Poucos títulos trouxeram uma experiência tão visualmente deslumbrante de mundo aberto quanto Ghost of Tsushima, lançado em 2020 para PlayStation 4 e posteriormente relançado na versão Director’s Cut para PlayStation 5, ampliando a experiência visual do título.
A Ilha de Tsushima parecia viva. Pequenos vilarejos para explorar, aldeões a serem resgatados, fortalezas a serem tomadas e inimigos para derrotar, além das dezenas de segredos ocultos no mapa: fontes termais, armaduras, aprimoramento da lâmina, amuletos para coletar, e outras atividades que faziam a jornada de Jin Sakai ser muito além de apenas resgatar seu povo, mas também de conhecer a sua terra para além dos olhos de um samurai.
Jin, inclusive, era um dos pontos mais fracos de Ghost of Tsushima. A narrativa da trama girava em torno de um estereótipo do código de honra dos Samurais, e como o herói se via obrigado a quebrá-lo, vez por vez, se quisesse ter alguma chance contra o exército invasor, liderado por Khotun Khan
“Mas enquanto você afiava sua espada, sabe como me preparei para hoje? Eu aprendi. Conheci a sua língua... as suas tradições... as suas crenças... quais aldeias domesticar e... quais queimar.”
- Khotun Khan
Seu adversário era formidável, um estrategista sem igual que colocou Jin em cheque no que o herói outrora acreditava, levando-o a um caminho considerado desonroso pelos seus iguais — se significasse salvar o seu povo, ele se tornaria o temido “Fantasma”.
Jin, no entanto, esbarrava demais em seu próprio estereótipo e tornava os personagens secundários mais interessantes do que o protagonistas.
Todos esses elementos, somados, fizeram de Ghost of Tsushima um sucesso aclamado por fãs e pela crítica, considerado um dos jogos mais bonitos da sua época e um dos títulos de mundo aberto mais fascinantes para os fãs de jogos com estética e temas orientais.
Após cinco anos, Ghost of Yōtei chega ao PlayStation 5, e se abordamos as qualidades e os defeitos do título antecessor nesta introdução, é porque a maioria do que se diz de qualidades em Tsushima pode ser encontrado — em versão aprimorada — em Yotei.
Do mundo colorido, vívido e cheio de atividades, do combate desafiador, até a trama, que apesar de não cair nos estereótipos e ter momentos marcantes, ainda se atrapalha em entregar uma protagonista envolvente. Ghost of Yōtei é o mais puro aperfeiçoamento do título da Sucker Punch.
Ficha Técnica
Plataforma: PlayStation 5
Gênero: Mundo Aberto, RPG, Ação
Desenvolvedora: Sucker Punch
Publisher: Sony Interactive Entertainment
Lançamento: 2 de outubro de 2025
Uma nova ilha, um novo opressor, 300 anos de diferença
Ghost of Yotei se passa mais de 300 anos após os eventos de Ghost of Tsushima, durante o começo do Período Edo no Japão em 1603, considerado como uma nova era após a queda dos Toyotami e ascensão de Tokugawa Ieyasu. A trama se passa na região de Ezo, ao redor do Monte Yotei na região de Hokkaido, habitada na época pelo povo Ainu, que sofreu com a opressão do novo regime nos anos seguintes.
Enquanto o novo título aborda parcialmente os temas inerentes às mudanças societais do povo japonês durante este período, Ghost of Yotei é, em essência, a história de uma personagem: Atsu.
Quando jovem, Atsu assistiu ao assassinato da sua família por Lord Saito, líder de um grupo de mercenários conhecidos como Yotei Six. Atsu, empalada em uma árvore em chamas, sobreviveu ao massacre e viajou até o continente principal para lutar a guerra usando a espada forjada pelo seu pai. Agora, de volta ao seu lar, a protagonista dá início à sua última tarefa: vingar-se de cada um dos membros do Yotei Six.
Em sua busca por retribuição, Atsu encontra personagens secundários que a auxiliam em sua missão de assassinar os agora comandantes da região. Alguns, como o Lord Kitamori, entregam boas experiências narrativas que complementam a da protagonista, enquanto outros têm tramas individuais que se dividem entre histórias marcantes e outras potencialmente esquecíveis, mas que ajudam a contextualizar a era em que o título está ambientado.
Atsu é uma personagem mais interessante e relacionável do que Jin Sakai — especialmente porque os dilemas de Jin existiam como dispositivo de enredo para as mecânicas do jogo. A nova protagonista tem propósito, e os diversos momentos em que experimentamos os flashbacks dela com sua família proporcionam boa, mas dolorosa, imersão nas cicatrizes do trauma e do luto da tragédia vivida pela personagem. Por outro lado, a história apresentada e o desenvolvimento dela parecem ambos repetitivos e engessados em tropos recentes de narrativas de games e acabam ofuscando a personalidade da protagonista, repetindo, de maneira diferente, o mesmo erro que Ghost of Tsushima fez com Sakai.
Um Pouco Mais de Vida

Da maneira como o vento move as folhas, a interação de Atsu com o ambiente, ou a iluminação do sol refletido nas densas florestas de algumas regiões, Ghost of Yotei é um espetáculo visual do começo ao fim. O mundo parece denso, vívido, e o uso ostensivo do áudio 3D em headsets cria uma atmosfera imersiva, capaz de fazer jogadores se perderem durante horas explorando cada canto em busca de uma nova paisagem e/ou de um segredo ainda inexplorado.
Há também mais vida na exploração. NPCs contam mais detalhes sobre os seus alvos ou sobre tesouros e regiões desconhecidas. Missões secundárias permitem acampar com outros viajantes e até negociar itens com eles, além do uso exemplar das funções do DualSense para atividades mundanas como acender fogueiras e cozinhar, ou também para tocar o icônico shamisen que Atsu carrega.
A maioria das atividades secundárias não se diferencia tanto do que vimos em Ghost of Tsushima e falta um pouco de inovação. Ainda seguimos pistas de pássaros e raposas, adentramos em fontes termais e meditamos em templos para obter recompensas, mas outras se destacam: enquanto os duelos faziam parte do título anterior, Ghost of Yotei amplia a quantidade deles com caças a recompensas que garantem mais recursos para Atsu e mais desafios para o jogador.
Combate é, novamente, o grande destaque
O combate oferece uma boa mescla de oportunidade e recompensa por timing preciso dos botões para cada ação entre atacar, desequilibrar, bloquear, desviar e evitar determinados golpes letais, que incluem a novidade de inimigos desarmarem Atsu e colocá-la em ampla desvantagem na batalha.
Por conta desse consequencialismo mais amplo, a necessidade dos timings se tornou ainda maior. Mesmo reutilizando quase todos os sistemas, Ghost of Yotei nos entrega uma protagonista que luta consideravelmente diferente de Sakai, inclusive na escolha de armas, onde utilizar mais espadas significa lidar com um tipo específico de adversário, enquanto outra arma lida com inimigos mais robustos, e uma única espada contra oponentes que também lutam com apenas uma mão.
A adição de novas armas vem acompanhada de um sistema de customização mais profundo e complexo, mas que não oferece liberdade demais ao ponto de criar dezenas de builds distintas em runs diferentes. Uma escolha de builds amplificada daria mais rejogabilidade, mas talvez tornaria o sistema um pouco complicado demais ao ponto de afastar audiências mais fiéis.
Veredito
Ghost of Yotei é, em essência, um título feito para aprimorar tudo o que tornou Ghost of Tsushima tão amado na geração passada. A exploração de mundo, combate e outros aspectos de gameplay foram ampliados, melhorados ou recriados para dar maior profundidade, mas segurando-se um pouco demais nas raízes ao ponto de se aventurar pouco na ousadia.
A história, por um lado, é bem elaborada e menos estereotipada do que a do antecessor, com Atsu sendo uma personagem mais marcante do que Jin Sakai, ainda que existam falhas inerentes de repetir tropos utilizados em outras narrativas recentes. Apesar disso, há claras qualidades na personagem e no desenvolvimento da trama que merecem ser destacados e experimentados, estando a par do que encontramos em outros jogos Triple A.
É um ótimo jogo para quem deseja uma aventura de mundo aberto rica em detalhes, com gameplay engajadora e dezenas de horas de atividades, mas não espere grandes mudanças quando comparado com o jogo antecessor. Se você gostou de Ghost of Tsushima, este é um jogo para você; do contrário, será difícil encontrar algo em Yotei que justifique explorar o segundo título da série.
NOTA: 8.5
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