Mortal Kombat é uma das séries de games mais influentes de todos os tempos e foi responsável até mesmo pelo atual sistema de classificação etária de jogos que existe até hoje. Quando foi lançada nos anos 90, a série introduziu uma violência gráfica que nunca tinha sido vista antes. Na verdade, jogos com violência e decapitações já existiam antes, mas a novidade eram os gráficos com atores digitalizados.
Ver Johnny Cage arrancando cabeças na base do soco ou Scorpion revelando que era uma caveira por baixo da máscara era demais para os políticos reacionários e pais conservadores que exigiram censura e mudanças na forma como seus filhos consumiam videogames. Se você procurar no Youtube, vai achar reportagens mostrando o quão violento o jogo era e os políticos reunidos com representantes da SEGA e Nintendo discutindo a violência dos games.
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Podemos dizer que o maior triunfo da franquia criada por Ed Boon e John Tobias também foi o seu maior revés? Talvez sim, porque toda a reação exagerada do público em cima de seu jogo forçou com que a empresa desses novos rumos para o jogo e, muitos deles, não foram bem recebidos pelo público. O que levou a um inevitável reboot da franquia, tentando colocá-la nos trilhos novamente. Mortal Kombat recebeu não um, mas dois reboots, que deixaram muitos fãs sem entender o que estava acontecendo no Plano Terreno.
Então, para ajudar você que ficou longe de Sub-Zero, Scorpion, Liu Kang e os outros Kombatentes desde os anos 90 e quer voltar à franquia sem ficar perdido na história, vamos explicar os reboots de Mortal Kombat e, caso você fique com dúvidas, deixe um comentário.
Do Auge à Queda
Lançado em 1990, Mortal Kombat explodiu a cabeça de muita gente com seus gráficos de atores digitalizados e violência exagerada, com sangue vermelho voando pela tela, golpes que pareciam machucar de verdade e poderes que realmente pareciam ferir e cortar os adversários. Ryu, Ken, Chun Li e outros lutadores mundiais eram legais, mas um Shoryuken não tinha o mesmo “peso” de um gancho bem-dado na cara do outro lutador que tirava quase 30% da barra de vida do adversário e deixava o chão sujo de sangue.
Na época, isso era uma coisa absurda! Eu me lembro de ver o Fatality de Johnny Cage pela primeira vez e não acreditar que eu estava vendo aquilo. Não sei de onde eu tirei dinheiro para comprar uma ficha (caríssimos 25 centavos cada ficha e algumas casas de arcade programavam o jogo para funcionar só com duas) e não conseguir passar do 3 lutador e muito menos fazer qualquer magia ou fatality. Mas, foi incrível!!
SEGA e Nintendo queriam essa “máquina de fazer dinheiro” em seus consoles o mais rápido possível e em 1993, em uma segunda-feira, o Mortal Monday anunciava que os consoles domésticos receberiam ports do jogo.
A Nintendo queria Mortal Kombat, mas não queria toda aquela violência, então modificou o jogo para substituir o sangue por “suor” ou algo assim, o que deu uma larga vantagem para a SEGA na “guerra dos consoles”, já que as versões de Master System, Game Gear e Mega Drive tinham o “código de sangue” (ou Honor Code) que, quando acionado, liberava o sangue e os fatalitys originais.
Quando esse cartucho chegou às locadoras, eu tive que esperar semanas e reservá-lo até conseguir alugá-lo! As crianças não saiam da minha casa, pois ficávamos o dia todo jogando Mortal Kombat tentando fazer um fatality e atrapalhando o colega de conseguir! Essa divagada que dei sobre minha história pessoal com MK é apenas para dizer: O jogo mudou tudo! Mas vamos focar no game.
Com o sucesso de Mortal Kombat 1, uma sequência era mais do que esperada! E elas vieram. Mortal Kombat 2 foi um sucesso, talvez não tão grande quanto o primeiro, mas muito famoso também. Introduziu os Babalitys, como uma forma de tirar um sarro daqueles que reclamaram da violência do primeiro jogo. Contudo, algo ali já parecia mudar. Ele não era tão violento quanto o primeiro. Trazia golpes finais mais exagerados, muitos ossos voando na tela, corpos explodindo em vez de ficar no chão, sangrando. Ele parecia mais “contido”.
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O terceiro game também foi um sucesso, pois era um Mortal Kombat, mas, novamente, ele veio com exageros de anatomia (cada lutador parecia ter 6 caixas torácicas, 15 fêmures, 12 ossos da pélvis e sabe-se lá mais quantos ossos repetidos), a “mancha de sangue” que aparecia nas explosões era sempre a mesma, os fatalitys eram muito mais “limpos” e a introdução dos animalitys gerou coisas toscas como alguém morrendo porque um gambá soltou fedor pelo rabo.
Além disso, o jogo recebeu diversas versões Ultimate (que nunca era a última), que adicionam novos lutadores e outras coisas como a corrida, barra de Agressor para combos e os Brutalitys. Na época em que não havia DLCs que você baixava e atualizava o jogo, ficar comprando várias vezes o mesmo cartucho por causa de um ou dois lutadores novos era complicado.
Mortal Kombat 4 encerrou a era dos atores digitalizados e foi para o 3D, seguindo o padrão de outros jogos, como Virtua Fighter ou Tekken, o que não foi bem recebido pelos fãs e, na época, as casas de Arcade eram cada vez mais raras, fazendo com que o jogo ficasse nas mãos daqueles que tinham consoles de última geração, como o PlayStation 1.
Podemos dizer que aqui é o “começo da queda”? Sim, porque temos um jogo com uma jogabilidade travada, ruim, movimentação confusa e a falta de lutadores queridos dos fãs, como Kano e Kitana. E para resolver, foi lançado Mortal Kombat 4 Gold. O problema: ele era exclusivo do Sega Saturno, um console que já estava mal das pernas na época. Uma decisão que foi um verdadeiro fatality na franquia.
Depois disso, a franquia foi apenas “Deception”, tanto que nem o crossover com os heróis da DC Comics conseguiram salvar e tudo terminou em um “Armageddon”. Os jogos seguintes vieram com coisas bobas como corrida de kart, Tetris, dezenas de personagens irrelevantes, histórias confusas e retcons, além de outros problemas que só iam adicionando mais pregos ao caixão.
Claro, houve excelentes spin-offs como Shaolim Monks, bombas como Special Forces e boas ideias mal executadas como Mythologies: Sub-Zero, mas, no que diz respeito à franquia principal, Mortal Kombat estava naquele estado de “Finish Him” só esperando o golpe final.
Primeiro Reboot
Em 2010, o estúdio responsável pelo lançamento dos jogos de MK, a Midway, foi comprado pela Warner Bros. Interactive e se tornou a Netherhelm Studios. Talvez tenha sido a Warner que deu a ideia de rebootar a franquia? Provavelmente, mas podemos dizer que essa foi a salvação de MK, pois colocou a franquia novamente no lugar de onde ela nunca deveria ter saído. A ideia era simples, voltar no tempo, apagar toda aquela bagunça feita em meados dos anos 2000 e retornar com a boa e velha violência que fez Mortal Kombat ser o que era.
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Mortal Kombat, exatamente como o primeiro, (mas por ser o nono título da linha principal, também era chamado de MK 9) era o título que faria isso. Os eventos dele começam exatamente onde terminava o último game, MK Armageddon, com todos os lutadores mortos na escadaria do templo de Blaze, o elemental do fogo que viria destruir o mundo por conta das ações dos personagens protagonistas do modo história, Tevan e Deagon.
Shao Khan venceu Blaze e conseguiu os poderes do elemental, tornando-se invencível e derrotando Raiden. Caído, o deus do trovão finalmente percebeu onde havia errado em todos aqueles anos: “Ele deve vencer”, foi a frase dita para os pedaços do amuleto de Shinnok que enviou a consciência de Raiden para o passado, exatamente no início do 10° torneio Mortal Kombat, que acontecia na ilha de Shang Tsung e que faria com que Liu Kang se tornasse o campeão e protetor do Plano Terreno.
O nono jogo reconta, com algumas alterações, os três primeiros games da franquia, terminando com a invasão de Outworld e uma luta entre eles e Liu Kang, mas, é nesse momento que Raiden entende a mensagem que enviou a si: “Ele deve vencer” não se referia a Liu Kang e sim ao próprio Shao Khan, que deveria vencer a luta para que pudesse invadir o plano Terreno e assim desobedecer aos Deuses Anciões, forçando-os a tomar uma atitude contra a desobediência. Liu Kang não aceita e Raiden acaba matando-o. Shao Khan invade a Terra e, como Raiden previu, ele foi punido pelos Deuses Anciões e destruído.
O jogo seguinte, Mortal Kombat X, reconta os eventos de Mortal Kombat 4, mas com diferenças significativas e introduz novos personagens, como Cassie Cage, Kotal Khan e Devora’h. No enredo, mesmo lamentando perder Liu Kang, Raiden e os kombatentes têm que se preocupar com a invasão de Netherhelm, liderados por Quan Chi e os kombatentes revividos pela magia dele. Quan Chi quer encontrar o amuleto de Shinnok e trazer de volta o deus ancião exilado. Nesse jogo, descobrimos mais sobre os ancestrais de Johnny Cage, um grupo de monges treinados para destruir Shinnok.
(É neste jogo que tivemos a polêmica dublagem da Cassie Cage feita pela cantora Pitty)
Já em Mortal Kombat 11, temos o começo do próximo reboot da franquia, com a deusa do tempo, Kronica e seu aliado imortal Geras, tentando desfazer o que Raiden fez ao voltar no tempo. Contudo, Raiden está com bem pouca paciência para com invasores do Plano Terreno. Ele decapitou Shinnok (o que é um problema sério para alguém que não pode morrer) e usou isso para mandar um aviso aos novos regentes do Netherhelm, os zumbis de Liu Kang e Kitana.
Em Outworld, durante o julgamento de um dos lacaios de Shao Khan, Kollector, o tempo começa a desmoronar, trazendo do passado versões mais jovens de Sônia, Liu Kang, Kung Lao, Jax e outros lutadores, tanto vivos quanto mortos. Raiden vai até os Deuses Anciões para saber o que estava acontecendo e a deusa da natureza, Cetrion, explica que aquilo era um plano de Kronica para reestabelecer a linha do tempo original antes de Raiden interferir. Agora, cabe aos lutadores vencer Kronica e ver o que fazem com a linha do tempo.
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Um Novo Recomeço
Talvez por influência dos filmes de Super-Heróis, a palavra do momento no mundo do entretenimento é “multiverso”. Mortal Kombat não quis ficar para trás nessa tendência e, por isso, rebootou mais uma vez seu universo e zerou, mais uma vez, a numeração de seus títulos. Mortal Kombat 1, lançado em 2023, traz uma nova história após o fim da linha do tempo anterior com a derrota de Kronica.
De posse da Ampulheta do Tempo, coube a Liu Kang, o deus do fogo, reconstruir todos os reinos. Ele usou seus poderes, junto com Geras, para reconstruir todos os reinos, mas com mudanças. Para seus aliados e amigos, ele deu vidas simples e tranquilas, e os vilões, como Shang Tsung e Quan Chi, foram destituídos de seus poderes e condenados a vagar como pessoas normais. Outras coisas foram acontecendo naturalmente, sem a interferência direta dele, como a criação de uma doença que deforma os infectados, chamada de Tarkat. Entre esses infectados estão um nobre comerciante chamado Baraka e a princesa Milenna, filha da rainha Sindel e irmã da princesa Kitana.
Contudo, para atrapalhar a paz criada pelo titã Liu Kang, uma figura misteriosa surge e começa a alterar tudo o que foi feito por ele. Essa figura conta a Shang Tsung que ele foi um feiticeiro poderoso e lhe ensina artes místicas. Ele se alia ao General Shao, líder dos exércitos de Outworld e com planos de conquistar os outros reinos, e ao feiticeiro Quan Chi, que era um escravo nas minas de Netherhealm.
No fim, descobrimos que a figura misteriosa era o titã Shang Tsung, ou seja, um Shang Tsung de uma realidade onde ele, e não Liu Kang, venceu Kronica e tomou conta da Ampulheta do Tempo, criando a sua própria versão dos Reinos. Liu Kang não sabia que esses outros universos existiam, mas agora tem que impedir que o seu universo seja invadido e dominado pelo universo de Shang Tsung.
Qual será o futuro de MK?
A DLC de MK 1, Reina o Kaos, abriu portas para essa temática de multiversos, com o titã Havik (a versão onde Havik derrotou Kronica e tomou a Ampulheta e blá blá blá) atacando o plano de Liu Kang. Então, se existe uma versão onde Havik é um titã, uma onde Shang Tsung é um titã, com certeza existem versões titânicas de Shao Kan, Shinnok, Raiden e outros, o que dá muito, mas muito material para os próximos jogos.
Só resta agora esperar o que vem por aí.
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