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Exploits: Como identificar e Documentar Falhas em Games

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Aprenda a como identificar e documentar exploits em jogos de PC e console sem o risco de tomar um banimento por usá-los.

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revisado por Romeu

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Exploit. Você já deve ter ouvido essa palavra, principalmente se você joga online. Resumindo: uma técnica ou comportamento que tira proveito de uma falha ou bug em um jogo. No mundo dos games, o termo costuma ser usado quando alguém usa um bug ou glitch para ganhar vantagem injusta sobre outros jogadores. Isso pode ser ganhar dinheiro infinito, ficar invencível por um tempo, atravessar áreas bloqueadas, duplicar itens ou causar problemas em partidas online.

Nota oficial de New World a respeito de exploits
Nota oficial de New World a respeito de exploits

Esses exploits não são todos iguais. Alguns estão ligados a falhas técnicas mais profundas, como problemas de memória, erros de rede ou validações mal feitas no código. Outros surgem diretamente das regras e mecânicas do jogo, quando algo funciona de um jeito que os desenvolvedores não planejaram. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: alguém passa a ter vantagens que não deveriam existir.

É importante deixar claro desde já que a proposta aqui não é ensinar ninguém a explorar falhas. O foco é ajudar a identificar quando algo está errado e explicar como registrar esse problema do jeito certo, para que ele seja corrigido sem causar prejuízo a outros jogadores. E aí, se você ficar com dúvidas, deixe um comentário.

Por que não explorar um exploit

Usar um exploit vai contra as regras básicas de praticamente qualquer jogo. Desenvolvedores tratam esse tipo de prática como cheat, mesmo quando o jogador não usa programas externos. Aproveitar um bug de forma consciente para ganhar vantagem já costuma ser motivo suficiente para punição, como banimentos temporários ou permanentes.

Além disso, exploits estragam a experiência de quem joga. Eles bagunçam economias internas, rankings, partidas competitivas e até eventos oficiais. Em jogos online, isso afasta jogadores que querem jogar direito e pode comprometer a comunidade inteira. Não é exagero dizer que alguns jogos sofreram quedas grandes de público justamente por falhas exploradas por muito tempo.

As consequências para quem explora também não são leves. Banimentos temporários ou permanentes são comuns, e em alguns casos a conta inteira é perdida. Quando a exploração envolve consoles, firmware ou dispositivos de desbloqueio, a situação pode ir além das regras do jogo e entrar no campo legal, com processos, multas e até prisão.

Por outro lado, identificar um exploit e reportar de forma responsável não é crime. Pelo contrário, muitas empresas incentivam isso. Há casos claros de desenvolvedores pedindo publicamente para que jogadores parem de usar a falha assim que a encontrem e enviem um relatório pelos canais oficiais. O recado costuma ser direto: o problema não é achar o bug, é abusar dele.

E é claro, exploits são problemas muito maiores em jogos online. Em jogos singleplayer, podem ser usados para speedruns e para atravessar partes chatas e tediosas de jogos. Neste caso, se você está jogando sozinho e está usando um exploit para ter vantagens, é um problema apenas seu. A experiência do jogo é sua e ninguém liga. Mas, é importante saber sobre eles também, afinal, o exploit que você está usando hoje pode ser o motivo de um save corrompido amanhã.

Tipos comuns de exploits em jogos

Os exploits mais comuns podem ser divididos em dois grandes grupos. Essa divisão ajuda a entender de onde o problema vem e como ele costuma aparecer para o jogador.

Exploits técnicos

Exploits técnicos aproveitam falhas no software ou no hardware. Aqui entram problemas como estouros de buffer, falhas de validação de dados, erros de sincronização entre cliente e servidor ou bugs ligados a arquivos de save e rede. Esse tipo de exploit normalmente não é visível para o jogador comum logo de cara.

Identificar esse tipo de falha costuma exigir conhecimento técnico, como programação, análise de memória ou engenharia reversa. Em geral, quem encontra esses problemas são pesquisadores de segurança ou desenvolvedores experientes. Mesmo assim, os efeitos podem aparecer para qualquer jogador, como crashes frequentes, servidores caindo ou comportamentos completamente fora do esperado.

Exploits de jogabilidade

Já os exploits de jogabilidade nascem das próprias regras do jogo. São bugs que permitem fazer coisas que não estavam nos planos dos desenvolvedores, sem mexer em código ou usar ferramentas externas. Duplicar itens, atravessar paredes, abusar de lag para evitar punições ou ficar em áreas seguras indevidas são exemplos clássicos.

Exploit de duplicar dinheiro em Diablo em ação
Exploit de duplicar dinheiro em Diablo em ação

Esses exploits costumam se espalhar rápido, justamente por serem fáceis de repetir. Cada jogo tem seus próprios casos, muitas vezes únicos, ligados às mecânicas específicas daquele sistema. O que funciona em um jogo não necessariamente funciona em outro.

Como identificar exploits em jogos de PC

No PC, encontrar exploits é mais viável justamente porque a plataforma é aberta. Isso não significa que seja simples, mas existem caminhos bem claros para quem quer analisar o jogo de forma séria, técnica e responsável, sem cair em achismo ou generalização.

Observação de comportamentos fora do padrão

Tudo começa jogando. Parece básico, mas é a parte mais importante. Crashes frequentes sempre no mesmo ponto, dinheiro ou pontos que sobem rápido demais, contadores que não zeram, missões que completam sozinhas ou NPCs reagindo de forma totalmente errada são sinais claros de que algo pode estar quebrado.

Se o jogo começa a recompensar ações simples com resultados absurdos, ou permite repetir algo indefinidamente sem custo, vale ligar o alerta. Em muitos casos, exploits famosos começaram exatamente assim: alguém percebeu que uma ação comum gerava um efeito que não fazia sentido dentro das regras do jogo.

Uso de ferramentas de análise no PC

A grande vantagem do PC é a quantidade de ferramentas disponíveis. Programas como Cheat Engine permitem observar valores em memória em tempo real. Apesar da fama ligada a trapaça, essa ferramenta também é usada para análise técnica, justamente para entender se valores como vida, dinheiro ou tempo estão sendo alterados de forma errada pelo próprio jogo.

Sniffers de rede, como o Wireshark, ajudam em jogos online. Eles permitem observar pacotes estranhos, dados duplicados ou comportamentos incomuns de sincronização. Se o jogo começa a aceitar informações inválidas do cliente ou não valida corretamente certas ações, isso pode abrir espaço para exploits sérios.

Depuradores como gdb, Visual Studio Debugger ou OllyDbg também entram nesse processo. Eles ajudam a entender por que uma função falha, por que um comando retorna algo inesperado ou por que o jogo crasha em situações específicas.

Fuzzing e testes forçados

Para exploits mais técnicos, o fuzzing é uma das abordagens mais diretas. A ideia é simples: alimentar o jogo com dados fora do padrão e observar como ele reage. Arquivos de save corrompidos, mapas alterados, pacotes de rede inválidos ou entradas absurdas podem revelar falhas graves.

Um exemplo conhecido aconteceu em Left 4 Dead 2, quando um pesquisador usou um fuzzer para gerar arquivos de navegação corrompidos. O resultado foi um crash repetível, que depois levou à descoberta de um buffer overflow crítico. Esse tipo de teste exige conhecimento técnico, mas no PC ele é muito mais rápido do que analisar código manualmente. Ferramentas como AFL ou BFF conseguem testar milhares de variações automaticamente, o que acelera muito a descoberta de falhas ligadas a crashes ou comportamento inesperado.

Logs, console e opções de debug

Muitos jogos deixam rastros quando algo dá errado. Logs de erro costumam ficar salvos no diretório do usuário após um crash. Ler esses arquivos ajuda a entender onde o jogo falhou e em que condição.

Alguns títulos também têm console de comando ou opções de debug escondidas. Executar comandos fora do uso normal, ativar flags internas ou mexer em parâmetros que não são usados pelo jogador comum pode revelar respostas estranhas do sistema. Tudo isso ajuda a mapear onde a lógica do jogo começa a quebrar.

Reprodução controlada do bug

Desconfiou de um exploit? O próximo passo é tentar reproduzir. Isso precisa ser feito com cuidado. Mude apenas um elemento por vez: tamanho do arquivo de save, número de conexões, resolução, taxa de frames, configuração gráfica ou arquivo de configuração.

No PC, esse processo é facilitado porque dá para testar rápido e repetir quantas vezes for necessário. O objetivo aqui não é explorar, mas isolar a condição exata em que o problema acontece. Quanto mais previsível e repetível for o bug, mais fácil será documentar depois.

Comunidade, patches e histórico de correções

Fóruns de modding, comunidades técnicas e subreddits costumam discutir glitches e falhas sob o ponto de vista de análise e correção. Não é o lugar para perguntar como explorar, mas sim para entender padrões e histórico de problemas.

Patch notes também são uma fonte valiosa. Quando um update corrige algo específico demais, isso geralmente indica que havia um exploit ali antes. Jogos que participam de programas de bug bounty, como os da Valve, também acabam deixando pistas públicas sobre falhas já resolvidas.

Cheatengine
Cheatengine

Em resumo, no PC existem muitas ferramentas a favor de quem quer investigar de forma técnica. Depuradores, editores hexadecimais, ferramentas de linha de comando, SDKs e APIs públicas ajudam a entender como o jogo funciona por dentro. O ponto central é sempre o mesmo: identificar algo estranho, confirmar que é repetível e registrar tudo com clareza.

Como identificar exploits em jogos de console

Em consoles, o cenário muda completamente. PlayStation, Xbox e Switch são sistemas fechados, com várias camadas de proteção. Para o jogador comum, encontrar exploits técnicos é algo fora da realidade. Na prática, isso acontece por dois caminhos bem específicos.

Uso de ferramentas de desenvolvedor e hardware modificado

Pesquisadores usam devkits oficiais ou consoles com hardware modificado para analisar o sistema. Isso inclui acesso a modo de depuração, dumps de memória e firmware. Com esse nível de acesso, dá para estudar o funcionamento interno do console e identificar falhas profundas.

Um caso famoso é o do grupo Fail0verflow, que explorou uma vulnerabilidade no kernel do PS4 e conseguiu rodar Linux no console. Esse tipo de descoberta exige conhecimento avançado em engenharia reversa, sistemas operacionais e eletrônica. Está muito além do que um jogador comum consegue fazer em casa.

Emuladores, firmwares antigos e exploits públicos

Outro caminho é a análise via emuladores ou firmwares antigos. Consoles mais antigos ou versões específicas do sistema acabam sendo estudados em PC. Quando surge notícia de jailbreak ou desbloqueio, isso significa que um exploit foi encontrado, mas quase sempre depende de hardware específico ou versões muito controladas do sistema.

Comunidades de modding e fóruns especializados documentam essas descobertas, mas não é algo que alguém vá “achar jogando”. No caso do Switch, por exemplo, várias falhas foram descobertas, mas a maioria só funciona com modchips ou acesso físico ao hardware.

Para o jogador comum, o papel é bem mais simples. Se o jogo trava sempre no mesmo ponto, apresenta erros claros ou se comporta de forma absurda, o correto é reportar. Tentar caçar exploit em console sem conhecimento técnico profundo não é só ineficaz, como também arriscado.

Um exemplo histórico ajuda a deixar isso claro. Em 2016, o PS4 foi hackeado pelo grupo Fail0verflow após a descoberta de falhas no sistema operacional. Eles quebraram o kernel, depois o bootloader, contornando várias proteções. A Sony respondeu fechando essas brechas em atualizações de firmware.

Para quem joga, isso mostra que exploits em consoles existem, mas só aparecem após pesquisas longas e complexas. Para o usuário comum, a melhor prática continua sendo relatar problemas e esperar correções oficiais.

Como documentar (e reportar

um exploit corretamente)

Quando você encontrar um possível exploit, é essencial documentá-lo de forma clara e responsável. Isso significa descrever o problema sem ensinar como explorá-lo. Siga essas dicas práticas:

Contexto completo: anote qual jogo e versão está usando, e em qual plataforma (PC, PS5, Xbox, etc.). Em PCs, informe o sistema operacional e a versão do jogo ou do launcher (por ex. Steam, Epic). Em consoles, diga o modelo exato do console e firmware. Inclua também data, hora e servidor (se multiplayer).

Descrição do problema: explique o que o exploit faz de errado. Por exemplo: “este glitch faz com que meu personagem receba 1 milhão de moedas ao abrir um baú” ou “enviar este pacote de rede causa crash no servidor”. Segundo orienta a EA, informe “o que a vulnerabilidade permite que um atacante faça”. Seja objetivo: não forneça o código do exploit nem instruções passo a passo de como executá-lo na vida real, apenas explique o efeito observado e a situação em que acontece.

• Passos para reproduzir: liste em ordem cronológica como chegar à falha. Por exemplo: (1) iniciar nova partida; (2) checar nível do personagem; (3) colocar um item X no inventário; (4) abrir o menu Y; (5) observar que o contador de itens repete. Quanto mais preciso for, melhor. Inclua cada detalhe que possa influenciar: configurações gráficas, addons/mods ativos (se houver), movimentos do personagem, etc. A EA, por exemplo, pede: “Quais etapas um atacante poderia seguir para explorar a vulnerabilidade?” e pede inclusive capturas de tela ou código de exemplo.

• Evidências: anexe provas visuais do bug. Prints de tela, fotos da tela (no console), ou melhores ainda, pequenos vídeos demonstrando o exploit em ação. Logs de console ou arquivos de crash também ajudam a validar. Por exemplo, mostre a tela antes e depois do bug ocorrer. Essas evidências concretas comprovam que o problema existe de fato.

• Boa conduta (responsible disclosure): não modifique ou acesse dados de outros jogadores ao testar o exploit. Segundo as diretrizes de algumas empresas (Roblox, por ex.), pesquise em “boa fé” evitando quaisquer invasões de privacidade ou interrupções de serviço. Não divulgue o exploit publicamente imediatamente; dê aos desenvolvedores um tempo razoável para corrigirem antes de tornar os detalhes públicos. Em muitos casos, as próprias empresas de jogos têm canais oficiais (e-mails de segurança ou programas de bug bounty). Por exemplo, a Riot Games solicita envio de bugs de segurança, incluindo “game exploits (e.g., bugs de vitória instantânea)”, para seu programa de recompensa.

• Canal de reporte: envie o relatório por vias oficiais. Verifique se o jogo tem formulário de bug-venda (ex: HackerOne, Bugcrowd) ou endereço de e-mail de segurança. A EA, por exemplo, disponibiliza um Coordinated Vulnerability Disclosure form e orienta a fornecer todos os detalhes mencionados acima. A Roblox orienta a reportar exploits de segurança via seu programa no HackerOne, seguindo diretrizes claras de não publicizar o bug antes de corrigido.

Em resumo, documente completamente o contexto, os efeitos e os passos que levam ao exploit, forneça evidências e use o canal adequado de reporte. Dessa forma, você ajuda os desenvolvedores a corrigirem o problema sem divulgar como explorá-lo.

Conclusão

Identificar exploits exige atenção e paciência. No PC, as ferramentas facilitam a análise. Em consoles, quase sempre é assunto para especialistas. Em qualquer caso, a regra é simples: não use a falha contra outros jogadores.

Misigno: o Exploit mais famoso dos games
Misigno: o Exploit mais famoso dos games

Boa conduta é identificar a falha, não abusar dela e avisar quem pode corrigir. Pesquisadores e jogadores que fazem isso ajudam a melhorar os jogos sem prejudicar ninguém. Má conduta é usar exploits para ganhar vantagem, vender hacks ou divulgar falhas sem responsabilidade. Esse tipo de atitude costuma terminar em banimento e, em casos mais graves, em problemas legais. A diferença entre uma coisa e outra está muito mais na postura do que no conhecimento técnico.

Documentar bem e reportar do jeito certo ajuda os desenvolvedores a corrigirem problemas, protege a comunidade e evita punições. Exploits vão continuar existindo, mas a forma como lidamos com eles define se o impacto será negativo ou positivo para quem joga.

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