Outro dia, estava jogando games antigos com meu filho e percebi que muitos gêneros famosos durante os anos 80, 90 e 2000, que eram muito populares, de repente, não existiam mais. Ou melhor, não ouvíamos mais falar deles.
Há títulos relegados às centenas de jogos Indie lançados diariamente nas plataformas, enquanto outros simplesmente não têm mais o mesmo apreço por parte da maioria do público gamer - não o suficiente para fazer estúdios investirem em um título Triplo A.
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Alguns chegam a ser lançados uma vez a cada poucos anos, mas não ganham notoriedade e nem tanta propaganda como tinham na época que soprávamos fitas de cartuchos e rezávamos para o disco do PlayStation 2 funcionar. E são esses gêneros que apresentaremos neste artigo.
Gêneros de Jogos que estão deixando de xistir
Racers
Para começar nossa lista, vamos falar dos Racers, particularmente os jogos de corrida com vista de cima.
Eles eram famosos especialmente no modo multiplayer, mantendo os amigos grudados na tela da TV, sentados no mesmo sofá e tentando superar seus adversários. Esses jogos começaram nos arcades e posteriormente chegaram aos consoles de mesa, fazendo muito sucesso desde a era 8 bits e sendo muito populares nos anos 80 e 90, tendo seu ciclo encerrado no início dos anos 2000, com o advento dos gráficos 3D.
Jogos como Micro Machines, Super Sprint, Road Fighter, Rally-X entre outros, eram extremamente populares entre os jogadores.
Esses games eram ótimos para disputarmos contra amigos e queríamos sempre fazer nossos adversários comerem poeira, correndo para cruzar a linha de chegada um antes do outro. Um aspecto comum nesses jogos era a tática de tentar empurrar os adversários para fora da pista e assim ultrapassá-lo depois daquela curva extremamente difícil que ambos sempre tiveram problemas para fazer em alta velocidade.
Sim, eles eram bem simples, mas extremamente divertidos e estávamos tão acostumados a vê-los em nossas telas que não nos demos conta quando finalmente desapareceram. Um dia eles estavam lá e no outro tudo que tínhamos eram jogos modernos com visão de trás do carro, corridas no estilo arcade, simuladores realistas e games online apenas para multijogadores.
Não podemos atribuir seu desaparecimento apenas pela chegada dos gráficos 3D, pois existem alguns racers nesse formato que se saíram bem, mas á evolução natural dos jogos de corrida.
Full Motion Videogames (FMV)
Outro gênero muito explorado no início da era dos jogos em CD foram os FMV. Um full motion video (FMV) é uma técnica de narrativa nos jogos que se baseia em arquivos de vídeo previamente gravados (ao invés de sprites, vectores, ou modelos 3D), para mostrar a ação no jogo. Enquanto muitos jogos usam FMVs para cutscenes, os jogos apresentados primariamente por meio de vídeos gravados são referidos como jogos de filmes interativos.
Esses games tiveram um boom tão grande e inesperado que geraram dezenas de diferentes jogos no intervalo de apenas alguns anos para quase que instantaneamente desaparecer e serem esquecidos. Em meados dos anos 90, com a introdução dos CDs que eram aparentemente quase sem limite de capacidade de armazenamento para a tecnologia da época, os designers queriam tornar seus jogos maiores, mais realistas e envolventes. Jogos com cenas gravadas ao invés de renderizadas pareciam o futuro da indústria dos games.
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Buscando uma narrativa mais adulta, com quebra-cabeças mais intrincados, os jogos buscavam em cenas com atores reais uma escolha mais fácil e rápida para a produção dos games. Mas nem sempre o mais rápido sairia melhor, pois quase sempre as produções eram de baixo orçamento, com atores desconhecidos e bastante ruins. Embora essa leva de games tenha muita coisa que podemos considerar o lado B trash obscuro dos videogames, havia alguns jogos que para a época eram muito bons. Games como Under a Killing Moon, Cobra Command, Road Avenger, Dragon's Lair, Tomcat Alley, Phantasmagoria e Silpheed são ótimos exemplos.
Na época, eu achava que eles eram divertidos, bem elaborados e envolventes. É fato que a grande maioria dos jogos acabava sendo chata e repetitiva, alguns claramente foram feitos apenas para lucrar com a onda que esse gênero causou e queriam abocanhar a fatia da pizza do lucro antes que ela desaparecesse.
Mas seria injusto afirmar que os jogos em FMV são um gênero totalmente morto e que não há nenhum jogo lançado atualmente. Há games atuais muito bons como The Shapeshifting Detective, Not For Broadcast, Night Book, Erica, Her Story, Telling Lies, Doctor Who: The Lonely Assassins entre outros… os games de FMV tendem a ser uma onda que vem forte, todos surfam nela e de repente ela passa.
Point and Click
Os Point-and-Click tiveram sua ascensão entre o final dos anos 80 com vários lançamentos AAA, e resistiram firmemente até o final dos anos 90. Mas dez anos sólidos não foram suficientes para que os jogos conseguissem se manter vivos.
Foram lançados muitos games populares e amados do gênero e, em termos de número de títulos, eles cobriram desde a pré-história até jogos de fantasia, que eram muito populares, passearam pela ficção científica e todo tipo de assuntos nesse meio-termo que interessassem aos jogadores da época.
Embora os jogos tivessem no aspecto geral uma linha de narrativa ou jogabilidade muito boas, o fato é que eram muito lineares e ofereciam apenas uma única experiência aos jogadores. Mas seria leviano dizer que não houve games bons ou empresas que produzissem títulos grandes. Estúdios dedicados e talentosos como Lucas Arts, Sierra entre outros, que não só garantiram que muitos de seus jogos tivessem o fator replay muito forte, ofereciam uma história envolvente, cativante e muitos dos jogos de aventura de hoje ainda poderiam aprender com eles.
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E vale a pena apontar (sem usar trocadilho), que muitos ‘point and clickers’ são também responsáveis por jogos de aventura cinematográficos que temos hoje na forma de franquias de grandes estúdios: como a série Life Is Strange, jogos da Quantic Dream, a série Dark Pictures e Detroit Become Human são excelentes evoluções dos point-and-click para os tempos modernos.
Mas infelizmente os games tradicionais desse gênero são realmente raros e na maioria das vezes ficam dentro do reino do crowdfunding para serem lançados, então, embora não estejam praticamente extintos, os ‘point and clickers’ estão definitivamente adormecidos desse que foi o um dos maiores gêneros da década de 1990.
RTS (Real-Time Strategy)
Outro gênero que teve uma força muito grande, mas teve uma queda incrível foram os games de estratégia em tempo real. Nesse tipo de game, os jogadores têm como objetivo criar bases e unidades usando recursos para derrotar o oponente. As unidades se movem e atacam ao mesmo tempo, o que exige planejamento e velocidade de execução.
Entre o final dos anos 90 e meados dos anos 2000, parecia que cada jogo lançado era algum tipo de RTS. Quem viveu essa época lembra que quase toda franquia Sci-Fi de sucesso tinha seu game: Star Trek, Star Wars, ou seja qual for a marca que você possa pensar, teve seu próprio jogo RTS.
Jogos como Dune 2, Dune 2000, Warcraft, Command & Conquer, Age of Empires, Starcraft, Myth e Uprising são excelentes jogos que nos fizeram passar horas em frente às telas pensando em como atacar as bases inimigas.
Esse gênero foi um dos responsáveis pela aceleração da chegada dos E-Sports como os conhecemos hoje. E mesmo com todo esse sucesso, foram atingidos com tanta força que quase desapareceram do mercado.
Hoje, ocasionalmente um jogo é lançado, além de séries de remasters dos grandes sucessos do passado. O fato é que a maioria das pessoas parece não se importar mais com eles, talvez seja porque o gênero evoluiu para os MOBAs e isso se tornou a próxima grande pedida do mercado, ou talvez tenha sido a supersaturação do mesmo tipo de jogos com roupagens diferentes.
Jogos de Esportes Radicais
Hoje parece loucura dizer que houve uma época em que amávamos jogos de esportes, fossem eles radicais, casuais ou das olimpíadas. Surgiram nos anos 80 com os arcades e foram posteriormente transferidos para os consoles de mesa, começando com o Atari 2600. Eram muito divertidos e gastávamos horas e horas nos sentindo esportistas com nossos joysticks, lanches e muita diversão.
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Games como Pelé's Soccer, Ski, Basquete, Boxe, e o famoso quebrador de controles Decathlon, eram jogos que em sua simplicidade nos traziam aquele espírito de competição que tanto adoramos em jogos.
Posteriormente, na era 8 bits, conhecemos games bastante populares e amados como Jogos de Verão, Skate Or Die, Kings Of The Beach, Excite Bike e o clássico Track & Field. Já nos anos 90 a era 16 bits trouxe games clássicos como Super Sidekicks, International Superstar Soccer, Fifa Soccer, Olympic Gold: Barcelona ’92, Summer Challenge, Winter Olympics: Lillehammer 94, Super Volleyball entre outros... Mas foi nas duas gerações seguintes que ocorreu uma explosão de jogos marcantes e que se mantiveram no topo das listas de desejos dos jogadores.
Tony Hawk’s Pro Skater foi lançado em 1999, fazendo a cabeça dos jogadores explodir com esse novo estilo de game que misturava um esporte radical com músicas de artistas consagrados no Rock e Hip Hop. As locadoras se entupiam de crianças e adolescentes sedentos por jogar o game do momento, anotando as manobras em papéis e fazendo disputas para ver quem pontuava mais.
Não demorou para que o estilo do game fosse adaptado para outros jogos de esportes. Games como Mat Hoffman's Pro BMX, Agressive In Line, Grind Session, Kelly Slater's Pro Surfer, Shaun White Snowboarding e o decadente Razor Freestyle Scooter, um jogo de patinete radical (sim você não leu errado), com manobras no estilo THPS, foi lançado para surfar nessa onda de games radicais.
A fórmula foi saturando com tantos jogos nesse estilo que cada cópia do Tony Hawk que saía já não empolgava mais, e os games de olimpíadas também já não chamavam tanta atenção. E com tanto lançamento de jogos ao mesmo gênero, era difícil distinguir o que havia de realmente novo e, por volta do final dos anos 2000, os jogos de esportes radicais, assim como os jogos de olimpíadas, foram caindo no esquecimento.
Games de Combate Veicular
Bater em alguns carros blindados e pesados em alta velocidade era muito divertido. E em meados da década de 90 até o início dos anos 2000, tínhamos muitas escolhas de jogos de alta qualidade para nos divertir.
Lembro com muita nostalgia de Death Rally, Carmageddon e Twisted Metal e Rock & Roll Racing. O mais legal é que a maioria deles tinha em comum a ação frenética e eram extremamente divertidos, embora fossem muito repetitivos. Os jogos de combate em veículos tinham um certo charme, como os programas ‘nonsense’ que passavam na TV da época.
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Mas, como todo gênero que não evolui, não vimos quase nenhum deles desde por volta do início dos anos 2000.
Shoot 'Em Up / Shmups
Os shoot 'em up, também conhecidos como ‘Jogos de Navinha’, se originaram nos arcades e foram feitos da mesma forma que a maioria dos outros jogos para fliperamas, com o único propósito de ganhar dinheiro. Então eles eram muito difíceis, dando a nós o conjunto certo de ferramentas e mecânicas para começar a se dar bem por um tempo, curtir o jogo e apenas alguns minutos depois ter uma chuva de balas na tela, o que fazia com que nós perdêssemos.
Sempre achávamos que foi má sorte ou apenas falta de habilidades e tentávamos compensar com mais uma ficha e continuávamos a jogar, dessa vez por um período um pouco mais curto, pois outro tiro vindo do nada acabava nos atingindo.
Mas a verdade é que não nos importávamos com isso, queríamos jogar mais e, com a chegada desses jogos nos consoles de mesa, nos vimos livres de gastar fichas para jogá-los.
Jogos maravilhosos surgiram entre os anos 80, 90, até o início dos anos 2000. Aero Fighters, Gradius, Life Force, Thunder Force, Sagaia, R-Type, 1943, 1944, Truxton, Parodius, entre outros.
São jogos ótimos para trabalhar nossos reflexos, memória e perseverança, pois tudo isso estava lá no game. Tínhamos que memorizar todos os inimigos, como eles atacavam, ter o reflexo necessário para desviar de onde os tiros surgiam, e perseverança para perder várias e várias vezes até memorizar tudo isso e finalmente chegar ao fim.
Conclusão
Espero que você tenha gostado desta viagem pela estrada da minha memória comigo e também relembrando os jogos que não existem mais, pelo menos não em número e qualidade como eram no passado, enquanto alguns se foram merecidamente para que outros pudessem nascer como um novo gênero.
Muita coisa ficou fora desta lista, você lembra de algum gênero que foi extinto e que marcou sua vida? Deixe sua opinião nos comentários.
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