Desde as primeiras horas de campanha do novo Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles, já estava claro qual seria o título desta análise. Nostalgia aperfeiçoada resume exatamente o que representa o novo lançamento da Square Enix, uma remasterização do clássico de PlayStation One de 1997.
O jogo não tenta reinventar a fórmula. Em comparação com War of the Lions, lançado no PSP, oferece até menos novidades em termos de conteúdo extra, mantendo-se quase integralmente fiel ao título original. A ausência de jobs como Dark Knight ou de personagens convidados, como Balthier, pode frustrar parte dos fãs. Ainda assim, as melhorias em localização, narrativa e jogabilidade tornam esta versão praticamente obrigatória para veteranos que acompanharam Ramza Beoulve no fim dos anos 90, e para novos jogadores que terão agora a primeira oportunidade de explorar Ivalice.
Ficha Técnica
Gênero: RPG Tático
Desenvolvedor: Creative Studio III
Publisher: Square Enix
Data de Lançamento: 30 de setembro de 2025
Plataformas: PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch, Nintendo Switch 2, Xbox Series X|S, Steam
Tão belo quanto no dia em que te conheci
Poucos jogos envelheceram tão bem quanto Final Fantasy Tactics. Mais de 25 anos após seu lançamento, a obra ainda mantém uma comunidade apaixonada que segue produzindo mods, reequilíbrios de dificuldade e projetos de preservação.
Grande parte desse impacto vem de sua trama: Yasumi Matsuno, diretor e roteirista, já afirmou que FFT é um jogo sobre as desigualdades sociais, revestido em uma história de disputas políticas e aristocracia, nascida de um tempo de grande desigualdade no Japão. Matsuno, inclusive, considera o título tão necessário hoje quanto ele foi quando originalmente concebido.
No centro dessa narrativa estão Ramza Beoulve, jovem de família nobre que acaba marcado como herege, e Delita Heiral, um plebeu que ascende ao posto de herói nacional. Amigos de infância, eles são separados pela dura realidade das divisões sociais e seguem caminhos distintos, mas com o mesmo objetivo: confrontar um sistema injusto.

A relação entre ambos é um dos maiores méritos da obra. Matsuno constrói uma dualidade sólida, em que cada escolha expõe as feridas de uma sociedade desigual, sem reduzi-los a inimigos diretos ou a papéis clichês. Ramza e Delita compartilham cicatrizes, mas reagem de maneiras opostas, criando uma das narrativas mais sofisticadas já vistas na franquia Final Fantasy.
Ao redor deles, desenvolve-se uma história de traições, política e ambições pelo trono, permeada por elementos sobrenaturais típicos da série. O resultado é uma crítica social e até religiosa que mantém a base no realismo, diferentemente de outros títulos diretamente inspirados pela obra — como Final Fantasy XVI — que se apoiaram mais fortemente no fantástico.
Toda melhoria é bem-vinda, mas a essência ainda está lá
Jogar o título original no PlayStation era uma experiência única. Quem nunca perdeu um save inteiro por não se preparar adequadamente em um dos famosos Castelos? Esses momentos acabaram moldando uma geração, que aprendeu a criar “saves reservas” em todos os jogos.
Mas o tempo mudou, assim como as expectativas dos jogadores. The Ivalice Chronicles moderniza a experiência sem sacrificar sua essência. Apesar das várias melhorias, aquilo que fez tantos jogadores se apaixonarem pelo título permanece lá, quase intacto.

Entre as melhorias, a interface dos menus está mais intuitiva. Agora, cada comando traz explicações detalhadas, sem necessidade de botões extras, facilitando o aprendizado e a tomada de decisões. Também é possível desfazer a última ação do personagem, recurso que evita frustrações típicas do jogo original, como mover uma unidade sem poder atacar porque calculou mal o espaço de um ataque em área.
Outra adição relevante é a ordem de turnos visível na tela, semelhante ao sistema de Final Fantasy X. No original, era preciso calcular manualmente quando uma ação seria executada com base nas barras de CT, o que gerava confusões e atrapalhava o timing de alguns ataques ou o senso de urgência entre curar o seu personagem ou tentar puxar um pouco mais de dano contra um boss. Com a lista de turnos à vista, o planejamento estratégico ficou mais preciso e menos frustrante.

Os menus de equipe e equipamentos também foram reformulados, com ilustrações novas, explicações sobre profissões e ajustes leves no balanceamento. Ainda assim, o espírito do jogo permanece: é possível criar personagens poderosíssimos com combinações criativas de profissões e habilidades. Para este review, por exemplo, testei novamente a clássica build de Ramza como Monk e utilizando Squire como classe secundária, que o torna praticamente autossuficiente em combate ao ponto de até enfrentar sozinho a maioria dos estágios se construído da maneira certa.

Essa liberdade, contudo, exige grind. Dedicar horas para evoluir personagens pode soar cansativo para alguns, mas é parte fundamental do charme de Final Fantasy Tactics. Contando apenas o mínimo de cinco unidades por batalha, é possível considerar centenas de combinações entre profissões, habilidades e equipamentos que mantêm a rejogabilidade do título e o tornam tão divertido; quando percebemos, já passamos três horas lutando contra monstrinhos e vendo um personagem ganhar mais níveis e desbloquear novas habilidades que o tornarão um recurso essencial na sua equipe.
Outro destaque é a inclusão de três níveis de dificuldade. Uma opção mais acessível permite focar apenas na história, enquanto o modo padrão traz a experiência clássica com melhorias de qualidade de vida que, no fim, facilitam a experiência se comparada com o jogo original. Já o modo avançado adiciona um desafio extra, voltado para veteranos que desejam dominar cada aspecto do combate e amplia o já extenso potencial de rejogabilidade do título.
Gráficos Melhorados e Dublagem com Acertos e Erros
A Square Enix já foi alvo de críticas em outras remasterizações, como no caso de Final Fantasy X HD, em que a discrepância entre personagens principais remodelados e coadjuvantes de aparência datada gerou estranhamento e diversos memes, e a empresa repetiu o mesmo erro com Final Fantasy Type-0 HD. Em The Ivalice Chronicles, a abordagem foi mais uniforme: o estúdio optou por uma direção artística que preserva o estilo original em vez de tentar aproximá-lo de padrões visuais mais modernos.
À primeira vista, os gráficos podem soar modestos ou datados, principalmente quando comparados a títulos contemporâneos ou até às versões já lançadas para iOS e Android. No entanto, a nova iluminação e o trabalho de sombreado dos cenários fazem diferença prática e as transições durante algumas batalhas ganham um dinamismo que faltava no jogo original.

No entanto, existem limitações técnicas consideráveis. O uso de blur ao redor das caixas de diálogo acaba criando um efeito que pode incomodar jogadores acostumados a remasterizações mais limpas. Em alguns estágios ou diálogos, a paleta de cores, possivelmente adotada para suavizar o contraste entre personagens e cenários, tira parte da clareza visual que se esperaria de um relançamento e deixa a sensação de estar olhando para tons muito "pastéis".
Já a dublagem — principal novidade desta versão — adiciona profundidade à narrativa, mas não está livre de críticas. Em momentos de maior urgência, a performance dos atores fortalece a imersão e dá mais vida aos personagens, mas é mesclada com situações em que há dissonâncias entre o tom dos dubladores e os eventos ocorrendo em cena.

Além disso, problemas de mixagem comprometem parte dessa evolução. Em algumas sequências, as vozes parecem “flutuar” acima da trilha sonora, sem integração adequada com o ambiente, como se tivessem sido inseridas sem o devido tratamento acústico ou mixagem de pós-gravação.
O resultado final é um paradoxo: a adição da dublagem expande a narrativa e cria uma experiência nova para quem já jogou Final Fantasy Tactics uma dezena ou até centena de vezes, mas a inconsistência técnica impede que esse recurso atinja todo o seu potencial. A Square Enix acertou em trazer melhorias relevantes, mas deixou escapar detalhes, especialmente na mixagem de som, que mereciam maior cuidado.
Prós e Contras
Prós
Contras
Veredito
Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles é, em muitos aspectos, a versão definitiva do clássico de 1997. Ao mesmo tempo em que permanece fiel às origens, traz melhorias pontuais que atualizam a experiência para um público contemporâneo, mas sem abdicar do charme que o tornou um dos maiores RPGs táticos da história.
Faltam conteúdos adicionais presentes em War of the Lions, e alguns detalhes técnicos, especialmente na mixagem de áudio, poderiam ter recebido mais atenção. No entanto, a soma de ajustes de jogabilidade, gráficos aprimorados e a atuação de voz entrega uma experiência que honra a memória do original e abre as portas de Ivalice para uma nova geração de jogadores.
NOTA: 9,5 / 10
— Comentários 0
, Reações 1
Seja o primeiro a comentar