sólido. No Steam Deck, por exemplo, roda estável, com boa taxa de frames e sem problemas de otimização, permitindo que o jogador aproveite tanto a ação quanto os detalhes visuais e sonoros.

O grande problema é a repetição. Após algumas horas, as runs começam a se parecer demais, com poucas variações nas estratégias viáveis. Combates, escolhas de armas e até o impacto do suporte de Kagura perdem frescor, tornando o ciclo mais cansativo do que recompensador. Isso limita a longevidade do jogo, especialmente para quem espera muitas horas de jogabilidade contínua.
Prós e Contras
Towa and the Guardians of the Sacred Tree têm pontos fortes claros: o visual é vibrante, a vila evolui de forma interessante e a progressão entre runs é recompensadora. Por outro lado, o jogo sofre com chefes desbalanceados e repetição constante, que podem cansar quem busca desafios mais equilibrados.
Prós:
- Visual vibrante;
- Vila viva;
- Progressão recompensadora;
Contras:
- Chefes desbalanceados;
- Repetição constante;
Conclusão: charme com limitações
Towa and the Guardians of the Sacred Tree é um roguelite que impressiona pelo visual, trilha sonora e criatividade, mas que tropeça na execução de suas ideias mais ambiciosas. A vila viva, a progressão entre runs e a mecânica de dois personagens são pontos fortes que seguram o jogo, enquanto chefes desbalanceados, combate confuso, narrativa principal fraca e repetição frequente puxam a experiência para baixo.
Não é um desastre. Para quem gosta de roguelites e tem paciência para lidar com os tropeços, Towa oferece momentos de diversão e até de encantamento. Mas se você espera um novo marco do gênero, à altura de Hades, vai sentir que o jogo tinha potencial para ser maior do que realmente é.
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