Sinceramente, não conheço muito sobre a cultura dos gaúchos do Sul do Brasil. Não entendo muito sobre bombachas e sobre chimarrão (provei uma vez e não senti gosto de nada), mas sei sobre cozy games e jogos de gerenciamento de fazendas. E este é o caso de Gaúcho and The Grassland, um game indie brasileiro, desenvolvido e publicado pela Epopeia Games (site oficial)
.
Em vez de ser uma fazenda deixada para você pelo seu avô morto (a história mais básica para jogos do tipo, como Stardew Valley), você recebe o chapéu do seu pai recentemente falecido, que o transforma em um gaúcho lendário (e bigodudo). Você tem a tarefa de trazer ordem às regiões ao redor de sua propriedade, que estão passando por problemas devido ao desaparecimento de seus guardiões.
E você quer saber se vale a pena entrar nessa aventura no Sul do Brasil, encarar curupiras e sacis enquanto cuida da sua fazenda e faz ela prosperar ao lado de um cachorrinho simpático e um cavalo valente? Vamos falar sobre Gaúcho and the Grassland e, se você ficar com dúvidas, deixe um comentário.
Gaúcho e as Pastagens do Sul
O jogo começa com a customização do seu personagem, um estilo fofinho, cartunesco, onde você faz o seu gaúcho ou gaúcha, várias opções de bigode, e também customiza seu cavalo, seu cachorro e roupas, então, vai para o jogo. Você vai velar o corpo de seu pai e o fantasma dele surge para te dar o seu chapéu e suas terras. O tutorial ensina você a fazer ferramentas, consertar casa, criar objetos e como seu cão ajuda a farejar objetos para desenterrar mais materiais para criar mais ferramentas.

Depois que ele te ensina como controlar seu cavalo e, por fim, explica que sua família é parte de um grupo que cuida e protege o local de criaturas sobrenaturais. Ele te dá a chave para que você abra uma das duas novas regiões iniciais que te levarão para conhecer novas e interessantes pessoas, com problemas e um local guardado por um monstro, que você irá conseguir abrir após ajudar algumas pessoas e cumprir algumas missões.
Simples e funciona
Resumindo bastante o jogo, podemos dizer que Gaúcho and the Grassland é bastante simples. Aqui, você vai passar a maior parte do seu tempo coletando recursos com ferramentas feitas com materiais cada vez mais preciosos e raros, o que vai dar acesso a recursos mais raros e preciosos para construir coisas para a sua fazenda ou para completar missões ajudando as pessoas.
Uma das escolhas mais interessantes do jogo é que não existe dinheiro. Tudo funciona com escambo — você troca itens, favores ou materiais em vez de comprar, ou vender. Isso muda bastante como você pensa suas ações, já que cada missão pode te dar itens importantes para outras tarefas, e tudo está meio interligado.
A coleta de recursos não serve só para construir coisas na sua fazenda, mas também para ajudar os outros moradores e conseguir itens que você não conseguiria sozinho. Essa mecânica reforça a ideia de que o progresso acontece em comunidade, e combina bem com o clima rural do jogo. Não é só sobre acumular riqueza ou automatizar a produção, mas sobre manter as relações com quem vive ao seu redor.

Então, as missões aqui são uma verdadeira mistura de cuidar da sua propriedade, cuidar de ajudar os outros e fazer o seu trabalho como guardião de figuras do folclore nacional. No início, parece que você vai gastar uma quantidade significativa consertando cercas para as pessoas, disputar animais perdidos ou apagar pequenos incêndios. As missões podem não ser particularmente emocionantes, mas aos poucos vão dando significado ao jogo.
Narrativamente, é uma estrutura bastante familiar, e mecanicamente também. Você chega a uma região, examinará um labirinto no meio dessa região que atualmente está sendo guardado por um grande monstro e depois decidirá como ajudar, pelo menos, sete cidadãos de cada uma dessas regiões com seus diversos problemas. Termine e repita o mesmo ciclo para cada uma das três áreas disponíveis no jogo.
Além de tudo isso, o jogo também tem o já mencionado sistema de criação, agricultura e construção. Apesar de parecer um elemento importante, ele pode ser deixado de lado para focar nas missões de ajudar e nas recompensas que você receberá. Embora a coleta de recursos e a criação de ferramentas sejam essenciais para a maioria das missões (você sempre precisará de mais grama para fazer mais cordas), criar prédios na sua fazenda e trazer animais de volta para os celeiros só é realmente necessário para algumas missões por área.
Essas missões desbloqueiam a capacidade de adicionar novas construções e animais à sua própria propriedade, que você visita entre uma região e outra, mas não há incentivo real para investir seu tempo ou recursos aqui. Isso pode criar um pouco de diferenças entre a expectativa do jogo e a realidade e desapontar aqueles que esperavam fazer sua fazenda gado como algo maior e melhor para o game.
Hora do Folclore
Cada uma dessas áreas que você desbloqueia no game representa um bioma diferente do Sul do Brasil, com clima, vegetação e personagens únicos. Os pampas são amplos e abertos, a serra traz clima mais frio e terrenos acidentados, enquanto o litoral tem áreas alagadas e trilhas cobertas por névoa. Cada região tem uma música própria e missões com um ritmo diferente, o que ajuda a quebrar um pouco a repetição do ciclo de coletar recursos e resolver problemas. Essa variação visual e sonora ajuda a dar mais vida ao mundo do jogo, mesmo que as tarefas ainda sigam o mesmo formato básico.

Após ajudar um número específico de pessoas necessárias para progredir na região, você pode investigar o labirinto, que envolve consertar totens para assustar o monstro que está escondido nele. Você pode então ir para o reino dos guardiões, aqueles que conhecemos como Curupira e Saci entre outras figurinhas carimbadas do folclore nacional, e colocar um fim em toda essa bagunça causada pelos monstros. Essas seções soam muito mais interessantes: cada guardião está em uma situação diferente, que envolve uma solução diferente de um puzzle diferente para libertá-los.
A parte das “batalhas” contra chefes e o encontro com os guardiões, acontecendo em cenários interessantes combinados ao estilo cartunesco fofinho dos personagens, proporciona uma experiência visualmente mais atraente do que as regiões na maioria nebulosas onde você passa a maior parte do tempo.
A música ao longo do jogo vai de adequadamente alegre para algo um pouco mais tenso, o que adiciona um pouco mais de sensação de alerta a essas seções.
O Lado Menos Brilhante
O ritmo do jogo pode ser um desafio para alguns jogadores. Mesmo sendo um cozy game, o início é particularmente lento, com missões que se estendem além do necessário e tarefas simples demais, como consertar cercas ou buscar recursos comuns repetidas vezes. Leva um bom tempo até que as partes mais interessantes — como os encontros com os guardiões do folclore ou os puzzles dos labirintos — realmente entrem em cena. Para quem espera algo mais dinâmico, o começo pode parecer arrastado e desanimador.

Outro ponto que limita a experiência está na estrutura das missões. Apesar da mudança visual entre os biomas, o que se faz neles não muda tanto assim. Você vai para uma nova região, conhece alguns personagens, resolve os mesmos tipos de problema, desbloqueia o labirinto e repete o ciclo. As histórias de cada área não são ruins, mas a repetição de objetivos pode dar uma sensação de déjà vu constante. A interação com os NPCs também é rasa, com falas curtas e pouco impacto narrativo, o que diminui o potencial emocional que o jogo poderia alcançar com esse elenco tão estilizado.
Por fim, a exploração não entrega tudo o que promete. O mapa é amplo o suficiente para incentivar a curiosidade, e seu cachorro pode farejar itens escondidos, mas a maior parte das recompensas acaba sendo material comum que você já encontra com facilidade. Não existem segredos, baús únicos ou eventos especiais fora do caminho principal, o que faz com que vagar pelo cenário acabe virando mais uma obrigação do que uma aventura. Além disso, a interface, especialmente no mouse e teclado, pode atrapalhar um pouco, com menus que exigem mais ações do que deveriam para fazer tarefas simples.
Prós e Contras
Prós
• Música cativante;
• Ritmo relaxante;
• Não é muito longo;
Ruim
• Não é um jogo emocionante
• A fazenda fica em segundo plano
Conclusão
O ciclo de jogo é claramente definido e, embora muitas das missões não sejam tão empolgantes quanto em outros games do gênero, há algo estranhamente relaxante no ritmo em que Gaúcho and the Grassland progride. O elenco de personagens é colorido, talvez não memorável, e a movimentação pelo ambiente é satisfatoriamente suave, especialmente enquanto você cavalga seu fiel corcel. O jogo também não é muito longo e você poderá terminar Gaucho and the Grassland em quatro horas, a menos que queira gastar mais tempo personalizando sua propriedade ou ajudando mais pessoas.
Se você gosta de jogos de fazendas e criação aconchegantes, pode descobrir que Gaúcho and the Grassland é uma maneira divertida de matar algumas horas. Ele talvez não vá redefinir o gênero, mas se você não se importa em consertar algumas (dúzias) cercas entre a criação de galinhas e a construção de celeiros, então esse game é uma boa maneira de gastar seu tempo.
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