Alerta de Spoilers
Este artigo contém spoilers massivos de Final Fantasy VII Rebirth, Final Fantasy VII, Chrono Trigger e Chrono Cross.
Recomendamos terminar Final Fantasy VII Rebirth antes da sua leitura.
Introdução
Final Fantasy VII Rebirth é um dos melhores jogos da franquia dos últimos tempos. Sua história é envolvente, seus personagens e as décadas de desenvolvimento em torno deles o tornam apaixonantes de acompanhar, e sua navegação é uma mistura perfeita entre o mundo aberto das gerações atuais com os mapas que conhecemos da era de PlayStation One, tornando desta uma das experiências mais fascinantes para os fãs da série.
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Seu desfecho, no entanto, trouxe mais perguntas do que respostas aos seus interlocutores. Muitas coisas acontecem em seu último capítulo e demandam atenção aos detalhes para absorvermos cada parte e compreendermos como a trama se encerra e pavimenta o caminho para o terceiro e último episódio do Remake.
Neste artigo, apresento minha análise sobre o que acontece no fim de Final Fantasy VII Rebirth e quais são suas implicações para o escopo geral da narrativa, além de abordar como o projeto de Remake está voando perto demais do Sol e pode se queimar no terceiro jogo.
O que acontece no fim de Final Fantasy VII Rebirth?
O último capítulo de FFVII Rebirth, End of the World, é bem complexo e leva algum tempo para entendermos o que realmente acontece nele.
Enquanto mantém a maioria dos eventos do jogo original, sua execução gira em torno dos elementos adicionados ao jogo desde FFVII Remake, com linhas do tempo, Sussurros, Zack e a existência de um Multiverso exercendo papéis importantes no desenvolvimento até o epílogo.
Elaboramos abaixo os principais acontecimentos dele, com ênfase nos fatores mais importantes para compreendermos onde o jogo quis chegar e o que podemos esperar do futuro.
Multiverso
O capítulo inicia com os dois pés na porta no conceito de Multiverso, realidades distintas que coexistem em linhas do tempo separadas. Nelas, vemos Zack no subsolo de Midgar dividido entre ir até o prédio da Shinra para salvar Cloud ou ir até o Setor 6 e impedir Biggs. Quando ele opta por salvar Cloud, uma luz com tonalidade de arco-íris surge no caminho que o levaria até Biggs.
Tal qual indicado no fim de Final Fantasy VII Remake, onde Zack sobrevive ao que seria o momento da sua morte, a principal maneira de identificar a diferença entre os universos está em um detalhe sutil: o cachorro-mascote da Shinra, Stamp, possui uma raça distinta em cada linha do tempo.
Durante o início do Capítulo 14, vemos cinco universos diferentes em Final Fantasy VII Rebirth, onde Stamp os representa com as seguintes raças:
Beagle - Beagle é o universo “principal” de Final Fantasy VII, onde a maioria dos eventos do Remake e de Rebirth ocorrem, e também onde os eventos futuros da trama devem se passar. É provável que ele esteja no “centro” do Multiverso, e os acontecimentos nele afetam, criam, ou destroem outros universos.
Terrier - Terrier é o universo do fim de Final Fantasy VII Remake, onde Zack sobrevive e carrega Cloud de volta para Midgar enquanto Barret, Tifa e Nanaki estão mortos. A maioria dos eventos em torno deste personagem até o último capítulo ocorrem nele e o futuro onde Zack decide salvar Cloud e termina cercado por tropas no prédio da Shinra também acontece aqui.
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Pug - Pug é o universo onde Zack decide impedir Biggs e salvar o Setor 6. Este é um mundo a beira da destruição onde nem sequer há mais Lifestream para os reatores transformarem em Mako. Biggs é baleado pelas tropas da Shinra e Zack consegue escapar deles, seu destino é incerto.
Shiba - Shiba é o universo onde Zack não consegue tomar uma decisão e volta para a igreja do Setor 5. Lá, ele encontra Sephiroth, que o envia para um abismo no espaço-tempo. Este Zack é o que luta ao lado de Cloud (chegaremos lá em breve!).
Spitz - Quando retomamos o controle de Cloud, ele e Aerith voltaram ao Setor 5 de Midgar em um universo onde, supostamente, ambos despertam de seu estado de estupor e caminham aos arredores da cidade em um “encontro” antes do fim deste mundo, simbolizado por uma enorme cicatriz no céu.
Nele, Cloud e Aerith caminham até a Igreja do Setor 5, onde ela se despede e entrega sua Matéria Branca para o herói antes de enviá-lo de volta ao seu universo original (Beagle) no momento em que Sephiroth a encontra. A Aerith do universo Beagle se comunica com ele através de seus sonhos e leva a Matéria Branca para a Capital Esquecida.
A Realidade Entre Universos
Quando Aerith empurra Cloud de volta para o universo Beagle, vemos o entorno deles ganhar uma coloração parecida com a de um arco-íris, também presente na fenda entre universos quando o herói é cercado por Sussurros e encontra Sephiroth, que nomeia aquela como “a verdadeira natureza da realidade”, onde novos mundos nascem quando as barreiras do destino são quebradas.
Seu objetivo parece mais claro: Sephiroth planeja unir os mundos. Os motivos não ficam evidentes, mas a reunião a qual ele se refere não parece mais se tratar apenas de Jenova, mas da própria realidade. Tal qual Aerith, Sephiroth consegue se manifestar em vários universos ou migrar entre eles, com poderes suficientes para unir mundos ou separá-los.
Dado os momentos onde a “aura de arco-íris” surge durante o capítulo, é seguro presumir que ela se manifesta durante a criação e destruição de universos em Final Fantasy VII, onde determinadas ações as desencadeiam como um sinal de que o destino está sendo alterado.
A Capital Esquecida
Quando chegam à Capital Esquecida, o grupo encontra Sephiroth, do qual abre uma cicatriz nos céus, de onde a aura de cor arco-íris se manifesta enquanto os Sussurros aparecem. Cloud e os outros atravessam a cidade enfrentando-os no caminho - Até esse momento, os Sussurros Brancos nunca haviam confrontado os heróis e/ou atacado eles.
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Tal qual Sephiroth agora controla os Sussurros pretos, é possível que Aerith controle os Sussurros brancos. Nesse caso, a própria Aerith estava colocando obstáculos no caminho de Cloud e dos outros para ganhar tempo até o momento da sua morte.
Após a batalha, os Sussurros criam uma barreira em torno da entrada do Santuário da Capital Esquecida, e três Sussurros pretos abrem uma brecha para que Tifa e os outros possam assegurar uma entrada para Cloud - Sephiroth queria que Cloud, e apenas ele, chegasse até Aerith. Cloud seria o único com o poder de intervir naquele momento e moldar o destino.
Cloud adentra o portal. Sussurros de ambas as cores surgem ao seu redor sem intervir até ele se aproximar do altar, onde começam a impedir sua passagem, cercando-o enquanto ele empunha sua espada para atacar Aerith.
Essa cena é conhecida no jogo original como uma demonstração do controle que Sephiroth tem sobre o herói, onde ele é impedido no último momento pelos seus companheiros. Aqui, os Sussurros parecem simbolizar a influência e Sephiroth e Aerith sobre Cloud, uma disputa para fazê-lo desferir, ou não, o golpe fatal.
Sephiroth desce dos céus com sua espada em direção ao corpo de Aerith. No último segundo, a espada de Cloud ganha um brilho esverdeado e ele golpeia a lâmina do vilão, o atrito entre as espadas brilha com cores de arco-íris, simbolizando a criação de um novo universo - Cloud deflete a espada de Sephiroth, a aura de arco-íris surge ao redor do altar, Aerith foi salva da sua morte.
A Morte de Aerith
A Masamune cai no chão, Aerith pode ser vista ao fundo rezando enquanto os Sussurros deixam de impedir o avanço de Tifa, Barret e os outros - o destino não precisava mais ser preservado - um close na espada de Sephiroth precede uma interferência de cor rosada, sangue escorre pelo chão, o corpo de Aerith cai lentamente. Cloud a segura e lágrimas escorrem do seu rosto.
Enquanto Sephiroth gargalha, interferências de cor esverdeada ocorrem com Cloud dizendo frases que não conseguimos ouvir. É provável que essas frases ocorram em outra linha do tempo - A do jogo original, onde tal qual em Rebirth, Sephiroth afirma que as emoções de Cloud são vazias, pois ele não passa de uma marionete.
Conforme limpa sua espada, outra interferência ocorre e vemos Aerith, viva, acariciar o rosto de Cloud e dizer que está tudo bem. Barret e os outros chegam até o altar e enxergam, em meio a uma interferência esverdeada, Cloud segurando o corpo de Aerith com sangue espalhado pelo chão. É evidente que esta é a realidade do universo Beagle enquanto Cloud, enxergando uma Aerith viva, parece estar com sua consciência presa em outro universo.
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Esse detalhe é integrado na jogabilidade da primeira fase do confronto contra Jenova Lifeclinger, onde todos os personagens, exceto Cloud, iniciam a luta com sua barra de Limite cheia. Limites são comumente associados na série com um surto de emoção ou perigo que possibilita um ataque especial - Barret e os outros estão enfurecidos pela morte de Aerith enquanto Cloud, por não enxergá-la dessa maneira, permanece calmo.
Sephiroth e a Batalha no Multiverso
Após a derrota de Jenova, Zack, jogado na fenda entre os mundos no universo Shiba, é guiado por Sussurros brancos até Cloud e entra no mesmo universo onde o protagonista está durante seu confronto com Sephiroth, com ambos se reconhecendo e lutando juntos contra o vilão.
O mundo onde eles estão se parece com o Fim da Criação, lugar onde Sephiroth convidou Cloud a desafiar o destino junto dele no final do Remake. Sephiroth menciona que mundos podem se separar da mesma forma como se unem e abre uma fenda com sua espada, jogando Zack para outro universo.
A sós com Cloud, o vilão se transforma na forma que compõe a batalha final, Sephiroth Reborn. Cloud recebe o auxílio dos Sussurros brancos para escalar o corpo colossal de Sephiroth e atacar sua cabeça, da qual exala Sussurros pretos.
No universo Beagle Tifa e os outros procuram por Cloud, desaparecido após derrotarem Jenova. Sephiroth Reborn se manifesta nele, sendo confrontado pela equipe. Enquanto isso, Zack é guiado até a Igreja do Setor 5 de uma realidade a beira da destruição, insinua-se que Aerith o auxilia e o protege de alguns dos ataques do vilão, do qual também se teleportou para esta realidade.
Cloud e Zack podem sentir a presença um do outro e até utilizarem um ataque em conjunto nesta fase, apesar de estarem em universos separados. O corpo e consciência de Sephiroth está em três universos, e a influência da batalha de um afeta diretamente o outro - como explicitado pelo chifre arrancado por Cloud e Zack, cuja queda ocorre no universo Beagle, onde Barret, Nanaki e Yuffie se unem para derrotar a forma gigante do vilão.
Sephiroth retoma sua forma original e viaja até o universo onde Cloud está. Aerith se manifesta por meio de um portal com os Sussurros brancos, a aura de arco-íris envolve os arredores e os transporta para uma dimensão desconhecida, Sephiroth admite para Aerith que a subestimou.
Não fica claro de qual universo Aerith veio, mas ela sabe dos eventos da Capital Esquecida e agradece Cloud pelo que ele fez, enquanto está ciente da sua morte no universo dele. É interessante notar que a posição com qual Cloud empunha sua espada é a mesma de Zack.
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No fim da batalha, Sephiroth voa em direção ao horizonte enquanto Aerith afirma que o vilão sabe que ainda não acabou. Ela e Cloud são envolvidos pelos Sussurros brancos em uma aura de arco-íris conforme entrelaçam suas mãos, Aerith desaparece na Lifestream e Cloud é levado de volta ao seu universo.
O Enterro de Aerith e o Fim do Jogo
No universo Beagle, Barret, Tifa e os outros correm até o corpo de Aerith, confirmando sua morte. Cloud se aproxima - Em sua visão, o corpo está cercado por Sussurros brancos e o altar continua envolto na aura de arco-íris - Ao segurá-la em seus braços, Cloud pede para Aerith acordar, e ao ela abrir os olhos, ambos sorriem um para o outro.
A cena corta para outro momento, o corpo de Aerith já foi enterrado. O grupo está de luto, Barret chora, todos parecem tristes, exceto Cloud, cujo olhar e palavras soam alheias à morte de sua amiga. Tifa percebe e dá um suspiro quando ele responde Barret com indiferença.
Cloud sofre outra interferência de coloração rosada, onde enxerga o momento em que a Matéria Branca cai no lago do altar. Ao olhar para o lado, ele - e apenas ele - vê Aerith e se comunica como se ela ainda estivesse viva. Conforme o grupo deixa o Santuário, Tifa vê Cloud olhando e sorrindo para o nada.
Zack, transportado para fora do mundo à beira da destruição pelos Sussurros brancos/Aerith, acorda na Igreja do Setor 5 em um universo desconhecido. Ele contempla que todos aqueles eventos não foram um sonho, e que assim como mundos se separam, eles podem se unir novamente.
Quando voltamos para Cloud e os outros, eles estão nas planícies enquanto Cid conserta o Tiny Bronco. Cloud segura o que antes era a Matéria Branca entregue por Aerith no universo Beagle, quando levou a do universo Spitz. Para ele, ela está interagindo com Barret e Cait Sith enquanto eles ajudam no conserto do avião.
Yuffie chora por Aerith enquanto ela se aproxima de Nanaki - que parece sentir sua presença por um segundo - e Tifa, enlutada tanto pela morte de sua amiga quanto por Cloud não estar sendo ele mesmo desde o Templo dos Anciões. De uma vez, Tifa sente que perdeu duas pessoas importantes em sua vida.
Cloud olha novamente para a antiga Matéria Branca e a guarda, descobrindo que está com a Matéria Negra. É incerto se a Matéria que ele segurava pouco antes é a mesma e se transformou, mas vale ressaltar que, segundo Aerith, a Matéria Negra no Templo dos Anciões, era falsa - A viagem entre universos ou sua morte pode ter feito Cloud ganhar posse da Matéria Negra verdadeira.
Cloud sofre outra interferência esverdeada e menciona a Reunião. Ele esconde a Matéria Negra em sua espada e caminha até o Tiny Bronco, onde vê uma cicatriz no céu, igual à de todos os universos que estavam prestes a acabar.
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O herói é o único capaz de enxergar a fenda, tal qual também é o único a ver e se comunicar com Aerith, com quem promete impedir Sephiroth enquanto ela faz o possível em parar o Meteoro. O Tiny Bronco parte para as terras gélidas do Norte.
Aerith se despede, Final Fantasy VII Rebirth termina com a frase “Sem promessas para cumprir no fim da jornada”.
Quais são os pontos mais importantes do desfecho?
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Teorias e Possibilidades: Para onde o Remake Parte 3 está indo?
Dado todos os eventos ocorridos no capítulo 14, a terceira parte de Final Fantasy VII Remake deve seguir, em maioria, a mesma linha do jogo original, mas com a mudança de foco e escopo em torno de alguns detalhes mais pertinentes e buracos deixados por Rebirth.
A Guerra de Wutai
Shinra está em guerra novamente com uma resistência liderada por Wutai. Como indicado em alguns momentos de FFVII Rebirth, esse conflito está sendo orquestrado por Rufus e Glenn Lobrok, com o intuito de despertar as Weapons para tomar a Magnus Materia delas.
Como indicado pela sua ausência, o Viceroy Sarruf provavelmente não existe e seu nome se trata de um anagrama para Rufus (スフール lê-se como “Sufuuru”). É possível que o ataque da Avalanche contra a Shinra tenha sido planejado para Rufus tomar a presidência da corporação e iniciar a guerra com Wutai.
Sephiroth também parece ter seus próprios interesses nessa guerra e na emoção humana em torno dela para seu plano de unificar os mundos, ao ponto de assumir a forma de Glenn. Talvez se trate apenas de uma distração para evitar que Rufus e a Shinra cheguem até a Terra Prometida antes da Reunião.
Cloud está dividido em múltiplas realidades, ou entrou em negação
O estado mental de Cloud é uma preocupação dos demais personagens desde os eventos ocorridos em Gongaga. Existem vários diálogos e momentos onde o herói aparenta incorporar as atitudes e personalidade de Sephiroth, como se fosse controlado pelo vilão.
No fim de Rebirth, Cloud está ainda pior: para seus companheiros, ele está falando sozinho e agindo como se Aerith ainda estivesse com o grupo. Tifá dá sinais claros do quão preocupada está com sua sanidade, e Barret tenta lembrá-lo da posição em que ele está e de como precisa segurar as pontas e carregar o fardo da morte de Aerith - Fato do qual ele desconsidera. Afinal, na sua percepção, ela está viva.
Os meios e motivos, no entanto, não ficam claros. Teria Cloud, ao defletir o ataque de Sephiroth, criado uma nova realidade onde Aerith sobrevive e está com sua consciência presa nela enquanto o seu corpo está no universo Beagle? Ou teria Cloud se tornado uma peça-chave no plano de unificação do mundo, conforme apontado até pela capacidade de Aerith e Sephiroth em mover ele e Zack para outros universos?
Outra possibilidade, muito mais aceitável se não houvesse o fator multiverso na equação, é a de Aerith estar se manifestando para Cloud através da Lifestream, ou das memórias de Cloud estarem a manifestando em sua mente pelo luto, ou a culpa em torno dele - Tema que conectaria os eventos de FFVII Rebirth aos do filme Advent Children.
O fato é de que o herói termina o jogo com uma consciência fraturada, preso em uma realidade paralela onde Aerith nunca morreu - seja por ela estar viva em outra linha do tempo, se manifestando para ele através da Lifestream, ou por ele estar em negação do seu próprio luto.
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A Reunião e as Consequências
É evidente que o próximo destino de Cloud e seus amigos é a região de Icicle, onde a Cratera do Norte está localizada. A Matéria Negra tem um papel fundamental nessa parte da trama e uma diferença crucial em comparação com o jogo original é que ela está com Cloud ao invés de Sephiroth.
Podemos presumir que o terceiro jogo iniciará com o grupo chegando nas planícies de neve e enfrentando os Turks, e os eventos da Reunião ocorrerão conforme Final Fantasy VII, mas suas consequências podem se diferenciar bastante da obra original, criar novos plot twist e reimaginar a maioria dos eventos.
A maior mudança pode ocorrer em torno das Weapons agora que elas têm a atenção da Shinra pelas suas Magnus Matérias. As criaturas que vemos em Rebirth não possuem metade do tamanho das criaturas da obra original, e podem ser versões menores criadas pelo Planeta conforme a escala de ameaça contra sua vida, então é possível que as Weapons colossais tenham uma participação mais ativa na trama e na guerra de Wutai, ou nos eventos que levam os heróis até Rocket Town e Mideel.
Sephiroth, Aerith, o Planeta e o Destino
Enquanto os motivos ainda não ficaram claros, o Remake mantém a essência da obra original de haverem três manifestações poderosas de consciência na Lifestream: Sephiroth, Aerith e o Planeta.
Sephiroth e Aerith parecem manipular os eventos do jogo para alterar e/ou preservar o destino em prol de seus objetivos. Ele planeja unificar o multiverso e criar uma realidade onde ele se torne um com o Planeta, enquanto ela pretende o impedir e parar o Meteoro. Essa ainda é, apesar das camadas extras de complexidade, a mesma história contada em Final Fantasy VII.
O Planeta, entretanto, também é uma entidade viva no universo do jogo e possui seus próprios planos que já estão em ação: as Weapons existem para protegê-lo daquilo que ele enxerga como uma ameaça à sua preservação, sendo possível que seu aparecimento precoce nos reatores de Junon e Gongaga seja uma consequência natural do impacto que os Reatores de Mako possuem no fluxo da Lifestream, ou da ameaça iminente que a criação de linhas do tempo tenha estabelecido.
As Weapons são também vistas lutando contra os Sussurros e Sephiroth quando Tifa é engolida por um deles em Gongaga, e nos últimos minutos do Capítulo 14, podemos ver suas Matérias emitirem uma luz clara e repelirem os Sussurros pretos. Essa cena pode estar ligada à ativação da Matéria Branca, visto que cabe ao Planeta decidir como ela será usada, então as Weapons podem estar transportando-a para o centro da Lifestream.
No jogo original, Bugenhagen menciona que Holy pode eliminar até a humanidade se o Planeta assim decidir, e há décadas de especulações em torno da intervenção de Aerith no último momento para evitar a extinção dos humanos no desfecho da trama, e este aspecto ainda parece preservado para o terceiro episódio, apenas mais complicada por conta do Multiverso e como o fim do mundo parece uma realidade inevitável para a maioria deles.
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É possível que caiba a Aerith e Sephiroth guiar Cloud em torno de um destino específico em prol de seus planos para o Planeta, com este tendo usado os Sussurros no Remake para tentar manter a integridade deste universo onde, talvez, o próprio Planeta tivesse controle absoluto dos eventos, mas agora que as barreiras do destino foram quebradas, a realidade está fragmentada em diversas linhas do tempo - E como indicado pelo próprio Cloud no início do Capítulo 14, o Planeta está gritando, é possível dele estar sofrendo com as maquinações.
O Remake está voando perto demais do sol, e pode se queimar
Multiversos e linhas do tempo são assuntos complexos. Poucas obras na ficção e no audiovisual conseguem retratar esse tema de forma abrangente sem se tornar desfocado e/ou tropeçar nas falhas inerentes dele, e demanda um cuidado extra para não soar forçado, especialmente em um Remake.
A Square já trabalhou com o conceito de linhas temporais e mundos paralelos em outros jogos antes de Final Fantasy VII Remake, e a maneira como a trilogia parece abordar este tema se aproxima de uma das obras controversas da empresa durante a era do PlayStation One - Chrono Cross.
“História é composta de escolhas e divergências. Cada escolha que você faz cria um novo mundo e traz um novo futuro. Mas, ao mesmo tempo, você está eliminando um futuro diferente com as escolhas que não fez. Um futuro negado de toda existência devido a uma mudança no passado.”
- Miguel - Chrono Cross
No último capítulo de FFVII Remake e FFVII Rebirth, acompanhamos o surgimento de novas linhas do tempo e universos em momentos cruciais da história: novos futuros são criados e chegam ao fim conforme Zack e Cloud tomam decisões relevantes para a trama.
Multiversos operam de forma parecida em Chrono Cross: uma pequena intervenção em um ponto-chave da História altera a realidade ao ponto de a dividir em dois mundos, um onde o protagonista está vivo e outro onde ele está morto.
Esses e outros eventos são orquestrados para livrar uma personagem do controle de Lavos e eliminá-lo permanentemente das linhas do tempo, ou ocorrem por acaso em intervenções de estudos temporais ocorridas no passado, ou no presente do jogo, e até as ações de Serge durante a trama podem definir o universo existente após a derrota de Lavos - A própria Chrono Cross, utilizada para derrotá-lo, tem como finalidade unir os mundos para criar uma nova realidade.
O jogo também apresenta um enorme senso de consequências quanto ao seu antecessor, Chrono Trigger, com revelações chocantes sobre o futuro de seus heróis e como suas ações afetaram a realidade porque aquele futuro que eles evitaram deixou de existir - O mundo foi salvo, mas a que preço?
Como mencionado por Sephiroth, mundos também estão nascendo e morrendo em FFVII no que ele chama de “verdadeira natureza da realidade”, e tanto ele quanto Aerith conseguem navegar livremente por esses mundos e intervir nos eventos futuros.
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Os dois pontos-chave da mudança de linhas do tempo no Remake envolvem o momento onde o grupo se livrou das amarras do destino e criaram o universo Terrier, onde Zack sobreviveu, e o momento em que Cloud interfere na morte de Aerith, cujo resultado só conheceremos no terceiro jogo - E o problema é que a complexidade do enredo é igualmente proporcional a quantidade de universos criados no seu desenrolar.
Até agora, a escrita do Remake transformou o conceito de Multiverso em uma proposta coerente, mas complicada, na recontagem da história de Final Fantasy VII. No entanto, os tropeços já são perceptíveis e afetaram Rebirth em seu momento mais aguardado.
Um Luto Reescrito
Em meu review, mencionei que Final Fantasy VII Rebirth é a melhor e mais ambiciosa carta que o legado de Final Fantasy VII poderia receber. Mantenho essas palavras pelo escopo geral da obra e tudo o que ela oferece em jogabilidade e narrativa durante quase todo o jogo… Mas seu desenvolvimento cometeu um tropeço enorme no último capítulo.
A morte de Aerith é um dos momentos mais arrasadores da história da ficção contemporânea. Seu impacto cultural nos games é sentido quase 30 anos após sua execução, e uma das grandes expectativas de Final Fantasy VII Rebirth é como a reimaginação dessa cena aconteceria - E ela se tornou confusa demais em prol do suspense.
O impacto dramático foi substituído por desconforto: ver Aerith transitar entre estar morta ou viva cria um nó na cabeça de qualquer fã da série, e a execução do momento da sua morte até o epílogo trazem tantas dúvidas que dificulta a comoção em torno dos eventos, afinal, nem sabíamos se ela está morta de verdade até o último segundo e continuaremos sem saber o que realmente aconteceu com ela até o próximo jogo, indo de contraponto com tudo o que sua morte significou para a obra original.
O foco da sequência da Capital Esquecida foi executada com tanto ênfase no Multiverso e nas possibilidades criadas com a intervenção de Cloud que negligenciou uma parte do legado mais importante de FFVII para a ficção. A mera mudança de fazer Aerith interagir com Cloud retirou todo o impacto emocional em torno da sua morte, logo após preparar o interlocutor para esse momento no início do capítulo, quando ela o abraça e se despede pedindo para ele não se culpar - Tudo em prol de gerar mais suspense e levantar mais dúvidas em torno do Multiverso e dos conflitos de consciência e personalidade de Cloud, e a troca não valeu a pena.
Não havia necessidade de Aerith interagir com Cloud quando ele segura seu corpo, ou de criar dúvidas se ela estava morta antes do fim do confronto com Sephiroth. A última fase da luta teria funcionado como um último ato dela em termos de jogabilidade, o fato de Cloud enxergá-la após seu enterro ainda criaria dúvidas de se ele está em negação, enlouquecendo, ou se ela está se manifestando através da Lifestream ou de outra linha do tempo - A última conversa entre eles no epílogo teria sido o misto perfeito entre a negação do luto e a aceitação dele, e a despedida de Aerith para o interlocutor.
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Todas as mudanças em torno do último capítulo exercem um bom trabalho em manter o mistério em torno de Aerith e das linhas do tempo, mas expõe o principal problema de abraçar o conceito de Multiverso.
Multiverso e o Senso de Consequências
Um dos maiores desafios na criação de um Multiverso é o de torná-lo importante para o processo da narrativa sem transformá-lo em um facilitador para questões complexas - uma espécie de Deus Ex-Machina para qualquer situação complicada demais da sua trama.
Existem diversos exemplos na ficção onde a existência de multiversos anula o senso de consequências da história sob a ótica de sempre haver uma linha do tempo ou universo onde determinados eventos nunca aconteceram. O mundo pode acabar e todos os personagens podem virar poeira cósmica porque, no fim, sempre vai ter essa brecha para aquilo não existir ou não ter consequências reais para a narrativa.
O caso de Aerith é emblemático para esse caso: o fato de Cloud enxergá-la como viva e haver indícios dele estar preso entre linhas do tempo simboliza a possibilidade de existir um mundo onde Aerith não morreu, tal qual existe um ou mais universos onde Zack está vivo.
Enquanto sua permanência traz novas consequências para os universos onde eles estão, ela também dá aos desenvolvedores a possibilidade de criar flexões na narrativa para justificar um determinado elemento da trama ao invés de garantir que eles não sejam exagerados demais ao ponto de forçarem um Deus Ex-Machina através do Multiverso.
Por mais que não goste de defender tradição em contraponto com inovação, precisamos reconhecer que reescrever histórias requer cuidado para não retirar o senso de importância dos seus aspectos narrativo, e espero que Sephiroth suceda no seu plano de unir os mundos na terceira parte e este processo não seja reversível.
Assim, todos os eventos ocorridos na recontagem do Remake serão permanentes, sem requerer exageros para entendermos como a história termina e evitarmos o uso de desculpas baratas sobre linhas do tempo e multiverso para situações tão complexas quanto a representação do luto em Final Fantasy VII e as suas implicações, tanto no Remake quanto na obra original.
Conclusão
A última parte do Remake tem um grande desafio: manter a história de Final Fantasy VII coerente sem tropeçar nas falhas comuns de uma narrativa sobre multiversos e linhas temporais. A série já abordou este tema em outros jogos, mas nenhuma delas com tanta ambição, e nem diretamente ligada a um dos títulos mais amados pelos fãs da franquia.
Toda a narrativa em torno da recontagem do jogo funcionou muito bem em Final Fantasy VII Rebirth, e exceto pelo seu último capítulo, sua trama trouxe mais beleza do que confusão até quando desviou demais do caminho trilhado pelo original - Uma obra apaixonante cujo desfecho deixa um sabor meio amargo.
Levará alguns anos até compreendermos o que esperar do terceiro episódio e qual rumo sua história pode levar. Até lá, tanto os fãs mais aguerridos da obra original quanto os maiores entusiastas do Remake podem apreciar os novos jogos pelos seus acertos e trazer dúvidas e questões pertinentes sobre os seus erros.
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Logo, gostaríamos de saber dos nossos leitores: quais são suas opiniões sobre o fim de Final Fantasy VII Rebirth, e quais são suas expectativas para a terceira parte?
Obrigado pela leitura!
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