Lost in Random: The Eternal Die é a aguardada continuação do aclamado Lost in Random (2021), desenvolvido pela Zoink Games e publicado sob o selo EA Originals. Se o primeiro jogo já era excêntrico e misturava narrativa sombria, combate tático The Eternal Die leva essa fórmula a um novo patamar.
Ambientado no mesmo universo de fantasia sombria inspirado em Tim Burton, o jogo coloca os jogadores no papel da Rainha Aleksandra, antes antagonista, agora ela é uma criança presa no temível Dado Negro. Acompanhada pelo dado consciente Fortune, sua missão é derrotar Mare, o Cavaleiro, entidade que controla essa dimensão infernal.
Neste spin-off os desenvolvedores abandonaram a estrutura de ação-aventura em terceira pessoa do original e adotaram um formato roguelite isométrico com um mundo mais vasto, mecânicas mais refinadas e uma carga emocional mais pesada.
Mas será que a aposta valeu a pena? Neste review vamos ver todos os aspectos que fazem desta sequência um dos títulos mais intrigantes do cenário indie de 2025.

Um Mundo Rico Com Desperdícios
A história se passa décadas após os eventos do jogo original, onde Even e seu dado mágico Dicey desafiaram a tirania da Rainha e a lógica opressora do acaso. Agora, o reino de Random se encontra novamente à beira do colapso, não por tirania, mas por desordem total. Após a destruição do Dado Real, o equilíbrio das seis regiões foi corrompido por um novo artefato: o Die, um dado misterioso e aparentemente infinito que não se contenta com seis lados, mas muda constantemente, carregando consigo poderes arcanos, realidades alternativas e fragmentos do tempo.
Você joga como Odda, uma jovem órfã criada nas Ruínas de Tres, que encontra um fragmento do Die e, sem querer, se torna a nova portadora do destino. Com seu próprio dado instável, apelidado de Zee, ela precisa percorrer um mundo mais instável do que nunca, onde tudo enlouqueceu e os dados não rolam mais a favor de ninguém.
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Narrativa e Escrita
A escrita de The Eternal Die está mais afiada. A narrativa continua a tradição de misturar temas adultos com uma aparência infantil, explorando dilemas existenciais como livre arbítrio, identidade e medo do esquecimento. O jogo é cheio de diálogos sarcásticos, personagens interessantes e pequenas histórias que lembram obras de Neil Gaiman e os contos sombrios dos Irmãos Grimm.
Odda é uma protagonista mais introspectiva que Even, e isso se reflete no ritmo da história. Sua história não é sobre derrubar um regime, mas sobre entender o caos e encontrar propósito em meio à aleatoriedade. Seu dado, Zee, diferente de Dicey, fala em fragmentos de memória, revelando aos poucos uma conexão trágica com os antigos Deuses do Acaso.
As escolhas do jogador agora têm mais impacto. Dependendo dos dados rolados e decisões tomadas em momentos cruciais, o final muda radicalmente, há cinco finais possíveis, todos coerentes com os temas centrais da obra.

Problemas Estruturais
Embora a história seja interessante, a maior decepção do jogo reside em sua própria narrativa. Enquanto o título original foi aclamado por sua história imersiva e personagens fascinantes, The Eternal Die trata a trama como um mero pano de fundo:
- A introdução resume eventos cruciais como a morte da irmã de Aleksandra e sua queda no Dado Negro em 30 segundos, sem contextualização. Para jogadores novos, é como entrar no meio de um filme.
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- A progressão desbloqueia "salas de memória" com diálogos curtos, mas elas não aprofundam a lore ou os motivos da protagonista. Personagens memoráveis do primeiro jogo aparecem brevemente, mas servem apenas como "participações especiais" desconectadas.
- O desfecho varia conforme o resgate de NPCs, mas as escolhas necessitam de peso dramático. A transformação do Dado Negro em "Dado Eterno" é simbólica, porém pouco impactante.
Dependência do Original
O jogo assume que o jogador conhece Lost in Random. Sem essa bagagem de conhecimento, a jornada de Aleksandra perde muito de seu significado. Mare, o vilão, é apresentado como "um cavaleiro maligno" sem motivações claras, algo que desperdiça a complexidade moral que existe.

Atmosfera e Estilo Visual
Assim como seu antecessor, The Eternal Die mantém a estética gótica e surreal que já é a marca registrada da franquia. Visualmente, o jogo mostra seu amor a filmes como Coraline, O Estranho Mundo de Jack e 9 – A Salvação. O design dos personagens mistura o grotesco e o encantador, com bonecos de pano, criaturas mecânicas, soldados de cartas e novas ameaças que parecem ter saído diretamente de pesadelos infantis.
Cada região do Reino de Random tem sua própria identidade visual, mas agora as áreas são mais desenvolvidas. Uno, por exemplo, é uma cidade quebrada onde tudo é decidido em cara ou coroa, enquanto Cinco está congelada no tempo, com cidadãos presos em loops temporais. A nova área chamada Zero é um não-lugar, onde regras não se aplicam e a realidade se dobra constantemente.
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A direção de arte é, sem exagero, brilhante. A iluminação sombria, a trilha sonora melancólica, os efeitos sonoros inquietantes e os detalhes minuciosos criam uma experiência muito imersiva, quase teatral, que hipnotiza o jogador desde os primeiros minutos.
Gameplay Onde os Dados Rolam a Favor da Inovação
Se há um lugar onde The Eternal Die realmente evoluiu, é no gameplay. O primeiro jogo já apresentava um sistema de combate único: ação em tempo real pausada por rolagens de dados que liberavam cartas com armas e habilidades temporárias. Nesta sequência o jogo expande isso de maneira genial.
Agora, Zee pode ter até 12 lados, liberados conforme o progresso na campanha. Cada lado desbloqueado pode conter runas elementais, efeitos malditos ou bênçãos. As cartas, por sua vez, são mais diversificadas e combináveis, permitindo a construção de decks complexos e personalizados.
O combate está mais fluido, com inimigos que exigem mais táticas. Algumas batalhas ocorrem em arenas onde o cenário muda a cada jogada de dado, placas caem, plataformas somem, inimigos são reordenados aleatoriamente. A imprevisibilidade é parte do que chama atenção e agora você pode manipular levemente os resultados com habilidades de “viesar” os dados, oferecendo um equilíbrio interessante entre sorte e estratégia.
A árvore de habilidades também foi expandida. Odda pode aprender técnicas ligadas à manipulação do tempo, à duplicação de efeitos ou até mesmo à invocação de entidades feitas de pura aleatoriedade. Cada arma pode ser carregada para golpes especiais e personalizada com upgrades permanentes no Santuário (hub entre partidas).

Mundo Semiaberto e Exploração
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Enquanto o primeiro jogo era mais linear, The Eternal Die adota um formato semiaberto, com zonas interconectadas que podem ser revisitadas com novas habilidades. Cada região esconde segredos, missões secundárias e mini-histórias que deixam o universo do jogo mais interessante e mais rico em detalhes. Há missões que envolvem enigmas de lógica, labirintos dimensionais e até combates de cartas.
Explorar o jogo recompensa o jogador com melhorias de gameplay e fragmentos narrativos: cartas antigas, registros de dados e ecos dos primeiros usuários do Die. O jogo valoriza a curiosidade e a atenção aos detalhes.
Progressão Roguelite Bem Equilibrada
A morte não é o fim, mas uma oportunidade de evolução:
- Meta-Upgrades: Duas moedas (uma para upgrades da rainha, outra para armas) permitem desbloquear habilidades passivas ("Bênçãos") e melhorias de equipamentos.
- Geração Procedural: Os quatro biomas (como pântanos nevoentos e fortalezas góticas) apresentam salas aleatórias, combates, lojas, fontes de cura ou jogos de azar com recompensas.
Dados Técnicos e Desempenho
No lançamento, The Eternal Die apresentou desempenho sólido, especialmente nos consoles de nova geração e no PC. O jogo roda a 60 fps constantes no PS5 e Xbox Series, com tempos de carregamento praticamente inexistentes graças ao uso eficiente do SSD, mas a versão Switch sofre com pop-in de texturas.
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Há suporte para ray tracing em tempo real e opções de acessibilidade que vão desde ajustes de cor e tamanho de texto até uma “dificuldade narrativa”, focada exclusivamente na história.
Apesar disso, pequenas falhas visuais podem ocorrer como clipping ocasional, bugs em colisão e travamentos pontuais durante trocas rápidas de região. Não é nada que comprometa seriamente a experiência, mas o time da Zoink já prometeu patches corretivos.

Prós e Contras
Prós
- Duração: O jogo leva em média 15 horas, mas desbloquear os finais alternativos e deixa o upgrade no máximo vai estender a campanha para 25+ horas.
- Modos de Dificuldade: Opções ajustáveis (ex.: +danos inimigos vs. +vida do jogador) permitem personalizar o desafio.
- Fãs de Roguelites: O combate é comparável a Hades em fluidez, mas com menos profundidade narrativa.
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- Amantes do Primeiro Jogo: Apesar das falhas na trama, revisitar Random é uma experiência nostálgica.
- Novatos no Gênero: A curva de dificuldade acessível e meta-progressão generosa são ideais para iniciantes.
Contras
- Narrativa: Se voce prioriza narrativa sobre gameplay ou desconhece o original o jogo vale mais pelo gameplay.

Conclusão
Lost in Random: The Eternal Die é uma ótima sequência. Melhora quase tudo que seu antecessor propôs, e ousa em explorar temas mais densos, oferecendo mais liberdade ao jogador e criando um mundo mais fascinante. É um jogo que desafia a noção de controle, onde cada rolagem de dado carrega consequências reais, às vezes trágicas, às vezes cômicas, mas sempre significativas.
Como roguelite, brilha com combate tático, uma progressão muito satisfatória e um sistema de dados inovador. A arte é deslumbrante e a trilha sonora elevam o jogo. Odda e Zee não apenas nos levam por uma aventura visualmente admirável, mas também nos fazem refletir sobre as ironias do acaso, o valor da escolha e o preço da ordem em um mundo onde tudo pode mudar com um giro.
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Entretanto, a narrativa é uma oportunidade perdida. A decisão de reduzir a rica lore do original a fragmentos desconexos vai decepcionar tanto fãs antigos quanto os novos. Em um mundo onde Hades 2 e Inscryption provaram que narrativa e roguelites podem coexistir, a escolha em The Eternal Dieparece um retrocesso ao gênero, mesmo com o universo de Random se tornando mais rico, sua mitologia mais profunda e sua jogabilidade mais envolvente
Se você gostou do primeiro Lost in Random, esta sequência é algo obrigatório. Se você nunca jogou, The Eternal Die é uma excelente porta de entrada, sendo recomendado jogar o primeiro para entender todo o contexto.
Lost in Random: The Eternal Die está disponível para PC, Switch, PS5 e Xbox Series X/S e disponível no Game Pass.
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