O ano de 2024 foi marcante para o gênero JRPG, com lançamentos muito aguardados como Final Fantasy VII Rebirth, Persona 3 Reload e Like a Dragon: Infinite Wealth, que consolidou ainda mais a série Yakuza no gênero. Diante de tantos títulos de peso, parecia improvável que outro jogo tomasse a coroa de Melhor JRPG do ano. No entanto, a Atlus conseguiu surpreender com Metaphor: ReFantazio.
Desenvolvido pelos mesmos criadores da série Persona, Metaphor representa uma evolução das mecânicas e estética características dos jogos da Atlus, mas agora ambientadas em um cenário de alta fantasia medieval. Para sua estreia nesse novo tema, o diretor Katsura Hashino e sua equipe entregaram um dos jogos mais elaborados do estúdio, que rapidamente se tornou um must-play desta geração.
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Embora possa ser considerado um “Persona de Fantasia”, Metaphor não se limita a replicar os elementos da franquia. Ele pega tudo o que fez de Persona 5 um dos JRPGs mais aclamados da geração passada, transporta para um mundo distante das grandes cidades, e busca aprimorar suas falhas, ao mesmo tempo que inova, especialmente no sistema de Archetypes. O jogo se destaca pela customização de personagens e pela otimização do uso de “tempo livre” entre as atividades, trazendo uma evolução clara no design.
A seguir, você confere minha análise completa, que aborda aspectos técnicos da obra sem spoilers. Em breve, publicaremos um artigo focado na narrativa, explorando os temas principais e como eles se conectam com os conceitos herdados da série Persona, onde discutiremos os spoilers da trama em detalhe.
Ficha Técnica
Desenvolvedora: Atlus, Studio Zero
Plataformas: PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series, PC
Gênero: RPG
Lançamento: 11 de outubro de 2024
Persona de Fantasia ou Fantasia com Persona?
Desde o momento em que apertamos o botão de "New Game", Metaphor desperta dois sentimentos distintos: ele é muito semelhante a Persona, mas ao mesmo tempo, claramente diferente. A premissa inicial ilustra bem essa dualidade: enquanto Persona insere temas do mundo real na fantasia, Metaphor traz uma idealização da realidade para o universo da ficção.
No gameplay, Metaphor se alimenta fortemente do que Persona solidificou. O sistema de combate mantém a essência de "pedra-papel-tesoura" entre elementos e tipos de ataque, que ampliam ou reduzem as ações possíveis antes do turno do oponente. No entanto, há novas camadas de complexidade, como a divisão dos ataques físicos em Slash, Pierce e Strike, além de como diferentes proteções alteram a sequência dos turnos.
O jogo também se inspira muito em Persona nos aspectos narrativos. Seus personagens, na maioria jovens, enfrentam dilemas que levam ao despertar de poderes ocultos, representados pelos Archetypes, personificações das virtudes dos heróis. Conceitos como o inconsciente coletivo e a capacidade das massas de moldar a realidade, comuns na série Persona, são traduzidos para o contexto de uma fantasia medieval.
Essa forte influência traz um desafio: enquanto Metaphor tenta aprimorar o que a Atlus fez com seus jogos anteriores e se estabelecer como algo único, em alguns aspectos ele absorve tanto das ideias de seu predecessor que luta para encontrar sua própria identidade. Embora consiga se diferenciar em certos pontos, o jogo às vezes parece preso entre "quase um spin-off de Persona" e "um novo título da Atlus", resultando em um meio-termo que impede o jogo de se destacar completamente como algo original.
Archetypes são a melhor escolha para o futuro de jogos da Atlus
Se Persona tem algo a aprender com Metaphor, é no combate. O sistema de Archetypes é um dos elementos de customização mais flexíveis em JRPGs recentes, mesmo sem trazer inovações que já não tenham sido exploradas em jogos como Final Fantasy ou Like a Dragon.
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Nos últimos anos, muitos RPGs têm oferecido personalização quase ilimitada no combate e na construção de personagens. Enquanto alguns mantêm sistemas de classes tradicionais, outros permitem que o jogador transforme os personagens em qualquer função. Metaphor combina essas duas abordagens, criando um dos sistemas de classes mais bem executados dos últimos tempos.
Os Archetypes são desbloqueados ao longo da história, à medida que o jogador conhece novos personagens. Cada Archetype define habilidades e status-base, como o Knight, que atua como Tanker, ou o Mage, especializado em magias elementais. Conforme os personagens sobem de nível, eles também podem herdar habilidades de outras classes, sem qualquer restrição.
Na prática, esse sistema de herança permite criar combinações únicas, como Tankers que usam magia ou curandeiros com habilidades de enfraquecimento. Embora o Archetype escolhido defina os status-base, os jogadores têm a liberdade de personalizar personagens para qualquer função, garantindo um combate dinâmico e estratégico.
Exploração e grande jornada criam melhorias no uso do tempo
Metaphor reutiliza o ciclo de calendário fixo para controlar o progresso da história e o tempo disponível para atividades extras. Essas atividades incluem missões secundárias, exploração de masmorras e momentos de interação com os companheiros, que melhoram as relações e concedem benefícios dentro e fora do combate.
Interagir com os companheiros é essencial para evoluir os personagens e aprimorar o combate, já que muitos Archetypes ficam bloqueados até que essas relações avancem. O jogo facilita a gestão do tempo limitado ao permitir que os jogadores aproveitem viagens para interagir com aliados ou realizar atividades que aumentam habilidades sociais, dobrando o valor de um único dia no calendário.
Uma mudança bem-vinda é a otimização do progresso das relações. Diferente de Persona, onde é preciso gastar tardes em atividades irrelevantes para aumentar a afinidade, Metaphor só exige interação quando os personagens estão prontos para avançar em suas histórias. Algumas vezes, será necessário completar masmorras opcionais ou melhorar uma habilidade, mas essas exigências são bem sinalizadas na página de seguidores, acessível com facilidade ao pressionar um botão.
Design repetitivo de masmorras
A exploração pelo continente é medida pela passagem de dias: viajar de uma cidade até uma caverna pode levar de uma noite a três dias, dependendo da distância. Durante essas viagens, os jogadores podem realizar atividades, enfrentar inimigos ou até encontrar chefes secretos no caminho.
As viagens normalmente levam às masmorras, divididas em três tipos: Selva, Caverna e Torre. Cada masmorra possui um objetivo próprio, como caçar uma fera ou encontrar um tesouro perdido, e é comum que missões secundárias envolvam a exploração desses locais.
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No entanto, as masmorras são uma das principais falhas de Metaphor. A maioria tem designs muito semelhantes e poucos oferecem um diferencial relevante. Os objetivos também se repetem: caçar monstros geralmente envolve eliminar inimigos menores ou coletar itens, enquanto explorar cavernas exige encontrar atalhos e baús escondidos, culminando em uma sala protegida por um chefe. As Torres, por sua vez, consistem em escalar até o topo para enfrentar um chefe ou conquistar um tesouro.
Essas atividades se tornam repetitivas com o tempo e parecem quase obrigatórias, já que Metaphor apresenta picos de dificuldade a cada capítulo. Se os jogadores não explorarem as masmorras, correm o risco de não evoluírem o suficiente e perderem oportunidades de aprimorar outros aspectos do gameplay.
Todas as mecânicas se alinham perfeitamente
Missões secundárias envolvem visitar vilarejos menores ou paisagens únicas, o que está diretamente ligado ao progresso das relações com os personagens. Para acessar esses locais, os jogadores precisam atravessar masmorras. Para aceitar missões, é necessário interagir com NPCs ou a guarda, que oferecem contratos de caça. Para enfrentar monstros poderosos, os jogadores devem fortalecer suas relações com os aliados para desbloquear Archetypes mais poderosos. E para utilizar esses Archetypes, é preciso explorar as masmorras e ganhar experiência.
Cada mecânica de Metaphor está integrada de forma exemplar. Nenhuma existe isoladamente, tornando o design do jogo um modelo ideal para RPGs, sejam eles por turnos ou em tempo real. As atividades secundárias são relevantes, nunca soando como uma obrigação desnecessária, e estão perfeitamente alinhadas com a narrativa e os temas do jogo.
Cruzando as linhas entre Fantasia e Realidade
A trama se desenrola em torno de uma corrida eleitoral, na qual, por decreto do antigo rei, a sucessão ao trono é decidida pela vontade do povo. Qualquer cidadão pode se candidatar, iniciando uma disputa intensa para ganhar a confiança popular e, assim, se tornar o novo governante. Esse processo de "democracia mágica" oferece uma interpretação singular de sucessão política em um mundo de fantasia.
O jogo aproveita essa estrutura para explorar temas políticos e sociais relevantes, como eugenia, racismo e a relação entre Estado e Fé. Esses tópicos funcionam como contrapontos ao idealismo do universo fictício, destacando as dificuldades e tensões que os personagens enfrentam, muitas das quais refletem questões que ecoam na sociedade contemporânea. Metaphor incita o jogador a refletir sobre a construção de um "mundo perfeito" e sobre o papel da fantasia em moldar percepções e aspirações na realidade.
A narrativa também apresenta uma diversidade de personagens com visões divergentes sobre o futuro do reino. Alguns defendem a manutenção das tradições e do status quo, enquanto outros clamam por mudanças radicais. Embora o jogo não explore todos os temas e personagens com a mesma profundidade, ele oferece uma reflexão sobre os princípios que fundamentam a escolha democrática e o poder da vontade coletiva.
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Prós e Contras
Prós
Contras
Nota
9.2 / 10
Conclusão
Metaphor: ReFantazio é um RPG que prende o jogador pela narrativa, especialmente quando atinge seu clímax após uma imersão no mundo criado e te prende nele do início ao fim. No entanto, o New Game Plus não traz novidades suficientes para justificar uma segunda jogada com o mesmo entusiasmo e a fórmula de gameplay baseada em calendários, característica da Atlus, pode se tornar cansativa numa segunda jornada.
Ainda assim, como Persona 5, Metaphor se firmará como um dos melhores JRPGs desta geração, conquistando seu espaço apesar de ter um orçamento menor do que muitos outros grandes lançamentos de estúdios Triple A.
O jogo consegue equilibrar bem elementos clássicos da Atlus com inovações sutis que, embora não reinventem a fórmula, demonstram a capacidade do estúdio de refinar suas ideias e será lembrado como o melhor JRPG de 2024, tanto por sua lealdade às raízes da Atlus quanto por suas melhorias que devem permear títulos futuros.
Obrigado pela leitura!
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