Feriados podem trazer algumas surpresas agradáveis. Distante do caos da rotina e do fluxo quase infindável de informações das mídias sociais, encontrei algum tempo para apreciar alguns jogos que ficaram guardados na biblioteca do meu console durante o ano.
Dentre eles, encontrei uma surpresa agradável na coletânea Final Fantasy Pixel Remaster, lançada para PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch em 19 de abril de 2023, e em 28 de julho de 2021 para Steam, Android e iOS. Sua aquisição no meio do ano terminou com seu primeiro início postergado para o final deste mesmo ano, e com a descoberta do melhor método que já presenciei de aproveitar os primeiros jogos da franquia!
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A versão mais recente disponível dos clássicos conta com diversos recursos customizáveis, como a opção entre trilha sonora original ou orquestrada, os ajustes de ganhos de recursos e experiência e a abundância de idiomas disponíveis, que amplificam a qualidade de vida do produto e tornam deste o jeito definitivo de experimentar os clássicos em tempos modernos.
O que é o Final Fantasy Pixel Remaster?
Final Fantasy Pixel Remaster é uma coletânea dos seis primeiros títulos da franquia Final Fantasy, originalmente lançados entre 1987 e 1994. Diferente de outros relançamentos, essa versão busca manter o máximo de fidelidade visual e de conteúdo das obras originais, retrabalhando todos os detalhes do jogo em 2D pixelado ao invés de apostar em modelos mais contemporâneos.
A coletânea pode ser comprada em um pacote com todos os jogos, mas cada título também está disponível por um preço individual. O pacote está disponível por R$ 374,50 na PlayStation Store e na Nintendo eShop, e R$ 288,60 na Steam.
O valor dos jogos individuais variam conforme a plataforma e título, com Final Fantasy I e II sendo os mais baratos, R$ 64,50 nos consoles e R$ 45,00 na Steam, enquanto FF III ao VI saem por um valor mais alto: R$ 94,90 e R$ 70,00, respectivamente.
Os Clássicos para Tempos Modernos
Se você nasceu entre os anos 80 e 90, deve se lembrar de como era jogar videogame ou consumir conteúdos audiovisuais antes do advento das mídias sociais, smartphones, ou da Internet como ferramenta de entretenimento e informação: passar horas de frente para uma televisão com um controle conectado ao console, a necessidade de salvar seu progresso manualmente por meio de códigos ou cartões de memória, jogos traduzidos apenas para o idioma inglês, e outros detalhes inerentes daquela época.
Os tempos eram outros e games eram desenhados com esse usuário menos móvel em mente. Se acreditava na necessidade do jogador gerenciar recursos adicionais, pensar bem no timing do seu save e de quantos ele precisaria, o tempo investido em batalhas aleatórias para aprimorar sua equipe e comprar novos equipamentos, e outros elementos que garantiam uma experiência integrada e desafiadora ao jogador com base nos padrões de consumo e rotina daquela época.
Já se passaram quase 37 anos desde o lançamento do primeiro Final Fantasy, os avanços tecnológicos mudaram o nosso padrão de consumo e rotina inteiros, e até o nosso tempo investido diante de uma tela - seja uma televisão, computador ou smartphone - precisa ser melhor gerenciado para se tornar proveitoso. Enquanto os relançamentos anteriores para GameBoy Advance, PSP e Smartphones parecem projetados com o lema jogue onde quiser, a versão Pixel Remaster dá um passo mais contemporâneo aos títulos clássicos, apostando em um novo ingrediente: jogue como quiser.
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Jogue como você quiser
Final Fantasy Pixel Remaster conta com todas as funcionalidades e facilidades dos relançamentos mais recentes da Square Enix, onde são projetados primeiro para smartphones e Steam antes de chegarem até os consoles - enquanto a brecha de dois anos não traz nada novo aos ports de consoles, os recursos já existentes proporcionam uma experiência funcional, agradável e com bastante qualidade de vida para o jogador.
Quando comparado aos demais ports e remasters, essa se destaca pela customização. Todos os jogos possuem diversas opções de idiomas (inclusive para o português do Brasil), fontes de texto entre clássica ou contemporânea, trilha sonora entre original e orquestrada, além da possibilidade de utilizar um filtro que se assemelha ao padrão de cores e visual das antigas TVs de tubo, garantindo assim uma imersão quase completa no sentimento de jogar os clássicos da franquia.
Além do aspecto audiovisual, o Pixel Remaster permite customizar a jogabilidade para torná-la mais dinâmica, mais ágil, ou mais desafiadora. O menu de configurações conta com uma subseção onde podemos alterar multiplicadores de experiência, pontos de habilidade e dinheiro, com um aumento de até quatro vezes e um decréscimo que nos permite até zerar o ganho desses recursos durante a aventura.
Em essência, essas alterações na metodologia de progresso permitem ao público jogar da maneira que melhor se encaixa no que elas buscam, e agregam muito na qualidade geral de cada título e na sua rejogabilidade. Se você deseja uma aventura mais fluída e sem precisar suspender a aventura para ganhar uns níveis, basta aumentar o ganho de experiência e pontos de habilidade e não será necessário, em nenhum momento, andar em círculos para enfrentar batalhas aleatórias.
Da mesma maneira, se você busca mais desafios no combate, reduzir os ganhos de recursos certamente garante uma camada extra de dificuldade, ou até possibilita o famoso desafio do nível inicial, onde seus personagens não ganham experiência ou pontos de habilidade durante as batalhas, cabendo ao jogador apostar na criatividade e conhecimento das mecânicas de cada jogo para superar os chefes e terminar sua jornada.
Para incrementar ainda mais a qualidade de autonomia do jogador, as versões Pixel Remaster contam com dois recursos para acelerar o progresso nos jogos. Tal como vemos nos ports dos títulos de PlayStation 1, o uso de um botão para habilitar ou desabilitar combates aleatórios permite ao jogador passar por áreas que ele já explorou e/ou passar de uma dungeon mais problemática sem ser interrompido a cada minuto por uma horda de monstros.
O segundo recurso é a opção de batalha automática. Nele, com o pressionar de um único botão, sua equipe inteira vai reproduzir a última sequência de ações feitas por ela e o desenrolar do confronto ocorre mais rapidamente. Assim, é possível passar pelos inimigos aleatórios sem designar comandos diretos toda vez que precisar enfrentá-los, o que agiliza bastante o progresso nos jogos.
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Essa junção de opções, onde podemos definir como desejamos vivenciar cada jogo e qual nível de desafio e tempo vamos investir nele, é uma demonstração do quanto a versão Pixel Remaster busca abraçar várias categorias distintas de jogadores, seja dos fãs mais nostálgicos em busca de relembrar a experiência do seu título favorito, daqueles que buscam novas camadas de desafios, ou também dos que buscam uma jogabilidade mais relaxante e fluída para acompanhar a história dos clássicos de Final Fantasy.
Efeitos visuais, galeria de arte e trilha sonora orquestrada dão vida nova à Nostalgia
Enquanto a ambientação pixelizada captura a essência da nostalgia, essa coletânea mantém um frescor de novidade para os fãs mais antigos através dos seus efeitos visuais modernizados para mágicas, Summons e alguns eventos in-game, e da opção de trilha sonora orquestrada, que mantém o jogo vívido até para aqueles que já jogaram os clássicos várias vezes durante anos.
Além do já conhecido Bestiário, a coleção Pixel Remaster traz uma galeria de arte em cada jogo, com ilustrações conceituais e finalizados de diversos momentos-chave, monstros e personagens de cada jogo, além de contar com um reprodutor de músicas, com todas as canções em ambas as versões originais e orquestradas.
Sem Conteúdos Novos
Mas nem tudo é perfeito nesta versão. Os relançamentos anteriores, como a versão de Final Fantasy I e II para PSP e os ports para GameBoy Advance de Final Fantasy V e VI, apostaram em conteúdo extra além da obra original para atrair seu público para além do mero fator de mobilidade, com masmorras extras, chefes secretos e até alguns summons e classes novas no caso dos títulos mais recentes.
O Pixel Remaster busca se manter completamente fiel aos jogos originais do início ao fim, então enquanto ele possui alguns aspectos visuais e de áudio aprimorados, ele não possui a expansão de conteúdo que outros ports e Remasters receberam.
Por um lado, isso é um pouco desanimador, pois significa que os títulos carecem daquela pitada de novidade e desafio que novos chefões secretos e masmorras garantem ao público. Por outro, isso garante uma narrativa e gameplay quase igual ao dos jogos quando foram lançados, sem a necessidade de expansão através de masmorras e inimigos adicionais que em pouco agregam a história das obras originais.
É claro que nem todos os elementos inerentes de cada título original está presente nesta versão. Por exemplo, as versões originais de alguns jogos desta época de Final Fantasy são conhecidos pelos seus bugs e pelos saltos repentinos de dificuldades e/ou algumas escolhas ruins de design de níveis - todos esses, em maioria, foram corrigidos e/ou retrabalhados para garantir uma jornada otimizada.
Fonte e tamanho das letras não foram adaptados para telas maiores
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Enquanto ajuda muito na acessibilidade pelo acréscimo de idiomas disponíveis, o Pixel Remaster falha em outra questão desse tópico: sendo claramente projetado para telas de smartphones, a fonte utilizada para os diálogos e menus foi também planejada para caber em escopos de percepção pequenos.
Logo, quando jogado em uma tela de TV ou monitor grande, o tamanho da fonte parece menor e o espaço "em branco" nas caixas de diálogo fica mais evidente. Também testei um dos jogos em meu notebook, com uma tela de 14 polegadas e não percebi o mesmo incômodo - ou seja, este é um problema inerente de quando jogamos em telas maiores, e poderia ser mitigado com uma opção de ajuste de tamanho da fonte nos diálogos para aqueles que possuem problema de vista e/ou utilizam telas muito grandes e não querem ficar próximos demais delas para ler os diálogos.
Preço Individual alto para um Remaster
O grande elefante na sala para o Pixel Remaster é o preço individual dos seus jogos, salgados para um relançamento. Somados, eles saem tão caro quanto versões deluxe de jogos triplo A recém-lançados e renomados da indústria, convencendo o consumidor de comprar o pacote completo, onde se assemelham ao valor de uma game triplo A em sua versão normal.
Enquanto esse valor pode afastar alguns jogadores, o tempo de jogabilidade dos seis jogos somados, mesmo que você só percorra a história principal, se assemelha ou supera alguns dos principais títulos da indústria hoje, e garante o bom aproveitamento deles se você for um fã do gênero de RPG, especialmente dos baseados em turno, que receberam um pouco mais de clamor das gerações atuais após o sucesso de Baldur's Gate 3.
Já os jogos individuais parecem caro demais para o que oferecem, então não recomendo sua compra à menos que você seja fã de um Final Fantasy em específico dentre os seis disponíveis no pacote.
Comparativo com Outras Versões
Como já explicado, há algumas diferenças tanto visuais quanto de jogabilidade quando comparamos o Pixel Remaster com outras versões já lançadas desses títulos. Então, o quão bem ele se sai quando comparado com seus antecessores?
Outros lançamentos, como a de PSP ou até os remakes em 3D de Final Fantasy III e IV apresentam visuais mais modernizados que agradam jogadores que priorizam gráficos, além de que esses também possuem masmorras e chefes opcionais para uma camada extra de desafio, sendo esses dois os elementos cruciais para motivar a compra das suas respectivas versões.
Esta versão aposta na nostalgia ao invés de no aprimoramento gráfico e novos conteúdos, e seu principal atrativo está na qualidade geral do produto e em como ele garante uma experiência altamente flexível ao jogador, com alta customização de dificuldade e tempo de jogo.
Parece incorreto afirmar que uma versão é melhor do que a outra, pois depende do que cada jogador prioriza, como preferem aproveitar seu produto e a maneira como optam pelo fator rejogabilidade.
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Prós e Contras
Prós
Contras
Final Fantasy Pixel Remaster vale a pena?
NOTA: 8,5
Dada a disponibilidade dele em múltiplas mídias e a maneira como aborda as preferências do jogador e a agrega para a qualidade geral do produto, Final Fantasy Pixel Remaster parece a versão ideal para quem deseja conhecer as origens da franquia e para os fãs de longa data - ele garante a imersão mais próxima dos jogos originais enquanto mantém seu próprio atrativo por se adaptar bem aos padrões de qualidade de vida e rotina necessários para os tempos modernos, garantindo uma experiência única conforme as preferências do jogador.
Por outro lado, sua faixa de preço é alta para um relançamento do seu porte caso alguém opte por comprar títulos individuais ao invés do pacote completo com os seis jogos, especialmente para consoles ou Steam. O desconto oferecido o coloca no mesmo valor de um lançamento triplo A, sendo um pouco salgado se considerarmos como uma coletânea de Remasters, mas cujo valor agregado é muito alto pelo tempo de jogabilidade e rejogabilidade que cada título garante.
Com tudo considerado, Final Fantasy Pixel Remaster se consolida como o meio definitivo de descobrir ou redescobrir os jogos clássicos da franquia, sendo uma escolha ideal para os fãs da série, ou para os entusiastas dos jogos de RPG em turnos.
Conclusão
Para minha semana de feriados, o Final Fantasy Pixel Remaster foi uma surpresa incrível, onde relembrei diversos momentos das primeiras vezes que joguei estes jogos na época dos seus relançamentos para o PlayStation 1, como também tenho a oportunidade de analisá-los com olhos mais maduros e mais crítico, entendendo como cada um deles pode ter se destacado em sua época e a evolução natural da série durante seus 37 anos.
Logo, iniciarei minha temporada de reviews de Final Fantasy I até Final Fantasy VI nos próximos meses, baseado no que esta nova versão proporciona com sua fidelidade aos lançamentos originais.
Obrigado pela leitura!
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