Para quem não conhece, o conceito central de jogabilidade da franquia Katamari é rolar uma bola em cima de tudo o que estiver na sua frente e criar uma bola gigante de detritos, objetos, pessoas, prédios e seja lá o que for. E Once Upon a Katamari (site oficial) consegue transformar essa bagunça em algo meditativo, levando você a um estado de fluxo satisfatoriamente tátil, onde aspirar as coisas é tão bom quanto estourar plástico-bolha.

Para os não iniciados, o objetivo principal dos jogos Katamari é simples: role seu katamari (uma palavra japonesa que significa “aglomerado” ou “massa”) sobre objetos menores que ele. Esses objetos grudam na bola, fazendo-a crescer progressivamente, o que, por sua vez, permite que você pegue coisas maiores, começando com tachinhas e formigas e, eventualmente, rolando edifícios e nuvens.
Se parece surreal, certamente é. Combine isso com visuais psicodélicos de baixo polígono que parecem aqueles comerciais japoneses de macarrão instantâneo, além de uma trilha sonora que oscila entre o J-pop açucarado e o funk cósmico e uma história absurda onde um rei extravagante e divino destrói o cosmos e envia você à Terra para transformar coisas cotidianas em novas estrelas para restaurar os céus.
Vamos falar de Once Upon a Katamari e, se você tiver dúvidas, deixe um comentário.
Novidades da Versão
As expectativas eram compreensivelmente altas para este novo jogo da série — o primeiro Katamari em 14 anos. Havia a esperança de que ele resgatasse aquilo que tornou o Katamari Damacy original e sua sequência direta no PlayStation 2 verdadeiros queridinhos da crítica. Afinal, os lançamentos posteriores da franquia, embora divertidos, acabaram mostrando certo desgaste na fórmula e não alcançaram o mesmo nível de aclamação.
Once Upon a Katamari cumpre bem esse papel. O jogo continua exatamente de onde os clássicos do início dos anos 2000 pararam, permanecendo fiel à fórmula central de rolar e acumular objetos, mas com controles mais refinados e uma ênfase renovada na rejogabilidade. Há uma grande variedade de estágios, itens colecionáveis e objetivos, além de novidades que modernizam a experiência sem descaracterizá-la. O resultado é uma verdadeira continuação da série, que preserva seu charme absurdo e inconfundível.
Os jogadores podem escolher entre o clássico esquema de controle analógico duplo — que pode parecer estranho no início, mas se revela preciso com alguma prática — ou o novo modo Simples, que reduz o movimento a um único analógico. A câmera também recebeu melhorias úteis, incluindo uma visão de raio-X para quando o katamari fica oculto por obstáculos, além de atalhos práticos para correr ou reposicionar a bola rapidamente.
Entre as novidades estão os power-ups, chamados de Freebies, que acrescentam pequenas vantagens sem desequilibrar a jogabilidade. O Magnet atrai objetos próximos; o Stopwatch congela o tempo para facilitar a captura de alvos em movimento; o Sonar emite pulsos que revelam itens escondidos; e o Rocket impulsiona o katamari para frente em uma explosão de velocidade. Esses elementos trazem frescor sem comprometer o ritmo característico da série.
Limpando a bagunça do Rei do Cosmos outra vez
Você é o Principe, o filho do Rei dos Cosmos, e seu quarto está uma bagunça. Seu pai manda que você limpe tudo usando seu katamari, para recolher a bagunça e deixar o quarto organizado novamente e, depois que o Príncipe limpa tudo (uma cena que funciona como um tutorial do jogo), eles encontram um estranho e misterioso pergaminho. Como sensatez é uma qualidade que o Rei do Cosmos não tem, ele pega o pergaminho e começa a brincar com ele.

Mas, em uma jogada, o pergaminho vai parar no espaço e suga todo o universo, deixando-o um infinito nada em seu lugar. O Rei do Cosmos então, como uma pessoa bastante irresponsável que é, ordena que você volte no tempo e recolha o máximo de lembranças da Terra possível para que ele possa reconstruir todo o universo. Ele te dá uma nave, a S.S. Prince, para que você possa voltar no tempo e rolar seu katamari em períodos como Japão da era Edo à Grécia Antiga, passando pelo Velho Oeste e pelo Egito antigo.
Desta vez, o jogo leva os jogadores a viajar no tempo por uma variedade de cenários históricos excêntricos da história da Terra. Cada ambiente é repleto de objetos temáticos que podem ser coletados, compondo um mosaico visualmente vibrante e coerente com o estilo technicolor que define Katamari. Os novos power-ups, aliados a controles polidos e à diversidade de locais, tornam Once Upon a Katamari uma continuação fiel, mas com um brilho moderno.
Os níveis são curtos e dinâmicos, variando normalmente entre dois e dez minutos, cada um com um objetivo específico — como atingir determinado tamanho antes que o tempo acabe ou coletar um tipo de item. Os estágios, projetados como dioramas interativos, estão repletos de colecionáveis: dezenas de primos (que podem ser desbloqueados como personagens jogáveis), presentes ocultos e três coroas brilhantes por fase.
A combinação de colecionáveis bem escondidos e variantes de desafio opcionais que remixam os objetivos faz com que cada mapa valha a pena ser revisitado. Há cerca de 50 estágios no total. O modo principal pode ser concluído em torno de 8 a 10 horas, mas os jogadores mais dedicados — os chamados completistas — certamente passarão muitas horas adicionais explorando cada canto e descobrindo todos os segredos.
Entre os níveis, cenas curtas exibem o humor pastelão característico da série, repleto de absurdos cósmicos e diálogos nonsense. Os fãs veteranos reconhecerão instantaneamente o estilo excêntrico do Rei de Todo o Cosmos, embora sua verbosidade possa, às vezes, irritar — especialmente quando a grande caixa de texto ocupa boa parte da tela durante o jogo, criando uma leve sobrecarga visual.
Como em títulos anteriores, há momentos em que o katamari cresce demais em áreas confinadas, ficando preso entre paredes ou obstáculos até encontrar um ângulo de saída. A câmera tenta acompanhar, mas nem sempre consegue; isso pode causar frustração pontual. Ainda assim, essas pequenas imperfeições fazem parte do DNA da franquia e não comprometem significativamente a diversão.
Rolando com Amigos
Once Upon a Katamari também introduz um modo multijogador online chamado Katamari Ball, que funciona como um complemento competitivo e leve, podendo ser jogado tanto contra oponentes humanos quanto contra IA. Nesse modo, até quatro jogadores competem para rolar o maior número de itens em uma arena compartilhada, depositando periodicamente suas coletas em um feixe de luz OVNI para acumular pontos. Sempre que o jogador deposita os itens, seu katamari encolhe novamente, facilitando o controle e criando um ciclo constante de risco e recompensa.

O crescimento do katamari reduz sua velocidade, o que incentiva o jogador a equilibrar momentos de acúmulo e de pontuação. Se o seu katamari for grande o suficiente, é possível bater nos oponentes para ganhar pontos extras. A pontuação final, com categorias de bônus aleatórias, lembra os minijogos caóticos de uma Mario Party, funcionando como um divertido “limpador de paladar” entre as sessões da campanha principal. O único ponto negativo é a ausência de modo cooperativo local (couch co-op), algo que certamente faria falta para quem gosta de jogar no mesmo sofá.
O matchmaking mostrou-se rápido, encontrando partidas com jogadores ao vivo em poucos segundos. A experiência online foi estável e responsiva, sem atrasos perceptíveis nem quedas de conexão — um mérito considerável para um jogo cuja física e colisões em tempo real são essenciais à diversão.
Prós e Contras
Prós
• O primeiro novo Katamari em mais de uma década;
• Toneladas de conteúdo;
• Muitos desbloqueáveis em diversas categorias;
Contras
• Encontrar as coroas é irritante;
• Os elementos da UI bloqueiam a ação;
Veredito
O jogo não tenta construir um novo universo, simplesmente lembra por que enrolar um foi tão divertido em primeiro lugar. Os visuais são vibrantes, a trilha sonora é pura e a jogabilidade acerta aquela mistura perfeita de caos e conforto. É uma sequência que não precisa crescer para se sentir melhor, polindo o que já era uma perfeição cósmica. O Rei ainda é ridículo, o Príncipe ainda é zeloso e o cosmos continua sendo uma bagunça gloriosa esperando para ser refeita.
Se você perdeu a magia excêntrica de Katamari, esse retorno vale absolutamente a pena. E para os recém-chegados, é o lugar perfeito para começar – porque uma vez que você começa a rolar, você nunca mais vai parar.









  
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