A premissa narrativa de Bloodless, jogo desenvolvido pelo estúdio brasileiro Point n’ Sheep e ganhador do prêmio Melhor Jogo (Brasil) da BIG Festival 2023, é bem simples: a ronin Tomoe volta para sua terra natal conhecida como Bokugawa para restaurar a paz e enfrentar os fantasmas do passado onde obedeceu às ordens de seu antigo mestre, o shogun Akechi.
Nada parece fora do roteiro convencional de muitos filmes de ação ou até de games que oferecem uma trama semelhante, mas conforme experimentamos a demo durante a Gamescom Latam 2024, mais evidente ficou que o valor da obra não está naquilo posto diretamente ao jogador, mas na riqueza sutil dos seus detalhes.
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Ficha Técnica - Bloodless
Redenção Desarmada
Apesar dos paralelos iniciais com filmes de ação, a narrativa de Bloodless começa a se destacar a partir de um elemento crucial da sua gameplay: Tomoe, a personagem controlável do jogo, abdica de espadas em prol de seus punhos, visando desencorajar seus oponentes a lutar quebrando suas armas.
Por consequência, a batalha contra o exército do Shogun não é muito justa e Tomoe precisa usar todas as suas habilidades para enfrentar seus inimigos sem tirar suas vidas. Em termos de jogabilidade, esse juramento se reflete na própria maneira como combates se desenrolam: é necessário desviar dos golpes dos adversários e entender o timing certo de contra-atacar para desarmá-los.
Esse processo de desviar e acertar o tempo dos ataques para fazer um parry parece simples e se apresenta como tal durante os primeiros minutos da demo, mas conforme novos adversários surgem, também aparecem novos desafios como os de desviar após o parry para não sofrer um golpe surpresa, ou a necessidade de usar ataques de ki para diminuir a resistência dos oponentes.
Diferente da mecânica de parry, os ataques de ki são uma sequência de golpes e combos que Tomoe pode fazer para reduzir a resistência dos inimigos e deixá-los atordoados. Existem inimigos que só podem ser desarmados dessa maneira e o jogo promete uma boa quantidade de combos e ataques diferentes para cada jogador customizar sua experiência como quiser.
Contemplação e quebra de paradigmas como parte do charme
Uma vez iniciada a demo, é impossível não perceber o nível de detalhamento que a Point n’ Sheep colocou em seu título: com um estilo retro em píxel art que remete aos jogos do fim dos anos 80 e começo dos anos 90, Bloodless oferece uma exposição visual rica em detalhes, com trilha sonora contemplativa que motiva jogadores a explorarem os mapas, com a movimentação vívida de cada elemento nele ocorrendo simultaneamente.
Segundo Leona Clarc, responsável pela direção artística do jogo, a equipe recebeu diversos feedbacks do público em eventos e feiras de games desde o seu desenvolvimento inicial em 2020, e a maneira como exploramos o cenário visa recompensar a própria exploração.
Uma vez imerso nas terras de Bokugawa, é impossível não perceber os paralelos com diversos outros títulos mainstream, como a decisão de desarmar ao invés de matar seus inimigos, ou a escolha de evitar tornar da recompensa de exploração um elemento material. Esse sentimento busca passear também pela narrativa, onde a protagonista se trata de uma senhora idosa, que apesar de muito habilidosa, é frequentemente subestimada pelos seus aliados e inimigos por sua idade avançada.
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Lançamento e Expectativas
Tendo seu lançamento previsto para 29 de agosto para a Steam e em data posterior de outubro para Nintendo Switch, Bloodless já carrega altas expectativas da comunidade latina de games desde que ganhou o prêmio de Melhor Jogo na categoria Brasil da Big Festival 2023, além da presença da equipe de desenvolvimento na Gamescom Latam, onde apresentaram seu próprio painel na tarde da última quinta-feira (27).
O estilo de combate e elementos de jogabilidade apresentam uma boa dose de desafios, com a necessidade de se mover em direção ao seu oponente e descobrir o timing ideal para os ataques enquanto outros podem lhe cercar, ou na dificuldade de ler os movimentos de determinados adversários, além de uma trilha sonora que faz jus a proposta narrativa e visual do jogo.
Bloodless não é um jogo para todo mundo: fãs de títulos mais combativos podem ficar desapontados, ou pessoas que tem problemas em identificar elementos em mapas com baixa cadência de cores podem sentir dificuldades para navegar no mapa, mas seu potencial - com um prêmio - está posto a mesa, sendo certamente um título a considerar para fãs de jogos indie e os que apreciam games de aventura com aquele ar de retrô.
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