O Universo Control Ganha Vida Cooperativa
FBC: Firebreak surge como um retorno do universo de Control, transportando jogadores de volta à Casa Antiga, sede da Federal Bureau of Control (FBC). Desta vez, a perspectiva muda, em vez de uma protagonista poderosa como Jesse Faden, encarnamos voluntários, funcionários transformados em agentes de campo, enfrentando uma crise paranormal sem fim. Desenvolvido pela Remedy Entertainment, este spin-off cooperativo promete combinações, criatividade tática e a estética que consagrou a franquia. Nesta análise, vamos ver se essa fórmula cosegue resistir ao calor do combate cooperativo.
Premissa e Contexto: O Cerco Interminável
Situado seis anos após os eventos de Control, o jogo apresenta a Casa Antiga ainda sob cerco das forças Hiss, com saídas seladas e recursos escassos. A premissa é simples, entidades paranormais escaparam, os protocolos de segurança falharam. Os jogadores integram a unidade Firebreak, um grupo de resposta a crises formado por voluntários desesperados (secretárias, gerentes, guardas florestais) que usam armas improvisadas e ferramentas alteradas para conter as anomalias.
Em torno dessa tensão, precisamos manter a ordem a qualquer custo, mesmo que isso signifique sacrificar inocentes ou destruir completamente alas inteiras da instalação. O jogo se foca na ação imediata em vez de uma trama. Para os fãs de Control, é uma expansão do universo; para os novatos, uma porta de entrada diferente, mas que pode funcionar bem.

Narrativa Fragmentada e Envolvente
Firebreak não entrega sua história de forma linear. Como Control, grande parte do enredo é descoberta através de documentos, áudios e registros espalhados pelas instalações.
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Os temas vão desde poder institucional, perda de identidade e o embate entre ciência e o inexplicável. Em muitas missões, surgem escolhas morais difíceis, salvar uma unidade civil que pode estar contaminada ou cumprir ordens? Investigar um fenômeno estranho ou destruí-lo antes que contamine a ala vizinha?
Essas decisões vão moldando a narrativa, o rumo das missões e a moral da equipe. É possível terminar o jogo com um esquadrão forte ou com sobreviventes traumatizados, questionando suas próprias ações.
Visual e Design: O Estilo do Inexplicável
Esteticamente, FBC: Firebreak tem um estilo visual que mistura arquitetura brutalista, com paletas frias e efeitos de luz que simulam interferências visuais. O design das instalações da FBC nos remete a um lugar sobrenatural onde o concreto é mais confiável que as leis da física.
O trabalho artístico do jogo é minimalista, mas muito impactante. Cada corredor, sala de monitoramento ou ala de contenção parece ter uma história própria, como se algo tivesse acontecido ali e esses detalhes são muitas vezes contados apenas por detalhes visuais como sangue em padrões geométricos, mensagens rabiscadas nas paredes, ou câmeras que seguem os agentes silenciosamente.
A interface é limpa e funciona muito bem, com uma estética que reforça o clima de vigilância constante. Os menus lembram arquivos secretos de uma organização governamental (essa parte me lembrou muito o seriado X-Files), com pastas, etiquetas e códigos alfanuméricos, tudo lembra à burocracia sufocante da FBC.

Som e Atmosfera: O Terror do Silêncio
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O design de som é impécável, o jogo sabe como usar o silêncio de forma magistral. Momentos de muita calmaria são quebrados por ruídos distantes, estática em rádios, gritos abafados ou sons inexplicáveis vindos de salas lacradas. A trilha sonora é quase inexistente em muitos momentos, substituída por ruídos ambientes que aumentam a tensão (jogar com fones de ouvido vai aumentar muito sua imersão).
Quando a música entra em cena, é sempre para enfatizar um momento de perigo real, um combate intenso, uma ameaça que se libertou ou a perda de um agente. O áudio nos transmite uma sensação de constante paranoia.
Gameplay: Caos Cooperativo com Crises Criativas
FBC: Firebreak pode ser descrito como uma fusão entre XCOM, Door Kickers e Desperados III, com um toque sobrenatural. Comandando uma pequena unidade por meio de mapas em tempo real com pausas táticas. É possível planejar rotas, usar habilidades especiais, coordenar entradas sincronizadas em salas e interagir com diversos elementos do cenário. O diferencial é o foco em ambientes internos e fechados, o que exige atenção constante com armadilhas, dispositivos eletrônicos e portas trancadas.
A IA dos inimigos é muito competente e imprevisível. Entidades paranormais, soldados contaminados e outras ameaças forçam o jogador a repensar suas estratégias. Um simples erro de posicionamento pode custar a vida de um agente ou, pior, a propagação de uma anomalia incontrolável.
O destaque vai para o sistema de propagação de incêndio e destruição, que dá nome ao jogo. Incêndios se espalham rapidamente, reagindo a objetos, materiais e até fluxos de ar. O jogador precisará pensar em como eliminar uma ameaça e em como conter os danos colaterais.
Além disso, o jogo nos força a gerenciar recursos e consequências. Os agentes podem sofrer traumas psicológicos, desenvolver condições mentais ao longo do tempo e até se voltar contra a equipe. Decisões tomadas em uma missão podem ter impacto direto na próxima, criando uma sensação de continuidade e peso que raramente vi em jogos do gênero.

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Missões e Objetivos
A ideia central de Firebreak está em seus "Jobsites", missões que podem ser repetidas com objetivos variados, desde destruir 15.000 post-its paranormais até desativar fornalhas radioativas. Cada missão se divide em três Níveis de Autorização (Clearance Levels), que vão aumentando sua complexidade e duração:
- Nível 1: Missões curtas (<5 minutos), são focadas em tarefas mecânicas (ex.: reparar geradores).
- Nível 2: Duração média (10 minutos), com mais combate.
- Nível 3: Experiência completa (25-40 minutos), incluindo chefes e efeitos de "Corrupção" que alteram regras (ex.: gravidade reduzida, inimigos super-rápidos).
Combate e Inimigos: Criatividade com Contraste
O combate contra os Hiss varia de funcionários possuídos a anomalias absurdas (ex.: um chefe feito de post-its chamado "Sticky Ricky"). A variedade de inimigos é limitada, mas os designs bizarros compensam essa falha. Tambores malignos, kits de bateria voadores e "fantasmas de escritório" flutuantes roubam a cena.
As armas convencionais são o problema do jogo, escopetas e rifles têm um impacto grande, mas as SMGs e fuzis são sem graça e exigem upgrades caros para se tornarem viáveis e emocionantes. A profundidade do combate vem das combinações elementais, que são: extinguir chamas com água e depois eletrocutar poças, assim criarão armadilhas letais, um sistema que recompensa muito se o jogador tiver criatividade.
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Multiplayer e Durabilidade
Com apenas cinco Jobsites no lançamento, a repetição de jogo é grande e pode ser um problema. Missões de Nível 1-2 se tornam rapidamente monótonas e o ponto alto de cada mapa (Nível 3) é ótimo, porém passam rápido. A adição de modificadores de Corrupção (ex.: um tambor que acelera inimigos) ajuda, mas só estão disponíveis no Nível 3.
Ainda assim, momentos bons em coop surgem quando a comunicação flui bem. Reviver um aliado sob fogo, combinar habilidades para criar uma tempestade de lava, ou fugir de um elevador sob ataque criam momentos impactantes e podem gerar vários memes entre amigos.

Progressão e Customização: Grind e Burocracia
A progressão em Firebreak é baseada em Lost Assets, moeda obtida ao concluir tarefas e recuperar "documentos perdidos". Infelizmente, o sistema sofre com o excesso:
- Requisitions Menu: Desbloqueia armas, perks e aumentos via páginas coletadas (estilo battle pass).
- Upgrades Interativos: Armas e perks exigem múltiplos níveis de investimento.
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- Bloqueio Artificial: Kits começam incompletos. Ferramentas essenciais como o BOOMbox (Jump Kit) precisam ser desbloqueadas.
O resultado é uma curva de aprendizado lenta, com missões iniciais simples e sem graça, algo que jogadores casuais podem querer abandonar o jogo antes de acessar o conteúdo de alto nível (como a Submachine Gun "Functional").

Desafios e Limitações
Apesar dos méritos, FBC: Firebreak ainda não está perfeito. A curva de aprendizado é muito íngreme, com quase nenhum tutorial, algo que atrapalha, pois vamos aprendendo na tentativa e erro. Jogadores novos vão se sentir perdidos nas primeiras horas (demorei bastante para entender as lógicas do jogo), especialmente com tantas mecânicas interconectadas.
Além disso, o sistema de pausa tática, embora muito bom e poderoso, se torna confuso em missões mais corridas e com ação frenética. Quando várias ameaças estão em movimento e incêndios se espalhando, o gerenciamento é difícil e deixa o jogador estressado.
A repetição de ambientes, embora seja coerente com a proposta de arquitetura da FBC, pode cansar visualmente após muitas sessões de jogo. O que salva aqui é a diversidade de situações e ameaças que compensam nesse aspecto.

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Prós e Contras
Prós
- A ambientação é imersiva, os combate elementais são criativos e momentos cooperativos são épicos.
- Fãs de Control que querem explorar a Casa Antiga sob nova ótica.
- Grupos que buscam um Left 4 Dead com sabor burocrático-absurdo.
- Jogadores de Game Pass/PS Plus (disponível day-one).
Contras
- A progressão é lenta, as armas são muito desbalanceadas, os Jobsites são repetitivos e o tom do jogo é incoerente com Control.
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- Não há modo single-player viável.
- Quem busca narrativa profunda: O foco é ação, não história.
- Jogadores casuais: O grind inicial pode desanimar.

Conclusão: O Controle é uma Ilusão
FBC: Firebreak é um ótimo jogo no cenário atual dos jogos táticos. Sua proposta é muito boa, a atmosfera e mecânicas criativas oferecem uma experiência intensa para quem aprecia planejamento, desafio e um bom mistério sobrenatural.
Não é um jogo fácil e nem feito para todos, talvez exatamente seja isso que o torna especial. Se você busca um jogo que desafia suas habilidades estratégicas enquanto vive uma história de ficção científica perturbadora, FBC: Firebreak deve estar no topo da sua lista. Ele oferece diversão caótica para grupos que queiram superar a curva de aprendizado.
Embora falte polimento na progressão e variedade, a Remedy prometeu evolução, especialmente com dois Jobsites adicionais anunciados ainda para 2025. Talvez com esses e mais outros updates, o jogo poderá se tornar algo essencial para jogos coop.
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