Introdução

Em 15 de setembro de 2016, a desenvolvedora e publicadora Atlus, conhecida por sua série Shin Megami Tensei, publicava seu sexto jogo da série Persona, Persona 5. 3 anos depois, o jogo recebe uma nova versão, que adiciona finais diferentes, personagens novos, além de mecânicas que estendem ainda mais o tamanho da campanha, e se consagrando como um dos melhores JRPGs da história: Persona 5 Royal.

O jogo divide opiniões com o público geral por um simples fato: são 100+ horas de jogo apenas para completar a campanha principal, e isso é um chute ainda baixo considerando a quantidade de diálogos e cutscenes presentes; em experiência própria, levei 140 horas para encerrar pela primeira vez. No entanto, é nítido como os jogadores que passaram pela experiência amam, e gostariam que durasse ainda mais (eu inclusa). Todas essas questões nos levam a questionar se Persona 5 vale a pena ser jogado em 2025, no entanto, suas questões sobre a sociedade e os relacionamentos são atemporais e a genialidade da abordagem faz valer a pena.
Enredo

Acompanhamos um protagonista acusado de agressão por um assediador ao tentar defender uma mulher, e se torna injustamente culpado pela justiça. Devido a sua situação de liberdade condicional, este é transferido para a escola de Shujin, onde tem dificuldades de socialização por todos saberem o motivo de sua transferência. O protagonista é preenchido por um sentimento de fúria e revolta contra não só a situação em que se encontra, mas contra outras injustiças que são visibilizadas ao longo de seu caminho; esse sentimento revolucionário é o combustível para o despertar de sua Persona, um poder concedido àqueles que conseguem entender os verdadeiros desejos de seus corações.
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No entanto, a Persona é uma invocação apenas presente no Metaverso: um universo paralelo formado pela cognição humana. Nesse mesmo Metaverso, ocorre a materialização dos desejos realizados por pessoas malignas, em que é possível visualizar como as pessoas realmente são. Ao mesmo tempo, é possível alterar a cognição de um indivíduo e sua percepção de mundo se este for alterado dentro de seu Metaverso. Assim, o protagonista se une com outros alunos também usuários de Personas, e decidem formar um grupo de justiceiros para mudar os corações com intenções malignas: The Phantom Thieves of Hearts.
Progressão e Social Links

Persona 5 Royal sempre deixa claro ao jogador: o seu tempo é limitado, e você escolhe a melhor maneira de usá-lo. Entre nossos acessos ao Metaverso e as aulas que temos que comparecer, há múltiplas opções de escolhas que fazemos em nosso descanso e fim de semana: conversar com um amigo, ir ao cinema, ler, ir para um jantar, jogar no arcade, lavar roupa, entre outras inúmeras. Cada uma dessas ações gasta uma quantia de tempo que é valiosa, pois o jogo possui limites de tempo para progressão da história. Em outras palavras, se o objetivo principal não for cumprido em tantos dias no jogo, é Game Over e o jogador precisa reiniciar aquele período como um todo.

Paralelamente, também temos as mecânicas dos Social Links, ou elos sociais. Durante a nossa campanha, o protagonista precisa do auxílio de diversos personagens: uma médica para conseguir itens de cura, um rastreador, entre outros. Esses se tornam seus Confidentes ao longo do jogo, pessoas que guardam sua identidade secreta e se envolvem em relações desde amizade até romance com o personagem. Os Confidentes e as Personas também representam cartas de tarô, e quanto mais tempo livre é usado com um Confidente, maior se torna seu nível com o mesmo, o que fortalece suas Personas.
Questões Sociais
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Persona 5 Royal é um jogo em que diversas questões sociais são abordadas, algumas de maneira mais tênue, porém de maneira aberta para que o jogador possa refletir e encarar como as dificuldades humanas são enfrentadas. Quanto mais avançamos na progressão da história, fica bem claro que os supostos corações malignos que o protagonista deseja alterar são todos ligados a posições de poder em um sistema de hierarquia institucional, onde os oprimidos são sempre aqueles menos contemplados no status quo da sociedade, e que somente a libertação a partir da pavimentação pessoal do próprio caminho é capaz de trazer a felicidade.

Outra questão super relevante é a administração de tempo: sabemos que, na modernidade, somos completamente incapazes de fazer tudo que realmente desejamos realizar. Isso é estampado em nossa cara constantemente no jogo, onde temos que fazer escolhas diariamente de como vamos gastar o restinho do nosso precioso tempo (apesar de o protagonista ser um colegial, o tempo gasto na escola pode ser interpretado como o tempo que gastamos no trabalho, por exemplo).
Além disso, o jogo traz uma frustração constante: é terrível visibilizar como a impunidade existe, e as pessoas boas que prezam pelo bem-estar geral são punidas por tentarem se adequar a um espaço que não pertencem.

Um exemplo de personagem que traz simpatia com o jogador é Makoto Nijima, a presidente do conselho estudantil de Shujin Academy. Polida e sempre séria, a personagem segue à risca todos os pedidos especiais do diretor da escola, mesmo que isso faça ela se sentir mal consigo mesma. Ao mesmo tempo, também pertence a uma família rica, porém ausente e sem presença emocional nenhuma de sua irmã, que é totalmente imersa no trabalho. Conflitos familiares e de relacionamentos na escola ou no trabalho são questões que todos nós passamos, e nunca deixam de ser atuais.
Versão Royal
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A versão Royal adiciona mais um mês (total de 40+ horas de jogo), um desenvolvimento maior de personagens, extensão de diversos cenários com novos inimigos e itens, além da inclusão do conhecido “final verdadeiro”. Não só isso, como a personagem Yoshizawa Kasumi e todo o seu arco de desenvolvimento também são incluídos.
Conclusão

Persona 5 Royal é um clássico moderno que serve como a abertura perfeita para os jogadores que se interessam em entrar no mundo JRPG. Pode ser tanto jogado com uma série, aos poucos e cada vez com mais informações, ou como um jogo de combate em turnos excepcional, que recompensa quem entende suas mecânicas. Além disso, seu enredo e genialidade são atemporais, nos fazendo refletir sobre questões atuais da sociedade e também como desejamos agir frente a cada situação que nos é imposta.
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