Reencontrar Anima: Gate of Memories (site oficial) em sua versão remasterizada é como voltar para casa após um longo tempo longe: familiar, mas um pouco diferente. Um trabalho que fez com que as bordas fossem cuidadosamente redesenhadas, jogabilidade e câmera aprimoradas, vozes.
Este novo lançamento não tenta reinventar o que a série foi — ele apenas ajusta o foco, limpa a poeira e entrega uma visão mais nítida de um mundo que ainda guarda muito de seu charme original. É uma restauração, não uma revolução.

O jogo continua sendo o mesmo, com sua aura misteriosa e tom melancólico, apenas livre das imperfeições técnicas que o envelheceram mal. Desde os primeiros minutos, a diferença é perceptível. As texturas ganharam clareza, as cores estão mais equilibradas e o desempenho geral se mantém estável, mesmo nas áreas mais abertas. Ainda assim, o sentimento é de que o jogo não tenta esconder sua idade. Ele exibe suas cicatrizes com naturalidade, e há algo bonito nisso.
O remaster não disfarça suas origens — pelo contrário, parece ter orgulho delas. Ao invés de mascarar limitações, o novo acabamento apenas ilumina melhor o que já estava ali: um projeto autoral, cheio de ideias ousadas e personalidade própria.
Preservar, não reconstruir
O trabalho de atualização é sutil, quase artesanal. Pequenos ajustes nos controles e na câmera tornam a exploração mais fluida, mas o ritmo, a estrutura e o tom permanecem fiéis ao espírito original. Anima nunca foi um jogo para todos os gostos. Ele sempre buscou equilibrar ação, misticismo e filosofia, com um tipo de narrativa que se recusa a simplificar. O remaster mantém esse mesmo DNA. Ele oferece uma experiência mais estável, mas sem abrir mão da estranheza que o torna único.
Os visuais repaginados não transformam o jogo em algo moderno — apenas o tornam mais coeso. Há uma nitidez nova nas sombras e uma suavidade nos efeitos de luz que ajudam a destacar a atmosfera sombria. Em essência, o que se ganha é uma versão mais limpa, mas não necessariamente mais atual. O resultado é um jogo que parece existir entre duas épocas: moderno o suficiente para ser jogável, antigo o bastante para manter seu caráter.
Combate mais firme, ritmo mais consciente
Se há um ponto em que o remaster realmente brilha, é no combate. As adições de ataques carregados e golpes inbloqueáveis mudam a dinâmica das batalhas. Elas introduzem uma nova camada de estratégia e obrigam o jogador a pensar em ritmo, distância e tempo de resposta. A movimentação da Bearer of Calamities e de Ergo Mundus, seu companheiro, está mais fluida e precisa, permitindo transições mais naturais entre os dois.

Os confrontos agora parecem mais controlados, mais justos. Ainda há momentos em que o jogo repete padrões, mas a sensação geral é de evolução. O impacto dos golpes, a resposta do inimigo e o peso das animações foram ajustados o bastante para tornar o sistema satisfatório. Ele não tenta reinventar o gênero, mas alcança algo que a versão original nunca conseguiu plenamente: consistência.
Narrativa que insiste em ser sentida
A história de Anima continua sendo uma de suas partes mais enigmáticas. Complexa, fragmentada e cheia de simbolismos, ela não se preocupa em guiar o jogador pela mão. O enredo ainda mergulha fundo em temas como arrependimento, identidade e destino. A linguagem permanece poética e densa, o que pode afastar quem busca uma narrativa direta, mas é justamente essa complexidade que dá alma à experiência.
A exploração das áreas, com suas conexões labirínticas, reforça a sensação de isolamento e busca interior. É fácil se perder — tanto nos caminhos quanto nas ideias —, mas esse é o tipo de jogo que prefere que o jogador se perca mesmo, para descobrir sentido na incerteza. O remaster mantém esse ritmo contemplativo, sem apressar o que nunca deveria ser apressado.
A beleza das imperfeições
Anima: Gate of Memories I & II Remaster continua sendo uma obra de contrastes. A cada acerto técnico, há uma lembrança de que este é um jogo nascido de um estúdio pequeno, com recursos limitados, mas ambições enormes. Essa dualidade — entre falhas e paixão — é o que dá ao jogo sua personalidade. A atualização visual suaviza os defeitos, mas não os apaga. E talvez isso seja o melhor elogio possível: o remaster não tenta esconder quem Anima realmente é.
Os pequenos engasgos de animação, as pausas nas falas e o design de menus datado não chegam a comprometer a experiência. Eles apenas lembram que estamos diante de algo feito com mais vontade do que meios. E essa honestidade acaba se tornando uma virtude. É raro ver um jogo que ainda carrega sua identidade com tanta clareza, mesmo após tantos anos.
The Nameless Chronicles — o mesmo espelho, outra perspectiva
A segunda parte da coletânea, The Nameless Chronicles, segue o mesmo caminho do primeiro jogo. Ela se beneficia das melhorias gráficas e da estabilidade geral, mas mantém a estrutura e o tom melancólico. A história do protagonista sem nome se aprofunda em temas de culpa e redenção, funcionando quase como um contraponto sombrio à jornada da Bearer.

O combate é um pouco mais rápido, o ritmo mais coeso e a ambientação mais densa. Mesmo reciclando inimigos e áreas, há uma sensação de propósito maior. As mudanças técnicas ajudam a manter a fluidez, e a nova trilha sonora reforça a intensidade das batalhas. No fim, as duas partes se complementam: uma reflete a outra, formando um todo mais completo do que pareciam separadamente.
Vozes que destoam, mas não destroem
O ponto mais frágil continua sendo a dublagem. A interpretação da protagonista, em especial, carece de emoção e profundidade. Em várias cenas, o tom da voz não acompanha o peso das palavras, e isso quebra a imersão em momentos-chave. A sensação é de que a personagem fala de dentro de uma bolha, desconectada do que acontece à sua volta.
Por outro lado, o design sonoro geral está muito mais equilibrado. As trilhas foram retrabalhadas, os efeitos têm mais impacto e a ambientação sonora sustenta bem a atmosfera de mistério. Mesmo com as falhas de atuação, o som cumpre seu papel de reforçar o drama e a tensão do mundo de Anima. É um contraste curioso: o áudio técnico amadureceu, enquanto a dublagem continua soando como um eco do passado.
Um remaster que aceita suas origens
O que torna este relançamento interessante é justamente a falta de pretensão. Ele não tenta competir com produções modernas nem com títulos de orçamento gigante. Sua meta é mais humilde — e, paradoxalmente, mais autêntica. Ele existe para preservar, para fazer justiça ao que Anima já foi e ao que ainda pode ser para quem nunca o conheceu.

Em vez de modernizar a todo custo, o remaster prefere respeitar a alma do jogo. E isso se traduz em algo raro: uma versão que parece finalmente completa, sem trair o que a inspirou. Os problemas estão lá, visíveis, mas domesticados. O resultado é uma experiência que mistura nostalgia e redescoberta.
Conclusão
Anima: Gate of Memories I & II Remaster não tenta ser um novo começo, e sim uma segunda chance. É o mesmo jogo de antes, mas agora com a maturidade de quem aprendeu com os próprios tropeços. As melhorias de combate e a limpeza visual são o suficiente para tornar a jornada mais agradável, enquanto a narrativa e o estilo artístico mantêm aquele toque de estranheza que sempre definiu a série.
Quem jogou os originais vai reconhecer o carinho com que tudo foi retrabalhado; quem chega agora encontrará um RPG de ação com um charme peculiar, cheio de ideias próprias e falhas que acabam virando parte do encanto. Anima nunca quis ser perfeito — apenas verdadeiro. E é exatamente isso que este remaster entrega: uma obra imperfeita, mas autêntica, feita com alma e memória.









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