Entre Mitos e Realidades
South of Midnight é um projeto ambicioso da Compulsion Games, estúdio adquirido pela Microsoft. O jogo apresenta o folclore do Sul dos EUA, combinando uma narrativa e uma estética inspirada em animações stop-motion. O jogo tem uma campanha de cerca de 12-15 horas e promete uma experiência única. Neste review, vou abordar desde sua representação cultural até algumas falhas que percebi no jogo.

Enredo e Narrativa: Traumas e Cura
A Jornada de Hazel
No papel de Hazel Flood, uma jovem de 19 anos, os jogadores embarcarão em uma busca para resgatar sua mãe, que está desaparecida após um furacão devastar a cidade fictícia de Prospero, no Mississippi. Hazel descobre ser uma Weaver (tecelã), capaz de manipular a Grande Tapeçaria, uma rede mágica que conecta memórias e emoções ao mundo espiritual. Sua missão agora é infrentar os Haints, criaturas demoníacas que personificam traumas humanos, desde a escravidão até abusos familiares.

Temas e Simbolismo
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O jogo aborda temas pesados como racismo, pobreza e ciclos de violência, usando lendas como o jacaré Two-Toed Tom e o lobisomem Rougarou como metáforas. A narrativa do game explora como o trauma passa entre gerações, com Hazel servindo de ponte entre o passado e a cura. A representação da cultura sulista dos EUA é meticulosa: sotaques regionais, referências ao blues e jazz, e detalhes históricos como casas abandonadas pós-Reconstrução.

Críticas à Estrutura
Embora o jogo seja muito bom, a história é um pouco irregular e contém uns subplots mal resolvidos. Personagens secundários ótimos são introduzidos e logo em seguida são abandonados, deixando dúvidas na nossa mente. O misterioso Catfish, cujo papel nos trailers prometia mais relevância na história, infelizmente deixa a trama muito rápido. Embora o vilão principal seja muito bom, é bem previsível, e Hazel, mesmo sendo muito carismática, se torna muito passiva em momentos cruciais na trama.

Jogabilidade: A Beleza Com Pouca Profundidade
Exploração e Modo Plataforma
O jogo segue uma estrutura linear, com níveis que alternam entre combate em arenas e sequências de fuga. A movimentação de Hazel é extremamente fluida: ela escala paredes, desliza por corredores e usa o Crouton, um boneco de crochê mágico, para resolver puzzles. Podemos sentir a inspiração em Uncharted e Tomb Raider aqui. As ações em plataformas são muito satisfatórias, porém após o Capítulo 4 não introduz mecânicas novas. Embora não atrapalhem o jogo, senti que poderiam explorar mais essa parte.
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Combate e Dificuldade
O sistema de combate, embora seja bom, tem poucas progressões. Hazel usa ganchos mágicos para ataques corpo a corpo e possui habilidades como empurrar e puxar inimigos, mas fica só nisso, o que pode frustrar alguns jogadores. Os inimigos também têm pouca variedade, ficando com apenas 6 ou 7 tipos diferentes. Não é um problema, mas o jogo é lindo e senti que mais inimigos dariam mais brilho.
A dificuldade pode incomodar, joguei no modo normal e, embora para mim, esteja bem equilibrado, alguns jogadores podem considerar a aventura fácil demais. Mas para quem curte pegar troféus, é um jogo excelente e, dá para conseguir todos sem muito esforço e aproveitar a beleza do jogo.

Progressão e Acessibilidade
O jogo permite pular combates ou ajustar dano recebido, ideal para jogadores focados na história. Mas os upgrades de habilidades, embora funcionais, não chamam muita a atenção. Por exemplo, a habilidade Stun Weave (ativar teias paralisantes) demora a ser desbloqueada e não altera significativamente o combate, poderia ser mais explorada.

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Direção Artística e Trilha Sonora: O Coração do Jogo
Estética Stop-Motion
A arte do jogo é deslumbrante e me deixou boquiaberto, lembra muito Coraline e Homem-Aranha no Aranhaverso, com animações que imitam quadros perdidos. Cenários como pântanos iluminados por luzes douradas e plantações abandonadas são extremamente lindos e nos faz parar a gameplay para admirar o ambiente. O efeito stop-motion é mais perceptível em cutscenes, e dá um chame de animação ao jogo. Durante a gameplay, a animação se normaliza deixando o jogo bem fluido.

Trilha Sonora Impecável
A composição de Olivier Derivière (conhecido por Streets of Rage 4) combina blues, jazz e corais gospel. Músicas como Ballad of Two-Toed Tom e Huggin’ Molly’s Lament elevam o jogo a um patamar de AAA, com letras que narram a história em tempo real. A trilha sonora não é apenas para fazer o ambiente, mas atua como uma narradora, algo raro em jogos. Voce pode ouvir toda a trilha sonora no Spotify depois, eu fiz isso e continuo fazendo.

Cultura e Representatividade
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Folclore e História
O jogo integra lendas como a assombração Huggin’ Molly e o Rougarou, fazendo uma releitura para discutir abusos e perdas. A atenção aos detalhes históricos, como notificações de despejo pós-Guerra Civil e referências à escravidão, é algo que me impressionou bastante. Embora eu tenha lido muitas críticas ao jogo onde apontam que o tema da escravidão é abordado de forma indireta por meio de eufemismos como "ajudar pessoas a escapar" sem uma contextualização explícita, mostrou muito bem toda parte histórica que se propôs sem deixar o tema pesado.

Representatividade de Hazel
Hazel é uma protagonista incrível, tem diálogos sarcásticos muito bem escritos, onde, mesmo com seu jeito, mantém o respeito à cultura local. Sua evolução é simbolizada por mudanças de figurino: no início, ela usa roupas mais despojadas, mas com o passar da história vemos trajes lindos que celebram sua herança africana. A representação de penteados e moda afro são cuidadosamente trabalhados, destacando a importância e o peso cultural.

Performance do Jogo
Gráficos e Performance
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O jogo roda extremamente bem, tanto no Xbox Series X ou S, sem bugs significativos, mantendo os 60 FPS* fluidos. A iluminação é um destaque que encanta, criando atmosferas que variam de pântanos a florestas ensolaradas. Os cenários e inimigos também são cuidadosamente bem feitos, o que nos faz admirar o jogo por inteiro.

Opções de Acessibilidade
O jogo tem opções de acessibilidade ótimas. Além de ajustes de dificuldade, o jogo inclui ferramentas para reduzir efeitos de motion sickness causados pelo estilo visual, como desativar o stop-motion e ajustar a sensibilidade da câmera.

Prós e Contras
Prós
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Contras

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Vale a Pena jogar South of Midnight?
Vale sim! South of Midnight pode ser uma grata surpresa e recomendo fortemente para:
Evite se:
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Conclusão
Embora não seja um jogo perfeito, South of Midnight merece ser jogado. Sua arte, música e narrativa o elevam a uma experiência de jogo AAA. Para fãs e estudiosos de folclore dos EUA é como estar em um ambiente repleto de coisas a se admirar e viver. Embora a jogabilidade possa parecer pouco criativa para alguns, o jogo tem mais acertos do que erros, mostrando que jogos AA podem se destacar muito e oferecem horas de diversão.
South Of Midnight está disponível no PC, Xbox Series S/X e está incluído no Game Pass desde o lançamento.
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