Não é de hoje que fãs de Marvel e DC discutem sobre qual o melhor filme, quadrinho, ou herói de todo o mundo. Nos últimos anos, com o lançamento de jogos do Spider-Man, tivemos a volta desses debates, mas agora voltada para o mundo dos videogames.
De um lado, Batman Arkham traz um ar mais sombrio, retratando a escuridão e tensão que reina em Gotham City. Muitas vezes até sendo comparado a jogos de terror, abordaremos melhor futuramente.
De outro, os jogos do Homem-Aranha que retratam uma Nova Iorque em plena luz do dia, com mais movimento nas ruas, além de um roteiro mais leve, com direito a humor.
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Usaremos dois critérios principais para o veredito. O primeiro sendo uma review das duas sagas no geral, analisando quesitos técnicos como roteiro, gameplay entre outros. O segundo se trata de notas no Metacritic, além de prêmios e indicações no The Game Awards (TGA) recebidas por cada uma dessas séries de games.
No caso dos jogos que foram lançados antes de 2014, usaremos a premiação Spike Video Game Awards (VGA) como fundamento, dado que é a antecessora do The Game Awards que conhecemos.
Estes critérios são o suficiente para entendermos a opinião da crítica/imprensa e do público, nos concedendo uma boa base para chegarmos na resposta final.
Análises
Batman Arkham
Iremos avaliar os três principais títulos da série: Asylum, City e Knight.
Iniciado em 2009 com Asylum e tendo seu fim no ano de 2015 com Knight, a série Arkham foi desenvolvida pela Rocksteady, um estúdio em estágio inicial onde tinha uma enorme responsabilidade em mãos, e conseguiu criar uma fórmula a ser seguida.
Durante muitas gerações, os jogos de heróis tinham o objetivo de apenas “surfar” no hype de um filme que estaria em cartaz nas telonas no mesmo período. Precisando ser desenvolvido às pressas e como uma cópia nada original do longa-metragem, eles não conseguiam a devida aceitação dos fãs.
Até que Batman: Arkham Asylum chegou com uma história original, além de inovações no sistema de combate e gameplay, e mostrou que era possível fazer super-heróis competirem neste mercado.
Um dos pontos fortes da série é entregar um roteiro surreal, inclusive com uma boa apresentação e construção dos vilões. Isso se dá pela escolha de Paul Dini como roteirista de Arkham Asylum e City, por coincidência, os dois mais bem avaliados da trilogia.
Paul trabalhou em Batman: The Animated Series (1992), considerada uma das melhores séries animadas da história dos super-heróis, além de Superman: The Animated Series (1996), Batman Beyond (1999) e mais várias produções deste universo, incluindo a recente série da Harley Quinn (2019). Ele também fez parte de outras grandes franquias como Star Wars.
Ele também é renomado quando pensamos na mídia escrita, tendo lançado diversas histórias em quadrinhos sobre a Arlequina, Coringa e o próprio Batman. Ou seja, é um roteirista experiente e que realmente dominava a proposta do jogo, gerando bastante credibilidade para os fãs.
Partindo para o primeiro jogo, Asylum retrata um cenário onde estamos presos no Asilo Arkham precisando lidar com o Coringa junto de outros vilões e inúmeros bandidos soltos.
Este é um título que cria diversas discussões na comunidade sobre ser um jogo de terror ou não, dado que estamos em um ambiente fechado, cercado de psicopatas, junto de uma imensa galeria de vilões que retrata a loucura, além de um número considerável de cenas grotescas, inclusive alucinando com os seus pais mortos em certo momento.
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A sua imersão é impecável, sentimos toda a tensão e suspense na ambientação sombria que se propõe o jogo. Outro ponto onde Asylum é elogiado é por não desafiar a inteligência do usuário, com mistérios que precisam ser resolvidos usando alguns acessórios, nem sempre é óbvio e ficamos bons minutos pensando na solução do problema, retomando o lado mais “detetive” que também faz parte do Batman.
No quesito gameplay, temos mais destaques, um sistema de combate com golpes rápidos e contra-ataques que chamou a atenção do público, até utilizando seus acessórios na batalha. Além disso, é possível jogar com mais cautela, eliminando inimigos no modo stealth.
Conforme você vai evoluindo, é possível desbloquear novos golpes e mecânicas, o que, em 2009, revolucionou a estrutura de jogos deste tipo.
Citando um pouco dos pontos negativos do primogênito da série, temos o desfecho de toda essa história, não irei detalhar a fim de evitar spoilers para aqueles que ainda não experienciaram, mas a maneira em que se encerra foi alvo de críticas da comunidade.
Também vale mencionar a repetitiva tarefa de coletar os Troféus do Charada, que não traz muita inovação ou serventia ao título.
Já Arkham City é o mais bem avaliado e premiado de toda a franquia, e traz um mundo aberto e uma história que enfatiza a corrupção e sujeira humana. Basicamente, nosso protagonista precisa lidar mais uma vez com inúmeros vilões, enquanto ainda precisa se curar de uma doença e se preocupar em descobrir sobre o tal “Protocolo 10” que está sendo desenvolvido por Hugo Strange. Tudo isso gera um senso de urgência que funciona muito bem no enredo, mantendo os jogadores entretidos no título.
Arkham City conta com diversos aperfeiçoamentos se comparado ao primeiro game, isso em apenas dois anos. Destaque para a jogabilidade, trazendo novos personagens jogáveis na história, melhorias para os acessórios e mecânicas de combate, e um mundo aberto com missões secundárias mais interessantes.
Sua proposta é um pouco mais leve que a anterior, já que não ficamos presos em um hospício repleto de perigo, mas ainda, sim, enxergamos aquele charme da DC em uma Gotham obscura e corrupta.
As boss fights são extremamente mais bem trabalhadas e inovadoras que a do jogo passado, com gameplays marcantes. Também não entrarei em detalhes a fim de não prejudicar a experiência dos que ainda não tiveram a oportunidade.
Por fim, Arkham Knight talvez não tenha sido um encerramento à altura da franquia, claro que é um bom jogo, mas a expectativa subiu muito depois de Asylum e City. Aqui estamos diante de uma jogatina mais dinâmica e mais fluida, com um melhor mundo aberto com missões secundárias ainda mais atrativas. Além de mais inovações no combate, o título também contou com avanços gráficos.
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A trama conta com o Espantalho sendo seu principal vilão, que pretende contaminar toda a cidade com o gás do medo. Mas para evitar algo genérico, a empresa também desenvolveu um novo antagonista, o Cavaleiro de Arkham, que possui uma identidade secreta. Seu objetivo será lidar com estes dois vilões, e o suspense para descobrir quem é o homem por trás do Cavaleiro de Arkham gera um mistério e curiosidade.
Porém, muitos fãs afirmam estar atrás dos outros devido a seu roteiro, a parte final do enredo influenciou negativamente a comunidade. Então entramos em outra discussão, será que as melhorias de Arkham Knight compensam a perda de aceitação pelo roteiro? A maioria das opiniões dizem que não.
Marvel’s Spider-Man
Mais uma franquia onde vamos analisar três jogos.
Como mencionado, a Rocksteady atingiu um sucesso estrondoso e ditou como deveriam ser produzidos os jogos de super-heróis. Podemos afirmar que o primeiro fruto colhido após a franquia Arkham foi o Marvel’s Spider-Man de 2018, desenvolvido pela Insomniac Games, empresa filha da PlayStation.
Neste cenário, nos deparamos com novos criminosos de Nova Iorque que possuem o objetivo de tomar o poder da cidade, até ocupando a lacuna do Rei do Crime, que foi preso. O roteiro oferece algumas reviravoltas e foi bem elogiado pela crítica e comunidade.
Marvel’s Spider-Man, por ser mais recente, disponibiliza uma gameplay mais fluida e gráficos incríveis. Porém, sua estrutura segue os mesmos moldes dos jogos do morcego, tendo seu enredo original e um sistema de combate parecido. Entretanto, fico feliz em dizer que não se trata de uma mera cópia.
Cada momento da trama pede um gameplay diferente, seja lutando com o Homem-Aranha, resolvendo desafios de lógica controlando Peter Parker, ou investigando casos com Mary Jane.
O título acerta nestes momentos, utilizando de experiências diferentes para cada um dos personagens, por exemplo, a Mary Jane evita ser vista dado que não possui grandes táticas ou acessórios de combate.
Ainda no quesito de gameplay, é importante mencionar a qualidade da movimentação com o nosso “amigo da vizinhança” pelos prédios.
E seu personagem pode oferecer vários outros movimentos com os upgrades, que é bem mais robusto oferecendo trajes com poderes, locais para equipar acessórios, e árvores de habilidades.
Como dito, as batalhas são semelhantes à saga Arkham, mas não o bastante para ser desmerecida como uma cópia. No jogo da Marvel percebemos uma dificuldade maior, nos obrigando a utilizar de esquivas, além de entender a mecânica de barra de foco, outra diferença é a capacidade de arremessar caixas ou itens para causar dano nos inimigos.
Assim como seu concorrente, Homem-Aranha também pode atacar de maneira furtiva.
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Os puzzles e mistérios durante o jogo não chamam a atenção tanto quanto no universo da DC, fornecendo soluções mais óbvias. Porém, devemos levar em consideração que este nunca foi o foco deste universo.
Por fim, destaco o vasto mundo aberto com inúmeros eventos e missões secundárias, desde colecionáveis até salvar vítimas inocentes de bandidos.
Dois anos depois, chegava Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, tratado como um Stand-Alone, um conteúdo que não precisa de um jogo base para funcionar, diferente de uma DLC, mas que também não possui um tamanho considerável de título Triple A.
Para muitos, o título tem um grande acerto em apresentar Miles como um novo protagonista, sua construção é bem feita e o roteiro é bem elogiado por isso.
No início, ele é picado por uma aranha radioativa e adquiriu poderes, desde então é treinado por Peter para ser mais um Homem-Aranha. Miles continua em um processo de entender como conciliar as responsabilidades de ser um herói com sua vida pessoal, além de estar descobrindo sobre suas novas capacidades. Tanto que em uma luta contra o Rino, ele percebe que suas características aracnídeas vieram com algumas diferenças, como poderes elétricos, e está um pouco confuso sobre como tudo isso funciona.
Essa proposta é um pouco diferente do primeiro, já que nosso protagonista ainda está se conhecendo e aprendendo, o que ajudou a diversificar dado que a base da gameplay (com exceção das novas habilidades) e do universo se manteve a mesma. Portanto, a Insomniac foi criticada por produzir muito menos conteúdo, uma história original, mas não tão forte quanto os outros games já mencionados aqui. Além de pouquíssimas mudanças no geral, cobrando um preço de um jogo completo.
Para finalizar, no ano passado tivemos o lançamento de Marvel’s Spider-Man 2, título exclusivo para PS5. Vemos a junção dos dois títulos anteriores, permitindo ao jogador controlar tanto Peter Parker como Miles Morales, cada um com habilidades, vantagens e fraquezas distintas.
Sua Nova Iorque é consideravelmente maior que a dos antecessores, com ainda mais refino nos poucos quesitos que receberam críticas.
Vale mencionar que algumas cenas finais enfatizam Norman Osborn, futuro Duende Verde. Onde na primeira ele faz uma ligação pedindo para prepararem o "Soro G", em outra está em um diálogo prometendo vingança contra os Spiders. Isso gera uma abertura e indícios de um possível Marvel's Spider-Man 3 com a presença do icônico vilão. Caso se concretize, será mais uma oportunidade para a Insomniac se destacar, e quem sabe, fazer outra revolução nos jogos deste nicho.
Notas, Prêmios e Indicações
Batman Arkham
Usando como métrica o Metacritic, a trilogia de Batman Arkham recebeu as seguintes notas:
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Totalizando 273 pontos de 300 possíveis.
Arkham City foi o jogo com maior nota, e não por coincidência, o com mais prêmios e indicações, veremos agora.
Batman: Arkham Asylum no VGA 2009:
Batman: Arkham City no VGA 2011:
Batman: Arkham Knight no TGA 2015:
Chegando no total de 18 indicações, tendo vencido em 5 delas.
Marvel’s Spider-Man
No mesmo site, os jogos do Homem-Aranha obteve estas notas:
Atingindo 262 de 300 possíveis.
No quesito de prêmios, a saga chegou em um número de indicações semelhante ao seu concorrente, 16. Mas infelizmente não levou nenhum.
Marvel’s Spider-Man no TGA 2018:
Marvel’s Spider-Man Miles Morales no TGA 2020:
Marvel’s Spider-Man 2 no TGA 2023:
Batman Arkham ou Marvel’s Spider-Man? Veredito Final
Muitos dos critérios aqui são passíveis de mais debate e argumentações, inclusive os prêmios, pois cada ano exigiu um nível diferente de qualidade. Os inúmeros títulos chamativos de 2023 juntamente de Red Dead Redemption II e God of War em 2018 tiraram vários prêmios para a saga Spider-Man, mas também não podemos ignorar a presença de Skyrim e The Witcher 3 que pesaram contra os jogos do universo DC.
O debate ocorrerá principalmente se levarmos em consideração, que, apesar de serem duas histórias de super-heróis, falamos de propostas e empresas diferentes, isso desde os filmes. A Marvel traz consigo batalhas extraterrestres, diversos heróis e vilões com superpoderes e em um tom mais fantástico, humorado e leve.
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Já a Detetive Comics muitas vezes investe no suspense de um assassinato em Gotham City, com vilões que geralmente são bandidos ou sociopatas, o que é mais realista, porém bem mais pesado. Claro que existem personagens poderosos e nada condizente com o nosso mundo, como a própria Hera Venenosa ou Brainiac, mas numa frequência menor.
Fique tranquilo que realmente darei uma resposta baseado em tudo que vimos hoje, apenas acho importante citar que você tem direito a manter a sua opinião independente de outros fatores, é completamente normal você se identificar mais com uma ou outra ideia, dado que são tão diferentes.
Por fim, vamos ao veredito, acredito que Marvel’s Spider-Man consegue replicar com muito êxito a estrutura criada pela Rocksteady, e, utilizando do avanço da tecnologia durante os anos, conseguiu implementar ainda mais aperfeiçoamentos nos gráficos, física e gameplay.
Em quesitos técnicos que puderam ser evoluídos com o tempo, podemos dizer que entrega mais que Batman Arkham, mas precisamos analisar todo o contexto, a saga da DC surgiu em 2009 e não teve nenhum grande jogo de heróis para usar como molde.
É claro que os gráficos e lutas de Homem-Aranha chamam mais a atenção, e pode realmente ser considerado melhor e mais divertido para aqueles que se acostumaram com títulos de qualidade mais atual.
Vejo como injusto comparar gráficos e fluidez com uma discrepância enorme de anos. O correto é analisar o que foi cada um em seu período, por exemplo, sinto que os gráficos de Batman Arkham, lado a lado com outros de 2009, conseguiu se destacar mais que Marvel’s Spider-Man se comparado a outros de 2018, tanto que a Rocksteady recebeu maiores notas e prêmios.
Enxergo que Batman foi superior nos tópicos que não são tão prejudicados com o passar dos anos, como roteiro e imersão. Mesmo depois de uma década e meia do lançamento, vejo Arkham Asylum e City com um enredo e construções de personagens mais profundos e bem elaborados que os da Marvel.
Este é meu veredito: Batman Arkham na sua época foi melhor e maior do que Marvel’s Spider-Man é hoje. Mas claro que se dermos o controle para um alguém que nunca experienciou os gráficos de 2009, ela irá preferir a franquia da Marvel.
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