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Eriksholm: The Stolen Dream – Uma Aventura Tensa, Linda e Rígida

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Eriksholm é uma narrativa focada em furtividade em uma jornada política, tensa e emocionante, com belos gráficos que mostram o poder da Unreal Engine 5

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revisado por Romeu

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Eriksholm: The Stolen Dream é um daqueles jogos que não chegam fazendo barulho, mas chamam a atenção de quem presta atenção em lançamentos mais autorais. Desenvolvido pelo pequeno estúdio sueco River End Games, com publicação da Nordcurrent Labs, o game mistura stealth, puzzle e drama em uma história que se passa em um regime autoritário fictício, inspirado pela Escandinávia do início do século XX.

O jogador assume o papel de Hanna, uma jovem órfã que vê seu irmão ser levado à força por guardas. A partir daí, ela se envolve com a resistência e conhece Alva e Sebastian, dois personagens com habilidades únicas que se juntam à jornada. O trio protagoniza a narrativa e o gameplay, que gira em torno de infiltrações, furtividade e resolução de desafios com múltiplas camadas.

Eriksholm e a Varíola do Coração

Eriksholm é uma cidade típica europeia da década de 1900. Hanna, nossa personagem principal, acaba de despertar de um sono profundo e encontra-se com seu irmão, Herman, cuidando dela. Ela acaba de se recuperar, milagrosamente, de uma misteriosa doença que vem assolando a cidade e poucos sobrevivem a ela. Essa doença de Hanna tornou a vida dos irmãos ainda mais difícil do que antes, então, Herman pega as suas coisas e está pronto para ir trabalhar. Hanna insiste em ir junto, mas ela deve descansar.

Algumas horas depois, a polícia bate à porta de Hanna, três policiais perguntando sobre Herman. Eles não falam o que aconteceu e nem o por quê estão procurando por Herman. Fica entendido pela forma que Hanna reage que ela já teve problemas com a polícia antes e, quando eles a chamam para um interrogatório, fica claro que acompanhá-los não é opcional.

Hanna então escapa por uma tubulação de ventilação e usa seu conhecimento dos arredores do prédio onde vive para escapar da polícia. Quando ela sai do prédio, ela precisa lidar com as polícias ao redor da cidade, que bloquearam as saídas para que ninguém deixe a cidade. Hanna precisa agora escapar e descobrir o que aconteceu com seu irmão e vai em busca da ajuda de uma antiga associada, Alva. Mas para isso, primeiro, ela precisa sair.

Visual impressionante com clima cinematográfico

Logo nos primeiros minutos, fica claro que Eriksholm é um jogo visualmente caprichado. Construído na Unreal Engine 5, ele apresenta cenários ricos em detalhes, com iluminação dinâmica, efeitos de luz e sombra bem aplicados e uma ambientação que realmente passa a sensação de um lugar frio, opressor e desigual.

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A câmera isométrica, somada ao estilo “diorama vivo”, dá uma sensação quase teatral à movimentação dos personagens. Tudo é bonito sem exagerar, e a direção de arte acerta em cheio ao criar um mundo crível sem precisar de mapas gigantescos.

O jogo também se destaca no uso de ângulos fixos para dar foco em momentos específicos. Esses enquadramentos, geralmente usados durante diálogos ou cenas de exploração, ajudam a contar a história de forma visual, quase como se o jogador estivesse assistindo a um filme em miniatura. A escolha estética é clara e bem executada, o que ajuda o jogador a se conectar com o ambiente mesmo sem controles de câmera.

Trilha sonora e dublagem de alto nível

Outro ponto alto de Eriksholm é o áudio. A trilha sonora é discreta, mas bem aplicada, aparecendo nos momentos certos para gerar tensão ou reforçar o peso emocional das cenas. Mas o grande destaque aqui vai para as atuações de voz. O trio principal — Hanna, Alva e Sebastian — é dublado por atores que entregam interpretações naturais, com emoção na medida certa. Hanna soa vulnerável, mas nunca fraca. Alva é mais fria e lógica, enquanto Sebastian carrega um tom mais afetivo, ligado ao passado. Essas nuances ajudam a criar empatia com os personagens e sustentam a narrativa sem precisar de muitos exageros.

O design de som também é eficiente. Passos em madeira, ecos em ambientes fechados, sons metálicos ou ruídos à distância compõem um ambiente auditivo que reforça a tensão da furtividade e pode ser usado para ajudar ou atrapalhar o jogador. Tudo contribui para a imersão, mesmo que você esteja apenas observando a movimentação dos inimigos, esperando a hora certa de agir.

Stealth como quebra-cabeça

O gameplay de Eriksholm é centrado em furtividade, mas não da forma mais tradicional. Aqui, cada encontro é tratado como um tabuleiro de xadrez. Em vez de dar liberdade para improvisar, o jogo exige que o jogador descubra a “solução certa” para passar pelos guardas ou atravessar áreas. Isso se encaixa com a proposta de ser um jogo mais guiado, mas pode frustrar quem prefere abordagens mais abertas.

Cada personagem tem suas próprias habilidades. Hanna é ágil e consegue passar por passagens pequenas. Alva é especialista em tecnologia e pode abrir fechaduras. Já Sebastian usa ferramentas e objetos para abrir caminhos ou criar distrações. A combinação dessas habilidades é a base da jogabilidade, e quando os três estão disponíveis ao mesmo tempo, o jogo oferece desafios mais elaborados.

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O problema é que a campanha demora para liberar o trio completo. Durante boa parte da história, o jogador controla apenas Hanna, o que limita bastante o tipo de puzzle e torna a progressão repetitiva até a metade do jogo. A sensação é de que o jogo guarda o melhor para depois, o que atrasa o momento em que ele realmente brilha.

Level design bonito, mas limitado

Um dos pontos mais críticos do game é a linearidade. Apesar do visual elaborado e da variedade de ambientes, os níveis seguem um caminho bem definido. Em muitas situações, há apenas uma forma possível de passar pelos inimigos, o que transforma o stealth em tentativa e erro. Não há liberdade para explorar ou improvisar soluções, como em jogos da série Hitman ou Dishonored.

Isso não significa que o jogo seja mal feito — na verdade, ele faz muito bem aquilo que se propõe. Mas a rigidez do design pode deixar a experiência engessada. Se você errar a sequência certa de ações, será pego, voltará ao último checkpoint e terá que repetir a mesma sequência até acertar. A sensação é de que você está resolvendo um enigma, e não jogando com liberdade.

Ritmo instável e picos de frustração

Outro ponto que pode incomodar alguns jogadores é a inconsistência no ritmo. Alguns trechos são calmos, com tempo de sobra para planejar ações. Outros exigem timing quase cirúrgico, com janelas mínimas para agir. Como a inteligência artificial dos inimigos não é muito elaborada, o desafio vem mais da execução precisa do que da adaptação. Isso pode gerar frustração em momentos-chave, principalmente quando o jogador precisa alternar entre personagens com rapidez e precisão.

Além disso, os checkpoints, embora sejam frequentes, nem sempre estão bem posicionados. Em algumas fases, erros pequenos forçam o jogador a refazer sequências longas, o que quebra o ritmo e pode gerar cansaço. Embora isso não seja um problema constante, quando acontece, é perceptível.

Narrativa envolvente, mesmo sem grandes surpresas

A história de Eriksholm é bem escrita e cumpre seu papel de carregar o jogador até o fim. Os diálogos são naturais, os temas são sérios sem cair no melodrama, e os personagens evoluem de forma crível. O mundo é construído com cuidado, e há espaço para explorar temas como autoritarismo, luto, resistência e sacrifício.

O trio principal carrega a trama com carisma, e como eles se conectam aos poucos, cria empatia real. Mesmo sem reviravoltas chocantes, o jogo consegue manter o interesse pela jornada de forma constante.

Sem modos extras, sem replay

Um dos maiores problemas do jogo é o fator replay. A experiência é praticamente única: jogou uma vez, viu tudo. Não há modos alternativos, não há desafio extra, nem um New Game Plus. Como os puzzles têm soluções únicas, não faz sentido rejogar as fases, já que não há variações de abordagem. Você pode explorar a fase um pouco mais atrás de colecionáveis se você for um ávido colecionador de troféus e colecionáveis, mas fora isso, não há muito motivo para explorar. O jogo simplesmente termina e pronto.

Isso seria menos problemático se o game tivesse múltiplos finais, fases secretas ou colecionáveis com impacto real. Mas nada disso está presente. Por isso, apesar da qualidade técnica e narrativa, Eriksholm sofre para se manter relevante depois da primeira jogada. O valor pago pode parecer alto diante da curta duração (cerca de 12 a 15 horas) e da ausência de conteúdo adicional.

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Desempenho e estabilidade

Do ponto de vista técnico, o jogo é estável na maior parte do tempo. No PC, roda bem com hardware intermediário, desde que o jogador não exagere nos efeitos gráficos. Nos consoles, especialmente no PS5, foram relatadas quedas de framerate em momentos mais intensos ou em áreas com muita iluminação dinâmica. Nada grave, mas perceptível.

Bugs não são frequentes, mas existem. Travamentos na troca de personagem, sombras desalinhadas e colisão de objetos em cantos escuros foram apontados por jogadores na Steam e no Reddit. A desenvolvedora tem lançado patches desde o lançamento e já corrigiu vários desses problemas, mas ainda há espaço para melhorias.

Prós e Contras

Prós:

• Arte e ambientação impressionantes;

• História com peso emocional;

• Excelente dublagem e personagens bem construídos;

Contras:

• Movimentação um pouco travada;

• Duração curta para o preço;

Conclusão

Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo de nicho, mas muito bem-feito dentro da sua proposta. Não tenta ser um mundo aberto, nem um RPG com múltiplas decisões. Ele é focado, fechado e controlado. Para quem gosta de jogos de stealth com pegada de puzzle, e valoriza narrativa e apresentação técnica, é uma ótima escolha. Para quem prefere liberdade, improviso e múltiplos caminhos, pode decepcionar.

É uma experiência intensa, mas curta. Visualmente impressionante, mas com pouca flexibilidade. Narrativamente bem construída, mas sem reviravoltas marcantes. É um jogo autoral que vale pela jornada, mas não pelo conteúdo extra — porque ele simplesmente não existe.

Se você está disposto a aceitar essa proposta mais engessada e quer mergulhar em um drama tático com cara de filme indie, Eriksholm entrega o que promete. Mas se você está em busca de liberdade, variedade e conteúdo para semanas, talvez seja melhor esperar por uma expansão ou promoção.