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BGS 2025: Naoki Hamaguchi e o desafio de reconstruir Final Fantasy VII

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O diretor de Final Fantasy VII Rebirth, Naoki Hamaguchi, é uma das principais atrações da Brasil Game Show 2025. Neste artigo, conheça um pouco mais da visão do diretor e a trajetória do projeto de reconstruir um dos maiores RPGs da indústria

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revisado por Romeu

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Como recriar a perfeição? Essa é a pergunta que acompanha desenvolvedores sempre que uma obra consagrada volta ao centro das atenções. Final Fantasy VII é um marco cultural, um símbolo da ascensão do RPG japonês no Ocidente e, para muitos, o título que consolidou o PlayStation como um gigante da indústria. Revisitar um clássico desse porte é assumir riscos colossais. Errar pode significar manchar um legado de décadas. Acertar, por outro lado, pode definir uma nova era da série para muitas gerações.

Lançado em 1997, Final Fantasy VII representou uma revolução do gênero RPG. Foi o primeiro título da franquia a chegar ao PlayStation, abandonando a parceria histórica da Square com a Nintendo. Essa mudança trouxe vantagens técnicas, já que os CDs do console da Sony ofereciam muito mais espaço do que os cartuchos do Nintendo 64. Isso permitiu a inserção de cutscenes em CG, trilha sonora expandida e uma história de escala cinematográfica.

A aposta deu certo. O jogo vendeu mais de 10 milhões de cópias, se tornou o RPG japonês mais popular no Ocidente e marcou gerações com personagens icônicos como Cloud, Tifa, Barret, Aerith e o vilão Sephiroth. Seu enredo ajudou a elevar a percepção de que videogames poderiam contar histórias profundas e inspirou dezenas de títulos que tentavam recriar alguns tropos narrativos estabelecidos pela obra.

Em meados dos anos 2000, um vídeo técnico mostrando Cloud em gráficos de PlayStation 3 inflamou os fãs e, desde então, os pedidos por um remake nunca cessaram. Foi apenas em 2015, durante a E3, que o anúncio oficial veio à tona. A plateia vibrou como poucas vezes visto na história do evento.

O trailer trazia a frase: “a reunião pode trazer felicidade, medo, mas devemos abraçar o que ela trouxer”. Era um presságio. A Square Enix pretendia ir muito além de apenas atualizar os gráficos: planejava reconstruir Final Fantasy VII em uma trilogia, dividindo a narrativa em episódios completos, cada um com novas interpretações.

Midgar como Nunca Antes

A reinterpretação começaria a ser revelada em abril de 2020, em plena pandemia de Covid-19. Final Fantasy VII Remake reimaginou a cidade de Midgar, onde o jogo original passava apenas duas ou três horas. Agora, ela se tornava um mundo vivo, rico em detalhes e capaz de ocupar 30 a 40 horas de gameplay.

Imagem: Square Enix / Divulgação
Imagem: Square Enix / Divulgação

O formato era mais linear, dividido em capítulos, mas aproveitava a estrutura para explorar personagens e tramas secundárias. NPCs ganharam vida própria, setores da cidade foram expandidos e até minigames ajudaram a enriquecer a experiência, transformando a cidade em seu próprio mundo contido.

Na época, o combate foi um dos maiores focos de debate. O sistema híbrido unia ação em tempo real com o clássico ATB, no qual cada ataque básico recarregava barras que permitiam usar magias, itens e habilidades especiais.

O sistema respeita a tradição e legado de FFVII, ao mesmo tempo em que dialoga com novas audiências. Hoje, diversos fãs o apontam como o combate ideal para o futuro da franquia, elogiando-o por mesclar os elementos de ação com ampla customização e combate tático, com manuseio consciente de recursos. Apesar das críticas iniciais, ficou evidente que a Square Enix aprendeu com as falhas do sistema de batalha em tempo real do jogo anterior, Final Fantasy XV, e a recepção logo se consolidou como positiva.

Na narrativa, o jogo ousou ainda mais. Além de expandir diálogos e aprofundar os protagonistas, introduziu os enigmáticos Sussurros, figuras que parecem personificar o “destino” e funcionam como guardiões da linha original do enredo. O recurso permitiu mudanças inesperadas e deixou claro: não estávamos diante de um simples remake.

O Salto para o Mundo Aberto

No fim de fevereiro de 2024, Final Fantasy VII Rebirth ampliou essa proposta. A história seguia a saída de Midgar até o icônico final do primeiro disco do jogo de 1997, incluindo um dos momentos mais impactantes da história dos videogames e aprofundando a narrativa em níveis nunca antes vistos.

Imagem: Square Enix / Divulgação
Imagem: Square Enix / Divulgação

A mudança mais visível foi estrutural: corredores e cenários fechados deram lugar a um mundo aberto vibrante. Diversas regiões, com fauna, flora e inimigos distintos, se conectavam a uma lista extensa de atividades secundárias. O jogo oferecia minigames — desde competições de chocobos até jogos de cartas (meu favorito!) e puzzles.

Alguns consideraram a exploração extensa demais, desfocada ao ponto de dispersar a narrativa principal. Outros celebraram a sensação de imersão e a possibilidade de personalizar a experiência: seguir direto para a trama ou gastar dezenas de horas em atividades paralelas que garantiam rejogabilidade.

No combate, Rebirth evoluiu o sistema do jogo anterior. A introdução das habilidades em dupla trouxe novas estratégias, permitindo combinações entre personagens que reforçavam não apenas a jogabilidade, mas também o tema central de “laços”.

Naoki Hamaguchi: A mente por trás de reconstruir Final Fantasy VII

Reprodução: PlayStation
Reprodução: PlayStation

É aqui que entra Naoki Hamaguchi. Inspirado por Final Fantasy VI, ele se formou em 2003 e logo ingressou na Square Enix. Trabalhou em Final Fantasy XII, participou da programação de toda a trilogia de Final Fantasy XIII e assumiu o projeto mobile Mobius Final Fantasy. Seu envolvimento com o remake foi gradual. Em 2019, tornou-se co-diretor ao lado do lendário Tetsuya Nomura. Dois anos depois, quando Nomura decidiu se concentrar em outros projetos e permanecer apenas como diretor criativo, Hamaguchi assumiu de vez a direção da trilogia.

Em entrevista para a PlayStation, ele destacou a importância de uma ideia central simples e unificadora. Em Rebirth, essa ideia foi “laços”. O conceito guiou desde a narrativa até o combate, permitindo que uma equipe de centenas de profissionais trabalhasse em sintonia.

Essa abordagem também aparece na forma como ele valoriza a colaboração. Hamaguchi costuma enfatizar a necessidade de criar uma versão jogável rapidamente, mesmo que imperfeita, para que toda a equipe compartilhe uma visão concreta. O refinamento vem depois. Essa filosofia, segundo ele, é o que permite lidar com projetos tão massivos sem perder coesão.

Outro pilar de sua visão é a mentalidade globalizada. Nos anos 1990, Final Fantasy VII foi criado primeiro para o público japonês, só depois adaptado ao Ocidente. Hoje, o cenário é diferente: os jogos já nascem com foco mundial e exigem localizações mais cuidadosas, que equilibram fidelidade ao texto original e adaptações culturais.

Para Hamaguchi, esse processo é parte do que torna um título AAA relevante no mercado atual. Ele enxerga o reconhecimento internacional — inclusive por meio de prêmios — como validação desse esforço e incentiva novos criadores a expandirem horizontes e competirem globalmente.

Na Tokyo Game Show de 2025, Hamaguchi explicou que o objetivo não é reescrever, mas reconstruir Final Fantasy VII, demonstrando que o respeito ao material original está sempre presente, mas com abertura para mudanças estruturais e criativas que mantenham o interesse até mesmo dos fãs mais antigos.

O Desafio da Conclusão Épica

Agora, Hamaguchi encara o desafio final: concluir a trilogia. Poucos detalhes foram revelados, mas o diretor já adiantou, na Tokyo Game Show 2025, que o jogo reunirá todas as tramas abertas até agora em um clímax épico.

“Para a terceira e última parte, atualmente em desenvolvimento, estamos trabalhando para reunir todas as histórias contadas em um clímax épico que deixará uma impressão duradoura nos jogadores.”

- Naoki Hamaguchi

A tarefa não é simples. Do ponto em que Rebirth termina, o enredo do original se expande com novos continentes, veículos de exploração, batalhas colossais e revelações que redefinem a jornada de Cloud.

Resta a dúvida: o último capítulo seguirá a linearidade do primeiro, a liberdade do segundo, buscará uma fusão dos dois estilos, ou tentará estabelecer seu próprio gênero e criar, para cada título, uma experiência distinta para o jogador?

Naoki Hamaguchi na BGS 2025

Enquanto o futuro não chega, os fãs brasileiros terão uma oportunidade única: conhecer Hamaguchi pessoalmente. O diretor será uma das atrações da Brasil Game Show 2025, em São Paulo. Ele participará de sessões de Meet & Greet nos dias 10 e 11 de outubro e integrará o BGS Talks, compartilhando sua visão do processo de reconstrução de Final Fantasy VII.

É a chance de ouvir diretamente de um dos principais nomes da indústria como se constrói — e se reinventa — uma das maiores histórias já contadas nos videogames.