A História dos Jogos Beat 'em Up
Os beat 'em up, também conhecidos como briga de rua, são um dos gêneros mais nostálgicos dos videogames. Com mecânicas simples, mas viciantes e uma jogabilidade cooperativa que unia amigos e familiares, esses jogos deixaram uma marca na indústria dos games. Vamos entender toda a história desse gênero, desde seu humilde começo nos fliperamas até sua evolução nos consoles.

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Os Primórdios: O Nascimento do Gênero
O gênero beat 'em up surgiu no início dos anos 80, impulsionado pela popularidade dos fliperamas. O primeiro jogo a estabelecer as bases do gênero foi Kung-Fu Master (1984), da Irem. Embora muito simples, ele introduziu a ideia de um personagem que avança em um cenário linear, enfrentando inimigos com socos e chutes.

O pai dos Beat em Up
Em 1986, a Technōs Japan lançava Renegade, o game que começou a formar o estilo e considerado o pai dos beat em up.
O jogo introduziu a mecânica de andar em oito direções na tela enquanto enfrentava inimigos. Ele também foi um dos primeiros a permitir que o jogador usasse armas e realizasse combos básicos.

O game foi um port de Nekketsu Kōha Kunio-kun lançado um pouco antes no Japão.

Na versão original japonesa, o jogo gira em torno de um jovem brigão do ensino médio chamado Kunio-kun (Kunio) que deve enfrentar uma série de gangues rivais que têm como alvo seu colega de classe Hiroshi.
Já na versão ocidental Renegade, o jogador controla um lutador de rua que deve enfrentar quatro gangues diferentes para resgatar sua namorada mantida em cativeiro por um chefe da máfia. Esta mudança na trama definiria o gênero de beat em up.

O grande marco veio em 1987 com Double Dragon, também da Technōs Japan. Este jogo popularizou o gênero, introduzindo a jogabilidade cooperativa para dois jogadores, uma história mais trabalhada e uma variedade de movimentos de luta. Double Dragon se tornou um fenômeno, inspirando inúmeros outros jogos e estabelecendo o padrão para os beat' em ups que viriam mais adiante.

A Era de Ouro: Fliperamas e Consoles
O final dos anos 80 e até a metade dos anos 90 ficaram conhecidos como a era de ouro dos beat 'em ups. Os fliperamas eram os templos onde jogadores se reuniam para enfrentar chefões e competir pelas melhores pontuações nos games. A tecnologia da época permitia gráficos coloridos, sprites detalhados e trilhas sonoras pulsantes.

Uma enxurrada de títulos dominara os fliperamas e a Capcom foi uma das principais desenvolvedoras do gênero, com franquias como Final Fight (1989), que levou a experiência dos beat 'em up a novos patamares com gráficos extremamente detalhados para a época, personagens com características diferentes e uma jogabilidade refinada.

Capcom: Reis do Gênero
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Final Fight definiu o que era um jogo beat em up:
Uma História: O Mocinho salva a linda donzela indefesa de uma gangue.
Personagens carismáticos: Haggar (o prefeito lutador), Cody (o herói justiceiro) e Guy (o ninja).
Diversidade de inimigos: Desde gangues até androides, cada um com padrões de ataque únicos.
Armas improvisadas: Garrafas, facas e até tubos de metal podiam ser usados contra os inimigos.
O sucesso de Final Fight levou a Capcom a investir em vários outros jogos do gênero.

Konami: Licenças e Inovação
A Konami apostou em licenças populares para conquistar o público:
Teenage Mutant Ninja Turtles (1989) e Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles in Time (1991) com Quatro jogadores simultâneos, cenários dinâmicos (como uma nave espacial) e a habilidade de arremessar inimigos para "fora da tela".

The Simpsons Arcade (1991): Baseado na série animada de maior sucesso nos Estados Unidos, o jogo tinha um humor único e chefes memoráveis, como o Sr. Burns.

X-Men (1992): Com um gabinete gigante para seis jogadores, o jogo era uma experiência única, repleta de poderes mutantes e inimigos como Magneto.

Sega e Technōs: Competição Acirrada
Enquanto isso, a Sega lançava Golden Axe (1989), misturando fantasia medieval e um combate visceral. Cavalheiros, anões e amazonas lutavam contra hordas de guerreiros em cima de dragões. Mais tarde, esse estilo de lutas com armas fixas seria chamado de Hack and slash.

A Technōs, por sua vez, expandiu seu universo com The Combatribes (1990), onde três lutadores enfrentavam gangues em uma Nova York distópica.

Consoles Domésticos: A Adaptação dos Clássicos
Com a queda gradual dos fliperamas, os consoles trouxeram os beat'em ups para as TV's domésticas. A Sega e a Nintendo travaram uma batalha icônica nos consoles, cada uma com seus exclusivos.
Embora não seja a única guerra de consoles, a rivalidade entre Sega e Nintendo pelo domínio do mercado de jogos é geralmente o exemplo mais visível de uma guerra de consoles. Isto estabeleceu o uso de táticas agressivas de marketing e publicidade por cada empresa a fim de tentar ganhar o controle do mercado. Este confronto terminou por volta de 1995, quando uma nova concorrente, a Sony, entrou e interrompeu o espaço dominante da Sega e Nintendo.

Super Nintendo: Capcom e a Magia do Mode 7
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A Nintendo trouxe ports de qualidade como Final Fight no SNES em 1990, mas sem o modo cooperativo de dois jogadores (adicionado apenas na versão Final Fight Guy).
Outro jogo que se destacou foi TMNT IV: Turtles in Time (1992) aproveitaram o poder do SNES para incluir efeitos de rotação (como arremessar inimigos "para a tela") e sprites detalhados.
Batman Returns trouxe o homem-morcego para as telas em uma Gothan City infestada de inimigos.

Sega Mega Drive/Genesis: Streets of Rage e Além
A Sega comçou com seu maravilhoso port Golden Axe, que manteve a essência do fliperama, apesar das limitações técnicas.
Mas foi com Streets of Rage (1991), que a empresa brilhou. Sendo uma resposta direta a Final Fight. A trilha sonora de Yuzo Koshiro (feita no próprio console!) elevou o jogo a outro nível.
A sequência Streets of Rage 2 (1992) é considerada uma obra-prima e o melhor beat em up dos consoles, com:
Movimentos especiais desbloqueáveis.
Personagens únicos, como Skate e o lutador de wrestler Max.
Chefes complexos, como o Mr. X e seu exército de clones.

Nes 8 Bits na Briga
Outros jogos que também fizeram um grande sucesso estavam no NES 8 bits.
Alguns jogos foram exclusivos do console:
Battletoads (1991, NES): Conhecido por sua dificuldade brutal e fases variadas (como corridas de hoverbike).
River City Ransom (1989, NES): Um RPG beat 'em up onde você podia comprar itens para melhorar habilidades.

Jogos Inovadores
A era de ouro não foi apenas sobre repetir fórmulas. Muitos jogos trouxeram mecânicas revolucionárias:
Vendetta (1991, Konami): Trouxe temas mais adultos como gangue de motoqueiros e bebidas, além de introduzir um sistema que havia em Renegade onde inimigos podiam ser atacados enquanto estavam no chão.

Cadillacs and Dinosaurs (1993, Capcom): Baseado em uma HQ, o jogo é considerado o melhor beat 'em up dos arcades. Aprimorou todas as mecânicas dos jogos, além de permitir usar armas de fogo e enfrentar dinossauros.

Knights of the Round (1991, Capcom): Outro beat 'em up inovador com elementos de RPG, onde personagens evoluíam e é baseado nos contos do Rei Arthur.

O Legado Cultural
Os beat' em ups não eram apenas jogos, eram fenômenos culturais. Double Dragon inspirou um filme live-action (1994), enquanto Streets of Rage influenciou artistas de música eletrônica com seu synth-wave marcante.
Além disso, o gênero ajudou a popularizar:
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Coop local: Jogar com um amigo era metade da diversão.
Licenças cross-mídia: jogos baseados em desenhos, filmes e HQs dominavam as listas de sucessos.

O Declínio: A Transição para 3D
O final dos Anos 90 e início dos anos 2000 trouxeram a ascensão dos gráficos 3D e a mudança dos interesses dos jogadores. O gênero beat 'em up começou a perder popularidade no final dos anos 90 e jogos de luta em 3D, como Tekken e Street Fighter EX, além de títulos de ação em terceira pessoa, como Devil May Cry, começaram a dominar o mercado.

Alguns desenvolvedores tentaram manter o gênero vivo com Fighting Force (1997), que foi uma tentativa de levar o beat 'em up para o mundo 3D, mas não conseguiram capturar a magia dos clássicos 2D. Outros títulos, como Viewtiful Joe (2003), da Capcom, trouxeram um universo mais artístico, mas ainda assim não alcançaram o sucesso comercial esperado.

O Renascimento: Nostalgia e Inovação
Nas últimas décadas, o gênero beat 'em up experimentou um renascimento, impulsionado pela nostalgia e por desenvolvedores independentes que buscaram reviver os clássicos. Jogos como Scott Pilgrim vs. The World: The Game (2010) e Shank (2010) trouxeram uma nova perspectiva ao gênero, combinando gráficos modernos com a jogabilidade clássica.

River City Girls (2019), da WayForward, expandiu o universo de Renegade com uma nova história, personagens carismáticos e uma jogabilidade atual. Jogos como Fight'N Rage (2017) e The Takeover (2019) também mantiveram o gênero vivo, homenageando os clássicos enquanto inovavam no design e mecânicas.

Mas foi com Streets of Rage 4 (2020), uma sequência direta da clássica série da Sega que o genêro renasceu. Desenvolvido pela Lizardcube e Guard Crush Games, o jogo conseguiu manter a essência dos beat 'em up's originais, mostrando gráficos atuais e deslumbrantes, além da mecânica de jogo totalmente atualizada. O jogo foi aclamado pela crítica e pelos fãs, provando que ainda há espaço para o gênero no mercado atual.

A partir desse ponto, jogos como: Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder's Revenge, Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons, The Karate Kid: Street Rumble e outros títulos que ainda vêm sendo lançados mantêm viva a chama dos beat 'em up.

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Conclusão: O Legado dos Beat 'em Ups
Os jogos beat 'em up podem não ser mais os reis dos fliperamas, mas seu legado continua vivo. Eles representam uma era onde a simplicidade e diversão eram compartilhadas, onde o objetivo era claro: avançar, derrotar inimigos e salvar a donzela. Com o ressurgimento do interesse no gênero, para mim, que amo o estilo de jogo, é emocionante ver como os desenvolvedores estão mantendo viva a chama dos beat 'em ups, ao mesmo tempo em que exploram novas possibilidades.
Seja revisitando os clássicos ou experimentando os novos games do gênero, uma coisa é certa: os beat 'em ups continuarão a ser uma parte amada na cultura dos videogames, nos lembrando de que, às vezes, tudo o que precisamos é de um bom soco, um chute e um amigo ao nosso lado.
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