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Análise de Tales of the Shire - Entre o sossego e o tédio

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No novo jogo baseado no universo de Tolkien, Tales of the Shire, o foco está no cotidiano. Analisamos o que funciona (e o que decepciona) nesse jogo que divide opiniões!

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revisado por Romeu

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Contextualizando

Lançado em julho de 2025, Tales of the Shire é o mais recente título desenvolvido pela Wētā Workshop em parceria com a Private Division. Inspirado no universo de J.R.R. Tolkien, o jogo abandona a fantasia épica característica da Terra Média para oferecer uma experiência mais íntima e serena: viver como um hobbit em Bywater, no coração do Condado. O foco está em tarefas cotidianas como jardinagem, pesca, culinária e convívio com os vizinhos, em um ambiente que tenta replicar o espírito acolhedor de O Hobbit.

A proposta chama a atenção, principalmente para quem aprecia jogos com ritmo mais lento e atmosferas reconfortantes. No entanto, desde o lançamento, Tales of the Shire vem dividindo opiniões. Enquanto alguns jogadores encontram encanto na simplicidade da rotina Hobbit, outros apontam limitações estruturais e problemas técnicos que comprometem a experiência.

Trailer oficial:

Desempenho Técnico Compromete a Experiência

Um dos principais obstáculos enfrentados por Tales of the Shire está na sua performance irregular em diferentes plataformas. Jogadores que experimentaram o título no PlayStation 5 ou no novo Switch 2 relatam uma experiência estável e visualmente consistente. Nessas versões, o jogo roda bem, sem travamentos e com tempos de carregamento aceitáveis.

No entanto, o mesmo não se pode dizer do Switch original. Vários relatos indicam quedas frequentes na taxa de quadros, baixa definição gráfica e travamentos pontuais que forçam o jogador a reiniciar o jogo. No PC, a performance varia bastante. Enquanto alguns jogadores com máquinas potentes desfrutam do jogo sem dificuldades, outros enfrentam bugs, congelamentos e falhas que afetam diretamente a jogabilidade.

Esse cenário cria um contraste que interfere na proposta central do jogo: oferecer uma experiência tranquila e imersiva. Quando o jogador precisa lidar com falhas técnicas constantes, o que deveria ser um refúgio acaba se tornando uma fonte de frustração.

Impressões ao Longo da Jornada

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Ao iniciar a jornada em Tales of the Shire, é difícil não se encantar com a ambientação. A direção de arte transmite com competência a sensação de estar no Condado. Há um cuidado visível nos cenários, nas estações do ano e na forma como o ambiente responde ao tempo. O jogo convida a desacelerar, cuidar do jardim, preparar refeições e arrumar a casa. Essa primeira etapa é, sem dúvida, envolvente.

Contudo, com o passar das horas, o encanto inicial dá lugar à repetição. As tarefas se tornam previsíveis e a falta de variedade começa a pesar. A rotina diária se estabelece com pouco espaço para surpresas, e o que antes era reconfortante passa a soar mecânico.

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Um dos aspectos que mais me incomodou foi a superficialidade das interações com os personagens. Os moradores de Bywater pouco evoluem ao longo do jogo. Não há conversas mais elaboradas nem histórias paralelas que ampliem a conexão com eles. As falas são curtas, geralmente ligadas a missões, e não se aprofundam em nenhuma camada emocional. Para um jogo que simula uma comunidade, esse é um ponto fraco considerável.

A mecânica de culinária, por outro lado, tem um potencial interessante. A possibilidade de ajustar sabor e textura dos pratos sugere um sistema mais elaborado, mas a falta de instruções claras e de um feedback mais direto torna a atividade confusa e, muitas vezes, frustrante. Em contrapartida, a personalização da casa hobbit se destacou positivamente. A liberdade para decorar, rearranjar objetos e transformar o espaço cria uma sensação de pertencimento que poucas mecânicas no jogo conseguem oferecer.

O que funciona e o que falha em Tales of the Shire

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Prós

Atmosfera acolhedora e ambientação bem construída

O Condado é representado com delicadeza. A vegetação abundante, o ciclo das estações e a arquitetura hobbit criam um cenário envolvente. O ambiente transmite calma, e essa sensação é reforçada pela trilha sonora sutil e pelo ritmo desacelerado. Para quem busca um jogo para relaxar após um dia agitado, esse aspecto é um dos grandes acertos.

Estilo visual consistente com o mundo

Sem recorrer a gráficos realistas, o jogo aposta em um estilo visual estilizado que funciona bem dentro da proposta. As cores suaves, os personagens arredondados e os detalhes do cenário mantêm a coerência estética, o que contribui para a imersão.

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Sistema de decoração funcional e criativo

A casa hobbit é o espaço onde o jogador pode exercer mais liberdade criativa. É possível organizar os móveis de forma livre, empilhar objetos, combinar estilos e transformar o ambiente ao longo do tempo.

Essa mecânica é simples, mas eficaz, e oferece satisfação visual conforme a casa se torna um reflexo do jogador.

Variedade de tarefas no início do jogo

Nos primeiros dias, há bastante o que fazer: colher ingredientes, plantar ervas, pescar, cozinhar e realizar pequenas missões para clubes locais. Essa variedade inicial ajuda a estabelecer uma rotina e incentiva a exploração dos sistemas disponíveis, mesmo que nem todos eles se aprofundem com o tempo.

Se você gosta desse tipo de tarefa, pode ser muito bom.

Fidelidade ao espírito de Tolkien

Mesmo com suas limitações, o jogo respeita o universo no qual se inspira. Não há batalhas, ameaças ou perigos, mas sim uma rotina tranquila, como aquela descrita nas primeiras páginas de O Hobbit. Essa coerência temática é importante, sobretudo para fãs da obra original.

Contras

Personagens sem profundidade e pouca evolução

Os hobbits de Bywater são apresentados com traços simplistas e não demonstram crescimento ao longo da narrativa. Suas interações são breves e repetitivas, o que enfraquece a sensação de viver em uma comunidade dinâmica.

A ausência de histórias paralelas ou diálogos mais ricos deixa o mundo menos vivo do que poderia ser. Em muitos momentos, me vi participando de diálogos vazios.

Instabilidade técnica frequente

A presença de bugs, travamentos e falhas de carregamento, especialmente em plataformas mais antigas ou em PCs com configurações modestas, compromete a experiência. A necessidade de reiniciar o jogo devido a falhas recorrentes quebra o ritmo e afasta o jogador da proposta de relaxamento.

Repetição de tarefas

A rotina diária de atividades, como pescar, cozinhar e colher ingredientes, perde rapidamente o frescor. Sem eventos inesperados ou variações mais significativas, a repetição se torna inevitável. A longo prazo, isso reduz o interesse e afeta a motivação para continuar jogando.

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Interface pouco intuitiva e curva de aprendizado mal ajustada

Sistemas como o de culinária ou jardinagem mais avançada carecem de explicações claras. O jogo obriga o jogador a descobrir funcionalidades por tentativa e erro, o que contraria a proposta de um jogo acessível e tranquilo. A organização dos menus e a gestão do inventário também poderiam ser mais eficientes.

Campanha principal curta

A história central pode ser concluída em poucas horas e carece de momentos marcantes. A progressão está muito atrelada a pequenas tarefas rotineiras, e não há arcos narrativos fortes que sustentem o interesse do jogador até o final.

Mundo pouco interativo e limitado

Apesar de visualmente bonito, o Condado oferece pouca interação significativa. Faltam locais secretos, eventos surpresas ou elementos que incentivem a curiosidade. A sensação é de um cenário estático, que serve mais como pano de fundo do que como um mundo vivo.

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Concluindo

Tales of the Shire parte de uma premissa promissora e entrega, em parte, aquilo que promete: um espaço calmo, acolhedor e esteticamente agradável, onde o jogador pode viver uma rotina tranquila. No entanto, à medida que a experiência avança, as limitações ficam mais evidentes. A falta de profundidade nos sistemas, o pouco envolvimento com os personagens e os problemas técnicos impedem que o jogo alcance algo mais significativo.

Ainda assim, para quem valoriza a ambientação e gosta de jogos focados na personalização e no cuidado com os detalhes visuais, pode haver momentos prazerosos. Mas é importante ajustar as expectativas. Tales of the Shire não é um sucessor espiritual de jogos como Stardew Valley ou Animal Crossing. É, antes, uma experiência breve e agradável, porém limitada, que talvez encontre seu público entre os fãs mais pacientes e apaixonados pela Terra Média.