Se tem algo que o estúdio de desenvolvimento de jogos italiano 3DClouds (site oficial) sabe fazer, e faz bem, são jogos de corrida. Mas eles não são apenas bons no assunto. Eles são apaixonados pelo tema. Eles entendem do assunto como poucos e têm em seu currículo jogos licenciados considerados por muitos os melhores games de corrida de suas respectivas franquias, como Hot Wheels Monster Trucks: Stunt Mayhem e Transformers: Galactic Trials. Mas, e quando eles resolvem sair dos jogos licenciados e começarem uma IP própria?

O que acontece é Formula Legends! Um jogo de corrida que pega 5000 horas ou mais de estudos sobre simuladores de corrida, retira tudo o que não é essencial (ou divertido), coloca uma pitada de arcade e muita, muita história da Fórmula 1 condensada em carros, pilotos e campeonatos reais (mas com nomes levemente alterados para não cair no direito autoral), o que torna esse game uma verdadeira carta de amor para aqueles que são fãs de corridas.
Apesar da carinha de “Mario Kart” com carrinhos espremidos e fofinhos e pilotos cabeçudos, Formula Legends não deixa nada a dever a ninguém no quesito de esmero técnico e transforma o game em uma “carta de amor” aos games de corrida e à F1. Vamos falar sobre Formula Legends e, se ficar com dúvidas, deixe um comentário.
Uma viagem histórica
O ponto de partida mais atrativo do jogo é a sua estrutura de eras: há representações de monopostos que vão desde os anos 1960 até a era moderna. Nesse sentido, Formula Legends permite que o jogador vivencie — ainda que de forma estilizada — o nascimento da aerodinâmica, os turbos barulhentos das décadas de 1980/90, os motores V10 e V8 e, por fim, o complexo universo híbrido do presente. Circuitos clássicos ganham versões diferentes ao longo dos anos — layout mais simples nas décadas iniciais, com menos barreiras, mais “brincadeira de criança”, e evoluções nas pistas modernas com curvas mais arrojadas, áreas de escape e equipamentos de segurança.

Tudo isso ajuda a concretizar a ideia de um “museu jogável”: são muitas pistas (ou variantes delas), muitos modelos e inúmeras referências indiretas, que funcionam como acenos para entusiastas que reconhecem situações, estilos de motor e até clima das décadas passadas.
Por outro lado, não se pode ignorar que muitos elementos ficam bloqueados no começo: carros, pistas e versões de layouts precisam ser desbloqueados aos poucos no modo carreira. Em teoria, isso incentiva a progressão, mas pode frustrar quem comprou o jogo esperando ter acesso imediato a tudo e quer montar seus próprios campeonatos históricos sem esperar.
Jogabilidade: charme com ressalvas
Em Formula Legends, a intenção de “equilibrar simulador e arcade” aparece claramente nas opções de assistência (freios ABS, controle de tração etc.), que podem ser desligadas para quem quer algo mais desafiador. Há também gestão de desgaste de pneus, consumo de combustível, dano ao carro, mudança climática dinâmica e até mini-jogo de pit stop (pressionar teclas no momento certo, gerenciar reabastecimento) — todos elementos que adornam a experiência com camadas estratégicas interessantes.
Porém, a execução dessas ideias não escapa de problemas. A precisão de controle é frequentemente citada como um ponto fraco: em pistas mais técnicas, onde ajustes finos fazem diferença, o jogo parece resistir a mudanças de trajetória rápidas e exige antecipação exagerada nas curvas. Isso faz com que, em disputas lado a lado, o jogador quase sempre saia perdendo — colisões tendem a provocar penalidades ou perdas de momentum que são difíceis de recuperar. As colisões também raramente resultam em momentos espetaculares — mais frequentemente, são mecânicas de reset ou perda de ritmo —, o que empobrece a experiência em batalhas diretas.
Também chama atenção uma certa sensação de “input lag” ou atraso na resposta dos comandos, algo que pesa bastante em corridas competitivas. E o controle de limites de pista é rigoroso: ultrapassar uma marca de pista, mesmo levemente, pode gerar penalidades que pesam bastante em corridas curtas. Em teoria, essas regras podem ser desligadas em corridas customizadas, mas exigir desbloqueios para acessar as opções mais personalizadas pode frustrar quem quer mais liberdade desde o início.
Modo carreira, progressão e equilíbrio
O modo carreira funciona como centro nervoso do jogo: é ali que você parte de eras mais antigas, vai acumulando horas e resultados, desbloqueando carros, pilotos e pistas. A mecânica de progressão, nessa estrutura, é sólida em termos de incentivo — completar desafios, somar quilômetros, alcançar pódios — mas, na prática, algumas decisões se mostram truncadas. Por exemplo: alguns carros ou circuitos só ficam disponíveis após determinadas corridas; às vezes, completar uma pista numa era dá acesso a versões dela de outras décadas, o que cria uma sensação de “pacote surpresa” mais do que de liberdade plena.

Além disso, o jogo tem picos de dificuldade que parecem mal calibrados: vencer uma corrida numa pista pode parecer relativamente fácil, e na seguinte os adversários surgem mais fortes do nada, ou o próprio carro parece menos responsivo. Essa curva inconsistente afeta a sensação de progressão gradual e controlada.
E isso inclui os adversários controlados pela IA. Eles demonstram uma inconsistência notável: em uma corrida parecem lentos demais, em outra são inalcançáveis. Essa oscilação brusca compromete o equilíbrio entre desafio e frustração.
No entanto, quando as engrenagens funcionam bem — pista conhecida, estratégia bem pensada, carro apropriado para a era — você pode experimentar corridas memoráveis. Decidir entre parar cedo para trocar pneus ou segurar um jogo agressivo de desgaste, gerenciar dano e combustível, se antecipar às mudanças de clima: tudo isso adiciona camadas de tensão que vão além de “apenas correr rápido”.
Acertos visuais, auditivos e de imersão
Apesar da roupagem cartunesca, o trabalho visual merece elogios. Os carros modelos “miniatura” são bem trabalhados: motores, transmissões expostas, detalhes estéticos que evoluem conforme as décadas avançam. Há versões modernas inspiradas em sistemas como o “Wind Reduction System” (WRS), por exemplo, indicador de que houve atenção conceitual — mesmo que não literal — a tecnologias reais.
As pistas também transmitem esse carinho: layouts antigos com pouca proteção ou delimitação dão lugar a circuitos com kerbs, áreas extras e elementos visuais de segurança nas versões mais recentes. E há mudanças visuais de clima no decorrer das corridas: transições de tempo são acompanhadas por alterações visuais no asfalto, reflexos, sombreamentos etc.
No áudio, quando o jogo acerta, ele acerta bem: os roncos dos motores das décadas mais sonoras — V10, V8 — aparecem com força. Algumas imperfeições foram observadas: momentos em que o som do motor desaparece ou é trocado por ruído ambiente menos expressivo. Também há relatos de “pop-in” nas texturas durante mudanças climáticas. Esses deslizes, apesar de pontuais, quebram o encanto em momentos nos quais você está imerso.
Para jogadores de PC, o jogo oferece algo a mais: a possibilidade de personalizar nomes e pinturas. Isso significa que, se você não curtir os títulos de carros fictícios que o jogo apresenta, pode renomear equipes, pilotos, cores etc., dando um toque pessoal ainda à homenagem que o jogo propõe.
Conclusão
Prós:
– Visual retrô carismático e cheio de detalhes históricos;
– Variedade de carros e eras bem representada;
– Clima dinâmico e sistema de pit stop divertido;
– Boa sensação de progressão no modo carreira;
– Possibilidade de personalizar nomes e pinturas;
Contras:
– Controles imprecisos e resposta lenta;
– Inteligência artificial inconsistente;
– Penalidades exageradas por saídas de pista;
– Desbloqueio lento de pistas e carros;
– Desempenho irregular e pequenos bugs sonoros;
Formula Legends não foi feito para quem busca um simulador de última geração nem para quem quer corridas arcade puras sem penalidade. É um ponto de equilíbrio, uma ponte entre nostalgia, tributo ao automobilismo e diversão estratégica. Vai agradar especialmente a quem se interessa por história do esporte e quer ver — mesmo que estilizado — sua evolução sob rodas.
Mas seus defeitos o impedem de ser um clássico instantâneo. O controle “esponjoso”, a IA desequilibrada, o desbloqueio gradual de quase tudo e as penalidades por ultrapassagens mínimas são barreiras reais. Em confrontos diretos com outros jogos de simulação ou de corrida arcade com IA mais estabilizada, ele acaba sendo ofuscado.
Ainda assim, quando o jogo “acerta o momento”, como em corridas bem balanceadas e bem preparadas, ele entrega prazeres genuínos: sentir a gestão de pneus, lutar por posição, antecipar condições climáticas e construir uma estratégia que pode virar o resultado na reta final. É nessa mistura que está o charme de Formula Legends.
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