Games

Review

Review: SuperHero Simulator — Mirou no Superman mas Acertou o Capitão Pátria

, editado , 0Comment Regular Solid icon0Comment iconComment iconComment iconComment icon

SuperHero Simulator está em Early Acess e mostra que o game tem um potencial de se tornar o game de heróis definitivo.

Writer image

revisado por Romeu

Edit Article

Durante anos, se repetiu a ideia de que seria impossível criar um bom jogo do Superman. A desculpa sempre foi a mesma: um herói forte demais, voando em alta velocidade e quase indestrutível, não renderia uma experiência divertida.

Essa afirmação nunca fez muito sentido, afinal já tivemos exemplos sólidos no passado, como o clássico The Death and Return of Superman do Mega Drive e Super Nintendo, que mostrou que, com criatividade, dá para adaptar até o kryptoniano azulão.

Agora surge o SuperHero Simulator, ainda em Acesso Antecipado na Steamlink outside website, que prova duas coisas: primeiro, que é possível sim fazer algo empolgante nesse estilo; segundo, que ainda existe um longo caminho de polimento até que o jogo se torne aquilo que promete.

A vida dupla de um herói fracassado

O jogo foi criado pelo estúdio independente Mightyraccoon! Studios e coloca o jogador no papel de um sujeito que leva uma vida bem menos glamorosa do que se imagina para alguém com superpoderes. Durante o dia, você é só mais um cidadão comum, obrigado a se virar para pagar aluguel e sustentar até mesmo um irmão folgado que não sai do sofá. As opções de sobrevivência envolvem trabalhos mundanos, como dirigir táxi, atender clientes no caixa ou fritar hambúrguer em minigames rápidos.

Image content of the Website

Quando a noite cai — ou, na prática, quando você decide largar o serviço no meio do expediente — a coisa muda de figura. Aí você se torna a última esperança da cidade, um herói superpoderoso que precisa resolver desde pequenos contratempos até desastres completos. Essa dualidade de vida cotidiana e dever heroico é a essência do jogo e também onde aparecem suas primeiras falhas.

O dia a dia ingrato de salvar o mundo

O dinheiro, aqui chamado de Gollars, é a base para manter o personagem funcionando. É com ele que você compra comida, itens de higiene, equipamentos e atualizações. A economia é cruel: se você não se esforçar no trabalho, não paga as contas, e se não paga as contas, a vida de herói fica cada vez mais inviável. Ao mesmo tempo, você precisa ficar atento a diversos medidores: saúde, limpeza, sanidade e até o nível de respeito que a cidade tem por você. Se um desses elementos é negligenciado, sua eficiência contra o crime despenca.

Quando, finalmente, sobra tempo para exercer o heroísmo, o jogo mostra seu lado mais divertido: voar pelos céus. Essa parte foi feita com muito cuidado e transmite uma sensação de poder e liberdade que imediatamente remete às HQs. Poucos minutos planando sobre os prédios já são suficientes para sentir que você é mesmo um Superman digital. O voo é comparável ao que vimos em Saints Row IV ou DC Universe Online e, mesmo que não chegue ao nível técnico de Anthem, é disparado o ponto alto da experiência.

Mas a cidade nunca descansa. Emergências surgem em um ritmo quase absurdo: assaltos, incêndios, acidentes, desaparecimentos… sempre há algo para fazer, e é humanamente impossível dar conta de tudo. Pior: cada vez que você falha em ajudar, um locutor de rádio debochado entra em cena para esfregar seu fracasso. Os cidadãos salvos também não colaboram muito, já que a maioria reage com ingratidão e piadinhas sarcásticas. A ideia de mostrar o heroísmo como algo desgastante e pouco reconhecido pode até ser interessante, mas, no fim, transforma a jornada em uma experiência mais estressante do que satisfatória.

Taxista ou supervilão?

Um dos momentos mais estranhos acontece quando você tenta realmente viver a rotina de trabalhador comum. No papel de motorista de táxi, por exemplo, seguir as regras de trânsito é praticamente inviável. A única forma de chegar rápido aos destinos é cortando caminho, batendo em outros carros e acelerando como se não houvesse amanhã. Quando tentei ser “correto”, todos os clientes saíram reclamando e irritados, como se eu fosse o pior taxista do planeta. Resultado: me senti uma ameaça maior à cidade dirigindo do que enfrentando bandidos mascarados.

Image content of the Website

Essa dissonância acompanha boa parte das missões. Os minigames de resgate, combate e salvamento acabam se resumindo a tarefas repetitivas, quase sempre mal elaboradas. O combate, por exemplo, é só esmagar o botão de ataque com eventuais bloqueios. Já os resgates envolvem desafios tão rápidos e mal calibrados que parecem exigir poderes de adivinhação. No início é até tolerável, mas após uma hora a repetição vira tédio.

As limitações do Early Access

O grande problema do jogo, no entanto, não é a rotina puxada, mas sim a ausência de progressão real. Não há uma árvore de habilidades que permita desenvolver um herói à sua maneira. O que existe é uma sequência linear de desbloqueios: raio laser, aumento de força, resistência extra, e assim por diante. Você não constrói uma identidade; apenas segue uma lista pré-determinada que, inevitavelmente, lembra uma cópia descarada do Capitão Pátria de The Boys. Até o uniforme acaba ficando praticamente idêntico, o que tira boa parte da graça.

A personalização do personagem também é decepcionante. O criador de heróis oferece poucas opções de máscara e capa, sem variedade de cabelo ou detalhes. Tudo parece limitado a alguns modelos genéricos, sem inspiração. O marketing fala em liberdade criativa, mas, na prática, você escolhe entre três ou quatro visuais sem vida. Até a possibilidade de escolher uma heroína está prometida apenas para o ano que vem, o que mostra o quanto o recurso ainda é embrionário.

E ainda tem o uso massivo de inteligência artificial. Muitas artes, texturas e até as vozes dos personagens são feitas por IA, e isso fica evidente. As falas parecem saídas de um GPS nervoso, sem emoção, sem naturalidade. Entende-se que um estúdio pequeno queira recorrer a ferramentas automáticas, mas a execução ficou tão genérica que compromete o clima do jogo. Talvez, em atualizações futuras, essas vozes e imagens sejam substituídas por versões humanas, mas por enquanto tudo soa artificial e frio.

O potencial que existe por trás do caos

Apesar das falhas, há algo de interessante no conceito. Poucos jogos exploram o impacto que a vida dupla teria de verdade na rotina de um herói. Normalmente vemos o lado grandioso: salvar o mundo, derrotar vilões, proteger inocentes. O SuperHero Simulator tenta equilibrar isso com a parte mundana: pagar aluguel, lidar com o estresse, arranjar tempo para a família. Essa mistura, mesmo mal executada no momento, é promissora.

Image content of the Website

É diferente, por exemplo, do que acontece em jogos do Homem-Aranha, que focam quase sempre na vida heroica e deixam o cotidiano de Peter Parker como pano de fundo. Aqui o inverso acontece: a vida de “gente comum” ganha tanto espaço quanto a ação, e isso pode abrir caminho para novas abordagens no gênero.

Prós e Contras

Prós:

- Potencial para ser um excelente game de super-herói;

- Mecânica de voo convincente;

Contras

- Minigames repetitivos;

- Falta de customização;

Conclusão

O SuperHero Simulator não é o jogo do Superman que muitos sonham, mas mostra que a ideia está longe de ser inviável. O sistema de voo já é suficiente para provar que dá para capturar a sensação de poder que define o personagem. O problema está no restante: missões repetitivas, progressão travada, personalização quase inexistente e uso excessivo de IA deixam a experiência fria e, às vezes, entediante.

Por outro lado, se o estúdio tiver fôlego para evoluir o projeto, existe espaço para algo realmente inovador. Um jogo que explore não só o ato de salvar o dia, mas também a dificuldade de ser humano em meio ao caos urbano, pode render experiências únicas. O equilíbrio entre trabalhar para pagar as contas e, ao mesmo tempo, salvar uma cidade em colapso, se for bem lapidado, tem tudo para inaugurar um novo subgênero dentro dos jogos de super-heróis.

No estado atual, SuperHero Simulator é mais um esboço do que um produto finalizado. Um esboço que diverte em momentos curtos, frustra em outros, mas que mantém viva a chama de que, um dia, o Superman — ou alguém muito parecido com ele — pode finalmente ganhar um jogo à altura do mito que representa.