Review: Rematch - A Reinvenção do Futebol Com Tropeços de Bola

Rematch é o novo jogo de futebol desenvolvido pela Sloclap, estúdio conhecido por títulos como Sifu e Absolver. À primeira vista, um estúdio especializado em combates corpo a corpo lançar um jogo de futebol pode parecer um estranho e um grande desvio de estilo, mas bastam alguns minutos em campo para perceber que Rematch é tudo, menos futebol convencional. Em vez de seguir a fórmula clássica de simulação como FIFA ou eFootball, Rematch mistura futebol de rua, pancadaria e estética elegante para entregar uma experiência esportiva audaciosa, vibrante e altamente viciante.

Neste artigo, vamos analisar cada aspecto desse jogo que, nas primeiras 24 horas, teve mais de um milhão de jogadores se divertindo.

Rematch elimina as regras tradicionais do futebol, sem faltas, impedimentos, escanteios ou pausas. As partidas são sempre online com times que variam entre 3v3, 4v4 ou 5v5, e acontecem em arenas fechadas com paredes que permitem rebotes espetaculares, em jogos rápidos de 10 minutos e "regra da misericórdia" (4x0 encerra a partida). Cada jogador controla apenas um atleta, em perspectiva em terceira pessoa, com câmera livre ou travada na bola (uma opção escondida, mas que ajuda demais).

O jogo não tenta simular o futebol tradicional, mas sim reinterpretá-lo por meio da cultura urbana, animação artísticas e combates com uma certa profundidade. É uma mistura de FIFA Street com Rocket League, e um tempero do DNA de Sifu.

O estilo gráfico de Rematch impressiona desde a tela inicial. A Sloclap aplicou toda sua expertise em animação fluida e design com estilo. Os personagens parecem saídos de uma graphic novel, com traços exagerados, roupas que refletem culturas urbanas e animações com muita personalidade. Os estádios são variados e cheios de vida: de telhados de Tóquio a vielas grafitadas de São Paulo, cada arena tem vida e personalidade próprias.

A trilha sonora acompanha o ritmo com batidas eletrônicas e hip-hop, alternando entre faixas que aumentam a adrenalina e momentos mais ritmo nos menus. É um espetáculo audiovisual que combinou perfeitamente com a ideia do jogo.

A grande inovação de Rematch está no seu sistema de controle, que mistura controles tradicionais de jogos esportivos com inputs mais próximos de jogos de luta. Cada partida é jogada com foco em dribles, passes rápidos, confrontos físicos e finalizações com chutes criativos. Os jogadores têm acesso a "habilidades especiais" que podem ser ativadas em momentos estratégicos, como um super drible que desestabiliza os adversários ou um chute flamejante que é quase indefensável.

Ao contrário de jogos mais realistas, Rematch não foca em simular táticas reais de futebol. Aqui, o controle do personagem é mais ágil, como uma acrobacia em campo, e a física entre os jogadores é tão importante quanto o posicionamento e os passes. Entender o timing das ações, prever os movimentos do oponente e saber usar as habilidades no momento certo faz toda a diferença.

Um diferencial é que não há posições certas em campo, cada um pode ser tudo. Se você entra na área do gol passa imediatamente a ser o goleiro, se sair dela começa a jogar normalmente e outro jogador pode ir para o gol, dando um dinamismo grande às partidas.

Os controles são simples:

- Ataque: Passe (X), Chute (RT), Drible (LS) e Rainbow Flick (movimento show).

- Defesa: Carrinho (B) e desarme básico.

- Goleiro: Mergulho (Y) direcional.

- Sistema de posição dinâmica: O jogo atribui automaticamente funções (goleiro, zaga, ataque) conforme o contexto e trabalho em equipe.

Outro ponto que diferencia Rematch é o elenco jogável. Em vez de times tradicionais com nomes licenciados, o jogo traz um conjunto de personagens fictícios, cada um com histórico, estilo e movimentos próprios. Há desde ex-capoeiristas até atletas de breakdance, skatistas e boxeadores aposentados, todos unidos pelo amor ao “futebol de rua radical”.

Cada personagem pode ser evoluído ao longo do tempo, desbloqueando novos movimentos, roupas e até variações de habilidades. O sistema de progressão é mais semelhante a um RPG de ação do que a um game de futebol tradicional. Além disso, há muita personalização visual, permitindo que os jogadores montem equipes com visuais e estilo próprio.

Rematch é viciante e tático. A física da bola é realista, ela não gruda nos pés, parece escorregar ao correr e exige domínio da trajetória. O combate corpo a corpo lembra Sifu, os desarmes de bola são "contra-ataques" que exigem se antecipar ao oponente, e dribles evitam abordagens como carrinhos ou tomadas de bola.

Algo que é muito satisfatório são os acertos nas jogadas:

- Um passe cruzado perfeito, um chute no ângulo ou um mergulho milimétrico do goleiro fazem a gente sorrir e gritar, é um êxtase puro.

- Com o estilo gráfico do jogo, estádios dinâmicos (como a arena na selva) e trilha sonora (que silencia após uma defesa) nos deixam bem imersos no clima do jogo.

- É futebol de rua na fantasia do esporte, com física pura, onde toda jogada é um highlight.

Rematch oferece uma boa variedade de modos para diferentes estilos de jogador:

- Modo Carreira (Ascensão de Rua): um modo single-player que mistura narrativa com torneios. Você cria um personagem e o começa desde as quadras locais até competições internacionais.

- Multiplayer Online: É onde Rematch realmente brilha. É possível montar equipes com amigos ou jogar partidas ranqueadas. A competitividade aqui é acirrada, e o matchmaking tem sido rápido e estável desde o lançamento.

- Eventos Semanais: Com modificadores de regras e recompensas exclusivas, o jogo promove interesse contínuo dos jogadores.

- Modo Criativo: Permite customizar arenas, regras e até criar campeonatos locais com suas próprias condições e ideias.

Senti falta de um modo de 11 contra 11, o jogo ficaria mais frenético e rapido, mas entendi que essa não foi a proposta de Rematch. Ele se concentra na intensidade e no estilo, e nesse aspecto entrega tudo com excelência.

Rodando em Unreal Engine 5, Rematch tem uma performance sólida tanto nos consoles quanto no PC. O frame rate é estável (60 fps na maioria dos dispositivos), mesmo com múltiplos personagens em tela, efeitos visuais deslumbrantes e partículas voando por todos os lados.

No lançamento, foram relatados alguns bugs visuais e problemas de clipping em certos movimentos de colisão, mas a Sloclap já lançou patches que resolveram a maioria dos casos. A promessa é de suporte contínuo com atualizações mensais, novos personagens e conteúdo sazonal, algo que o jogo, com seu potencial competitivo, merece.

O brilho de Rematch está no PvP. As partidas online são tensas, imprevisíveis e repletas de momentos extraordinários. A Sloclap acertou ao implementar um sistema de pareamento justo e recompensas equilibradas, que cativa o jogador a continuar evoluindo e competindo. O jogo tem tudo para ganhar título de eSport, especialmente com seu sistema de ligas e a promessa de torneios oficiais patrocinados pela Kepler Interactive.

Infelizmente, Rematch não é só alegria, foi lançado com falhas técnicas graves:

- Sincronização: Bola e jogadores teleportam, gols fantasmas são validados, abordagens de bola ignoradas.

- Goleiro Inconsistente: Mergulhos falhavam sem motivo, a direção tambem estava falha, e a leitura de chutes estava muito aleatória.

- Ausências Cruciais: A ausência de um Cross-play (prometido para breve), e modos offline como treino com bots só virão em atualizações futuras, algo que desanima quem gosta de jogar sozinho.

Além disso:

- Comunicação Tóxica: Quick-chats como "Boa Jogada!" viram armas de sarcasmo e os chat de voz acabam sendo algo extremamente incômodo. Como as partidas sempre são geradas aleatoriamente, voce pode estar jogando com um grupo ótimo que se comunica bem e quer se divertir e na partida seguinte estar com outro grupo que só grita, reclama e xinga a todo momento. Passei grande parte dos jogos com o chat desabilitado por esta razão.

- Jogadores protagonistas: Um dos maiores problemas de Rematch está nos jogadores que, em vez de priorizar o jogo coletivo e passar a bola para companheiros em melhores condições, prefere arriscar jogadas individuais, buscando sempre o protagonismo e a finalização. Essa atitude prejudica o desempenho da equipe, perdendo oportunidades de gol mais claras e, na maioria das vezes, leva a perdas de posse de bola e da partida.

A Sloclap optou por um modelo pago (R$ 89,00) com:

- Cosméticos: Skins (ex: Ronaldinho por ~R$ 32,00 ), roupas, acessórios.

- Passe de Batalha: 100 níveis, com versão gratuita e premium (~R$ 40,00). Completo, recompensa moeda para o próximo passe .

Pontos positivos: ZERO pay-to-win, loot boxes, ou vantagens competitivas. Contudo, o conteúdo é escasso: só modos multiplayer online, sem campanha, torneios ou opções solo substanciais. Para um jogo AA, essa base parece inacabada e temo que o jogo sofra com isso no futuro.

A alta demanda de jogadores se deve principalmente ao Game Pass, mas fica uma pergunta no ar: E quando o jogo sair do serviço, a taxa de jogadores continuará alta ou terão que fazer como Rocket League, que começou pago e teve que migrar para o jogo grátis para não morrer?

Pontos Fortes:

- Fãs de Rocket League ou Sifu que buscam algo novo vão adorar o jogo.

- Casuais que curtiam FIFA Street e não temem curva de aprendizado.

- Times de amigos (quando o cross-play chegar).

Pontos Fracos:

- Não é um substituto para EA FC ou eFootball.

- Se voce odeia instabilidade online ou grind por cosméticos.

- Se busca single-player.

Rematch não é para quem busca experiências tradicionais de futebol. Se você procura algo mais realista, com times licenciados, campeonatos autênticos e simulação tática, talvez esse não seja seu jogo. No entanto, para quem deseja algo novo, com espírito arcade, combate tático, visual estiloso e jogabilidade diferente de tudo que o mercado oferece, Rematch é uma das experiências mais originais e divertidas do ano.

É um jogo de futebol reinventado pelas mãos criativas de um estúdio que entende como transformar movimento, impacto e estilo em uma linguagem própria. Quando funciona, oferece uma satisfação inigualável, que captura a essência do esporte com inovação. No entanto, os problemas técnicos, falta de conteúdo limitado ainda deixam a experiência carente.

Com patches e cross-play e novos modos de jogo, Rematch pode virar um game cult. Até lá, é um projeto ambicioso que, como um jovem craque, precisa amadurecer sob pressão.