Este artigo possui spoilers de Final Fantasy VII Rebirth
O The Game Awards se aproxima. A maior premiação de games do ano ocorre no próximo dia 12 de dezembro e elenca os melhores títulos lançados em 2024, trilhas sonoras, atuação, entre outros detalhes que evidenciam os destaques da indústria este ano.
O prêmio mais aguardado e mais cobiçado do evento é o Jogo do Ano, ou seja, o melhor jogo lançado em 2024. Os candidatos desta edição incluem o destaque da Sony com Astro Bot, o título de ação Black Myth Wukong, o indie Balatro, a expansão de Elden Ring Shadow of the Erdtree, a surpresa da Atlus nos RPGs, Metaphor: ReFantazio e o segundo episódio da trilogia do Remake de Final Fantasy VII, Final Fantasy VII: Rebirth.
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FFVII Rebirth é um dos favoritos a ganhar o prêmio de acordo com os fãs de RPG e JRPGs, mas o caminho se prova um desafio: o Golden Joystick Awards nomeou Black Myth Wukong como Jogo do Ano, e os demais títulos que concorrem, exceto pela surpresa com Balatro, tem métricas de reviews dos críticos superiores aos do título da Square Enix.
Mas afinal, ele merece ser o Jogo do Ano? Quais qualidades e defeitos Rebirth possui que podem, de fato, colocá-lo como o melhor título de 2024 ou tirar dele a honra de ser o primeiro jogo da franquia, que já foi nomeado outras vezes, a receber este prêmio com seu projeto mais ambicioso?
Confira neste artigo os motivos pelos quais Final Fantasy VII Rebirth merece ser o Jogo do Ano de 2024, e quais motivos podem, no fim, fazer com que ele perca o prêmio!
Porque FFVII Rebirth merece ganhar o Jogo Do Ano
Revitalizando um clássico para novas gerações
Porque FFVII Rebirth pode não ganhar o jogo do ano
Design de mundo aberto datado
O mundo de FFVII Rebirth é incrível, visualmente agradável, com um design de mapas e níveis fascinantes… mas deixa muito a desejar em apresentar um mundo aberto empolgante ao centralizar sua exploração em um sistema datado em mais de uma década.
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A fórmula utilizada é a mesma que ficou conhecida nos jogos da Ubisoft. O exemplo mais famoso é o Eagle Vision da franquia Assassin’s Creed: o personagem move-se até um ponto alto onde tem uma vista panorâmica da região onde ele está, abrindo uma visão ampliada do mapa com marcadores que indicam pontos de interesse, como tesouros para coletar e missões secundárias.
Por um lado, essa fórmula “guia” o jogador pelas missões secundárias, o que o ajuda a não se perder e/ou acabar perdendo itens e outros segredos porque não encontrou o lugar indicado. Por outro, isso remove qualquer senso de descoberta por parte do interlocutor: ao invés dele explorar o mundo, ele olhará para o mapa em busca da próxima torre que mostrará os próximos objetivos, tecnicamente fazendo-o ir de “Ponto A” para “Ponto B” ao invés de investir seu tempo em explorar a região e conhecer seus segredos.
Esse problema também se reflete em algumas atividades secundárias: por focar demais em Chadley como seu guia no mundo aberto, Rebirth não traz aquela sensação de descoberta ao encontrar o santuário de um Summon, por exemplo. Ao invés, ele te faz repetir as mesmas atividades em cada mapa para obter os mesmos resultados, sendo empolgante na primeira vez, mas tedioso na terceira.
Problemas de ritmo
A história, como apontada acima, é uma das tramas mais emocionantes dos games da atualidade e manteve todo o impacto narrativo da trama do jogo original em 1997, mas ela também esbarra em um problema quase crônico de JRPGs como um todo: ritmo.
Seja porque há uma sequência de eventos que parecem feitas para prolongar o jogo e/ou que soam como um enorme filler, Final Fantasy é uma franquia cuja parte da história é capaz de desinteressar jogadores e os fazer correr para o próximo capítulo. Ocorre com FFVI, com FFVIII, e até mais recentemente com FFXVI. Rebirth não seria uma exceção - mas ele tem um pouco demais desses momentos.

A maioria das vezes em que FFVII Rebirth trava o progresso do jogador com algo que quebra inteiramente o ritmo da trama, ele o faz com minigames. Não diferente do original, este título não tem medo de parecer bobo por vezes: precisa subir um enorme pilar? Que tal fazê-lo sendo lançado por um golfinho?
Mas não são apenas nesses minigames que o jogo se estende demais: até em momentos famosos da história do original, ele por vezes expande a história mais do que deveria ao ponto de criar uma narrativa ruim. Toda a sequência da Prisão de Corel sofre com esse excesso, inclusive removendo quase toda a importância narrativa daquele momento para Barret ao incluir um boss indesejado logo após seu fatídico reencontro com Dyne.
O resultado é um misto entre momentos de empolgação em estar jogando um dos melhores games de todos os tempos e outros onde o interlocutor só quer que aquela sequência acabe e passe para a próxima. Insira algumas atividades frustrantes de completar para alguns na equação e você cria um divisor de águas entre FFVII Rebirth ser um bom jogo e ele ser o Jogo do Ano.
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Ele não foi o Melhor RPG de 2024
Se me perguntassem qual foi o melhor jogo de 2024, minha resposta seria Final Fantasy VII Rebirth. Mas se me perguntassem qual foi o melhor RPG, seria Metaphor: ReFantazio.

Rebirth é um jogo muito mais completo e esteticamente agradável, com um sistema de combate mais empolgante e uma história capaz de arrancar gargalhadas, lágrimas e diversos outros sentimentos do seu interlocutor de uma maneira que o título da Atlus não consegue, mas Metaphor é, em muitos pontos, um RPG melhor - e não há nada de errado nisso: não é que FFVII seja um jogo ruim, é que a Atlus é muito boa em produzir RPGs.
Por exemplo, apesar da alta variedade de jogos disponíveis no PlayStation 4 com títulos como The Witcher 3, Dragon Age: Inquisition, Cyberpunk 2077, Yakuza: Like a Dragon e Final Fantasy VII Remake, é provável que a comunidade de RPGs e especialmente de JRPGs nomeasse Persona 5 / Persona 5 Royal como o melhor título do gênero na plataforma. O produto entregue pela Atlus é bem sólido, emocionante, com personagens que marcaram e com os quais os jogadores se identificam e com a dose certa entre desafio e aproveitamento.
Metaphor segue moldes semelhantes, mas com temas de fantasia mais engessados em um mundo fictício enquanto se inspira muito nos jogos clássicos do gênero: o sistema de arquétipos remete muito ás Jobs de Final Fantasy, seu sistema de pedra-papel-tesoura é um clássico das obras da Atlus e a sua narrativa, que discute sobre se a democracia é um desejo utópico, soa como um clássico literário, tornando-o uma experiência de RPG mais sólida do que Rebirth, com todas as suas qualidades e sendo uma experiência de jogo melhor.
A dúvida é se, com ambos competindo pelo título, o fato de Metaphor ser um produto mais sólido no seu gênero lhe dá mais pontos como potencial jogo do ano do que FFVII Rebirth, que abraça uma demografia mais ampla de jogadores e com talvez a visão mais ambiciosa que a franquia já teve.
Final Fantasy VII Rebirth vai ganhar o prêmio Jogo do Ano?
A resposta depende de uma dúzia de fatores. Não houve outro jogo em 2024 que fosse tão ambicioso quanto FFVII Rebirth, no entanto, este também é o motivo pelo qual ele pode perder esse título para outro jogo: de todos os candidatos deste ano no The Game Awards, ele é o único que não surpreendeu positivamente o seu público - ou ele foi conforme esperado, ou ele desapontou de alguma maneira.
Outro desafio para Rebirth é que três dos demais candidatos pelo prêmio são os jogos mais bem-avaliados deste ano: Astro Bot, Metaphor: ReFantazio e a expansão de Elden Ring, Shadow of the Erdtree (uma escolha controversa, mas aplicável). No início do 2024, ele era dado como o claro Jogo do Ano, mas conforme outros títulos foram lançados, ele perdeu essa posição de hegemonia e nem foi por alguns dos jogos que eram esperados competirem com ele - e no Golden Joystick Awards, ele perdeu o título para Black Myth Wukong.
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No entanto, Final Fantasy VII Rebirth tem todas as qualidades de um Jogo do Ano. Nenhum título ganhador do prêmio agradou todo o público e até The Legend of Zelda: Breath of the Wild teve os seus tropeços que foram apontados pelos fãs da série. Então, apesar do score mais baixo nas métricas, não podemos ignorar a experiência completa e abrangente que o jogo traz ao interlocutor e que, tal qual o seu predecessor, o colocou como um dos indicados ao prêmio mais importante dos videogames do ano.
Particularmente, ele será o jogo do ano para mim. Não importa se Metaphor: ReFantazio foi um RPG melhor, se Astro Bot é um passatempo mais divertido e relaxante, se Shadow of the Erdtree tem um impacto cultural tão grande quanto, e nem preciso mencionar, como um entusiasta de card games, o quão empolgante é ver Balatro como um dos candidatos - Final Fantasy VII Rebirth teve uma dedicação afetiva que é difícil encontrar em outros jogos, e nenhum dos demais títulos que joguei em 2024 chegaram perto de me fazer rir, me emocionar e me divertir com os personagens e com a história como fiz com esse título.
Obrigado pela leitura!
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