RPG

Opinion

The Game Awards: Clair Obscur: Expedition 33 merece ganhar o Jogo do Ano

, 0Comment Regular Solid icon0Comment iconComment iconComment iconComment icon

De todos os indicados ao Game of the Year de 2025, Clair Obscur: Expedition 33 é o franco favorito em um ano que possui títulos como Death Stranding 2 e Hollow Knight: Silksong entre os candidatos, e neste artigo, explicamos como o pioneiro da Sandfall se tornou o jogo mais aclamado de 2025

Writer image

revised by Romeu

Edit Article

Há algo relativamente raro acontecendo na indústria dos games com Clair Obscur: Expedition 33. Além da recepção calorosa, o entusiasmo repentino de jogadores que sequer tinham o título no radar antes do lançamento, e impressiona a velocidade com que o jogo da Sandfall Interactive ascendeu ao panteão das desenvolvedoras de games mais respeitadas da atualidade.

Seu “JRPG francês” desafiou um gênero dominado por décadas pela tradição japonesa e criou uma obra que consegue desafiar os padrões dos RPGs modernos orientados em ação enquanto estabelece sua própria fórmula de um “RPG de turno”, criando um espaço próprio no cenário contemporâneo que foi, como demonstrado pelo encontro de diversos desenvolvedores com a Sandfall, tomado de exemplo pela indústria.

Em um ano em que Death Stranding 2, Kingdom Come: Deliverance II e até Hollow Knight: Silksong disputam a atenção coletiva, ninguém, no início de 2025, esperava que o estreante Expedition 33 entrasse no topo da lista de favoritos para ganhar o Game of the Year. Porém, quando se observa atentamente o que o jogo faz — e como faz — fica evidente que há a marca de algo especial.

Com a noite da premiação agendada para 11 de dezembro às 21:30, discutimos os principais elementos que colocam Clair Obscur: Expedition 33 como o candidato favorito ao prêmio de Jogo do Ano no The Game Awards, e os obstáculos que podem tomar dele a estatueta mais cobiçada do universo dos videogames.

Por que Clair Obscur: Expedition 33 merece o prêmio Jogo do Ano no The Game Awards

A construção estética do mundo

Expedition 33 é um prato cheio em experiência estética. A Paris distorcida serve como cenário para a jornada que dialoga com o surrealismo e o expressionismo europeu, inundado de uma elegância sombria que permeia cada ângulo de um mundo engolido por isolamento e melancolia.

Image content of the Website

A força visual de Clair Obscur também comunica-se com a atmosfera narrativa do título — o destino inevitável diante dos olhos de Lumiere para cada número desenhado pela Pintora, a hostilidade das criaturas em um mundo desolado, mas visualmente deslumbrante, até o sentimento de desolação que os diversos plot twists do enredo proporcionam; tudo é intensificado por um mundo que parece prestes a se desfazer, mas que ainda é visualmente deslumbrante do início ao fim.

É difícil encontrar outro concorrente ao GOTY este ano que ofereça algo semelhante. Death Stranding 2 certamente tem sua fotografia autoral com um elenco de colocar inveja em qualquer blockbuster hollywoodiano, Silksong mantém sua assinatura artística, e Kingdom Come II tem como principal atrativo o realismo histórico, mas nenhum deles carrega esse tipo de expressão igualmente desolador e repleto de cores como E33 fez.

Reinventando o mais clássico dos combates

Image content of the Website

Se o visual é o elemento que captura a imaginação, o combate é o que prende o jogador no controle. E talvez seja aqui que Clair Obscure revela seu maior triunfo: renovar conceitos consagrados sem transformá-los em um exercício de nostalgia envernizada.

Expedition 33 adota as bases do JRPG por turnos, outrora marca registrada de títulos como Final Fantasy, mas as reinterpreta com uma estética moderna, mesclando escolhas estratégicas com precisão de aperto de botões — mecânica que parece herdada do clássico Legend of Dragoon, de PlayStation One — e um apelo sensorial que remete aos jogos de ritmo, onde saber identificar o timing entre animação, som e movimento dos inimigos é a melhor fórmula para masterizar o combate.

Operar dentro da linguagem do JRPG clássico, mesmo não se encaixando dentro do “J” do gênero, e com inovação suficiente para deslocar as regras históricas dos famosos sistemas de combate em turnos é também deixar comprovado que existe, sim, um mercado para esse estilo mesmo quando diversos jogos consagrados moveram-se para o combate em tempo real, enquanto a Sandfall Interactive carregou o desafio de dobrar a aposta no sistema em seu primeiro lançamento, mesmo sem ter a estética mais comum dentre obras desse gênero.

Uma narrativa honesta sobre um tema difícil

Embora o enredo central dialogue com a resistência diante de um destino supostamente inevitável, o verdadeiro tema de Expedition 33 é a relação do indivíduo com o luto, um dos sentimentos mais complexos e difíceis de manusear da existência humana.

Image content of the Website

O universo de Clair Obscur é repleto de luto desde os primeiros dez minutos: a força motivadora que engaja o jogador à obra vem do sentimento de perda de Gustave logo no início, e quando as coisas parecem gloriosas e promissoras por um instante, o título não teme em relembrar do mundo cruel em que estamos — e quanto mais este se aprofunda no universo, mais descobre que o pulso da perda é aquilo que move todas as peças, de Gustave à Pintora.

Apesar do mundo desolado, no entanto, o título não carece de leveza. A relação entre o grupo foram construídas com muito cuidado, que tornam cada personagem memorável à sua maneira, fazendo com que cada interação crie um elo com o interlocutor, que ao final da jornada, precisa tomar decisões cujas consequências trazem, até para ele, o dilema central do enredo: afinal, deve-se aceitar o luto e seguir com a realidade, ou parece mais conveniente viver na ilusão de um mundo perfeito?

Cada competidor do Game of the Year deste ano tem seu mérito narrativo, mas nenhum deles conseguiu ser tão honesto e imersivo sobre uma emoção tão complexa, e ainda assim, entregar uma experiência que não afunda o jogador em depressão, mas o motiva a seguir em frente até o último segundo da trama.

A trilha sonora

Diversos fãs de games têm a trilha sonora de Clair Obscur pelo seu papel determinante na imersão. A Sandfall evidencia sua maturidade artística com a trilha sonora, que se adapta ao tom melancólico das paisagens até os coros épicos que permeiam confrontos decisivos.

Apesar de não possuir o mesmo repertório diverso de Death Stranding 2, os prêmios não mentem, e Expedition 33 cativou o público com suas canções e a maneira como complementam a estética geral da obra, conquistando inclusive o prêmio de Melhor Trilha Sonora no Golden Joystick Awards.

A coragem criativa de um estúdio estreante

Enquanto seus concorrentes trazem bagagens robustas, a Sandfall chega ao painel do The Game Awards como uma estreante que consegue manter-se em pé de igualdade com gigantes.

Image content of the Website

Essa liberdade criativa se manifesta em cada elemento — da estética aos sistemas — e oferece ao jogo a vantagem de uma percepção criativa fresca, que mescla um elemento frequentemente negligenciado perante uma enxurrada de títulos que tentam, de alguma maneira, se assemelhar a outro ou repetir alguma fórmula pré-estabelecida — paixão criativa.

Por que Clair Obscur: Expedition 33 pode perder o Game of the Year

Apesar da força criativa e da coesão artística, há obstáculos reais que podem comprometer suas chances no The Game Awards.

O alcance de Death Stranding 2 e o peso do nome Kojima

Image content of the Website

O maior desafio para Expedition 33 se chama “Hideo Kojima”. Poucos criadores possuem uma aura tão consolidada na indústria. Death Stranding 2 precisou de muito pouco para se consolidar entre um dos maiores títulos do ano, fortalecido por um orçamento superior, marketing global e expectativa acumulada desde o lançamento do primeiro jogo.

Além disso, o primeiro Death Stranding também criou uma conversação própria sobre conexão, isolamento e sistemas sociais, e sua continuação herdou esses elementos e o aprimorou em uma narrativa muito mais engajadora e cadenciada do que a do seu antecessor, culminando em uma briga quase tão clássica quanto a de um novato em uma categoria de artes marciais enfrentando um velho e experiente lutador mundialmente consagrado.

A falta de legado prévio da Sandfall

Embora a ausência de histórico tenha permitido liberdade criativa, ela também representa uma fraqueza: Expedition 33 não pertence a uma linha consolidada, enquanto seus concorrentes chegam ao palco com legiões de fãs, campanhas de marketing mais amplas e tradições estabelecidas. A Sandfall, por mais brilhante que tenha sido, precisará confiar exclusivamente na força da sua obra — e somente nela.

Conclusão

Clair Obscur: Expedition 33 é, sem dúvidas, um dos projetos mais fascinantes da geração, que entrega uma experiência tão unificada que se impossibilita ignorá-la ou negligenciar o recado que sua presença como franco favorito ao Game of the Year simboliza. Sua vitória será um triunfo da criatividade sobre o poder industrial, um reconhecimento de que ainda há espaço para histórias profundamente humanas e paixão em meio a blockbusters cada vez maiores.

Independentemente do resultado, Clair Obscur: Expedition 33 já conquistou algo que nenhum prêmio pode conceder: o status de obra que influencia o rumo do mercado de games. Uma experiência que emerge no testemunho artístico da capacidade humana de transformar dor, beleza e sonho em uma jornada memorável.

No fim, a famosa frase “for those who come after” será o legado histórico deste título, para todos os games que saírem a partir da sua influência, e pelos próximos projetos da Sandfall Interactive agora que entraram no radar com um dos títulos de maior sucesso da década.

E talvez seja exatamente isso que faça dele o candidato perfeito ao GOTY.