Steel Seed, um premiado jogo da desenvolvedora italiana Storm in Tea Cup (site oficial) é uma promessa de um jogo interessante com uma gameplay baseada em furtividade e narrativa em um futuro distante e devastado, onde os robôs e máquinas governam e apenas uma heroína cibernética poderá salvar a humanidade de extinção. E sua promessa foi cumprida. Mas, foi cumprida com apenas o necessário para dizer que cumpriu. Não tem nada mais que brilhe nesse título.
O jogo funciona muito bem, tem uma história que apresenta o mundo, os protagonistas, vilões e o enredo. Seu combate funciona e o modo furtivo é completo, com ataques rápidos, parkour e distrações ao melhor estilo Assassin’s Creed. Tudo funciona sem problemas. Mas, não há nada que se destaque nisso. Vamos falar sobre esse jogo e, se você ficar com dúvidas, deixe um comentário.
Um futuro tecnologico e devastado
Em Steel Seed, quase toda a humanidade foi destruída após um grande colapso que tornou o mundo um lugar inabitavel. O que restou dos humanos está em estado de animação suspensa, mantido por IAs e robôs que agora controlam tudo. Só que, com o passar dos anos, eles parecem ter perdido o propósito e não querem mais que os humanos voltem ao mundo. Estão protegendo os humanos... dos próprios humanos.
A protagonista do game é Zoe, uma jovem ciborgue que quer descobrir o que aconteceu com seu pai — e entender qual é o seu papel em um mundo tomado por máquinas. Ao lado do drone Koby, ela parte em uma missão cheia de ação, infiltração e mistérios.
Logo no começo do jogo, Zoe acorda em um laboratório, sem lembrar de muita coisa, exceto a última conversa com seu pai que diz que “não há tempo”. Ela desperta num corpo cibernético e com habilidades físicas incríveis, capaz de dar pulos duplos, correr, lutar com uma espada laser e mais. O cenário é escuro, com corredores metálicos e inimigos por todos os lados. Zoe e Koby precisam ser espertos, usar a furtividade e contar com a ajuda um do outro para sobreviver.
Zoe vai enfrentar robôs agressivos, uma máquina gigante que tenta destruí-la, e até um robô sniper que a embosca, até que ela encontre uma IA com aparência de um humano dourado (parecendo um Oscar) que revela: seu pai construiu aquele lugar como uma espécie de Arca para salvar a humanidade. Agora, Zoe precisa encontrar cinco fragmentos da mente deles espalhados pelo local para trazê-lo de volta e ajudar a reconstruir o mundo, ativando os protocolos criados para despertar os humanos.
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Já vi isso antes
É difícil não pensar em outros jogos e filmes de ficção ao jogar Steel Seed. A ambientação lembra bastante clássicos como NieR: Automata, Remember Me e até Matrix, com aquele clima de um futuro arrasado e repleto de tecnologia que está fora de controle.
A arquitetura pesada, os corredores escuros e os robôs agressivos criam uma sensação constante de alerta. A trilha sonora discreta e os cenários com pouca luz reforçam essa ideia de um mundo avançado, mas perigoso.
Mesmo com todo esse cuidado visual e sonoro, Steel Seed passa uma sensação de déjà vu. A história de humanos em suspensão criogênica, IAs corrompidas e uma protagonista tentando salvar o que sobrou da civilização não é nova. Isso não é um problema por si só — ideias conhecidas podem ser boas se forem bem exploradas — mas o jogo não consegue dar uma nova cara para esse tipo de trama.
Infelizmente, falta identidade. A narrativa está presente, mas não impacta tanto o jogo em si. Fica em segundo plano, sem o peso de outras histórias parecidas. Além disso, Zoe e Koby, a dupla principal, não têm o carisma necessário para prender o jogador. Eles funcionam dentro da proposta, mas não cativam ou surpreendem. Em pouco tempo, você está jogando e nem lembra o motivo dela estar ali. Vamos falar mais sobre eles a seguir mais detalhadamente.
A Dupla Zoe e Koby
A interação entre Zoe, a protagonista, e seu drone flutuante, Koby, é uma parte central da experiência de Steel Seed, mas infelizmente falta carisma nessa relação. Koby tem um papel bem definido no gameplay: ele serve como chave para abrir portas, ajuda a resolver puzzles e também funciona como ferramenta de escaneamento tático durante a exploração e os combates. O problema é que, fora essas funções mecânicas, a relação entre os dois personagens é rasa. Eles até conversam, mas os diálogos raramente vão além de comandos simples ou frases genéricas como “Precisamos passar por aqui com cuidado” ou “Será que podemos confiar nele?”. Falta personalidade nessas trocas, o que dificulta a criação de um laço emocional com o jogador.
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Zoe tem potencial para ser uma personagem interessante, mas seu desenvolvimento também deixa a desejar. Em muitos momentos, ela parece mais uma peça funcional do que uma personagem com profundidade. Suas falas variam entre observações rápidas, frases reflexivas e alerta táticos, mas sem formar um arco emocional claro, pelo menos nas horas iniciais da campanha. O jogo tenta mostrar mais sobre ela por meio de flashbacks e cenas que revelam um lado mais vulnerável, mas esses momentos são curtos e pouco marcantes. Não há cenas fortes o bastante para realmente consolidar sua personalidade ou fazer o jogador se importar de forma mais profunda com o que ela está vivendo.
No fim, tanto Zoe quanto Koby cumprem seus papéis dentro da estrutura do jogo, mas ficam aquém do que poderiam ser. Com mais tempo de tela dedicado ao relacionamento entre os dois — e com diálogos mais humanos e envolventes — seria possível criar uma conexão muito mais forte com o jogador. Do jeito que está, a relação parece funcional demais e emocional de menos.
Furtividade é a Chave
A jogabilidade de Steel Seed gira em torno da furtividade. Desde o início, o jogo deixa claro que o caminho mais seguro — e muitas vezes mais eficiente — é evitar confrontos diretos. O jogador é incentivado a se mover com cuidado, aproveitando sombras, usando campos de distorção estática (parecidos com a grama alta de Assassin’s Creed), além de se esconder atrás de coberturas e criar distrações para passar pelos inimigos ou eliminá-los silenciosamente.

Esse sistema funciona bem na prática. As mecânicas respondem de forma precisa, e o nível de desafio tem um bom equilíbrio, lembrando jogos como Dishonored ou Deus Ex: Human Revolution. Zoe pode se agachar para sair do campo de visão dos robôs, usar iscas sonoras para atrair a atenção dos inimigos, marcar alvos com a ajuda do drone Koby e encontrar rotas alternativas para se mover sem ser vista. Cada área oferece várias formas de abordar a situação, e o jogo recompensa quem for paciente e pensar antes de agir.
Os inimigos seguem padrões de patrulha claros e bem definidos, o que ajuda o jogador a traçar estratégias com segurança. Por outro lado, essa previsibilidade acaba diminuindo a tensão conforme o tempo passa. Depois de algumas horas, você começa a entender o ritmo do jogo e se sente mais no controle, o que tira um pouco da pressão inicial.
Ainda assim, o design das fases é criativo o suficiente para evitar que a experiência se torne repetitiva. Mesmo que o ciclo de jogabilidade se torne familiar depois de um tempo — esconder, distrair, infiltrar, repetir —, o jogo consegue manter o interesse. Em alguns trechos, há também momentos de plataforma e parkour leve, com pulos duplos, escaladas e saltos bem colocados. Essas partes funcionam bem, ajudam a quebrar o ritmo e são divertidas, mas não trazem nenhuma novidade real ao gênero. Elas servem mais como um respiro entre os segmentos de furtividade do que como destaque.
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Combate: Um Recurso Secundário, Não o Foco
Diferente de muitos jogos de ação, Steel Seed não quer que você parta para o confronto direto. Zoe é uma personagem frágil, e sair do stealth quase sempre significa morrer. Ainda assim, o jogo oferece um sistema de combate com ataques rápidos e pesados, esquivas e algumas habilidades que podem ser desbloqueadas ao longo da jornada. O drone Koby também participa das lutas, podendo distrair ou até paralisar inimigos por um curto período.
Apesar de funcionar, o combate foi claramente pensado como um plano B. Quando você é detectado, normalmente mais de um inimigo vai atrás de você. Eles costumam te cercar rapidamente — enquanto um parte para o ataque corpo-a-corpo, outro atira de longe. Não é extremamente difícil lidar com eles, mas o jogo não oferece um bom feedback visual ou sonoro sobre quando você está sendo atingido. Muitas vezes, você mal percebe que está tomando dano, e quando se dá conta, já morreu.
Falta profundidade nos combates. Não há variedade suficiente de inimigos ou estratégias para que você queira resolver tudo na base da força. E, nesse ponto, o jogo é honesto: ele nunca finge ser um título de ação. O foco está na furtividade, e isso é bem implementado. O combate está lá para quando as coisas dão errado — é mais uma forma de sobrevivência emergencial do que um sistema para ser explorado com frequência.
Progressão e Habilidades
A árvore de habilidades é um dos elementos mais interessantes de Steel Seed, mas também um dos que menos aproveitam seu próprio potencial. Conforme você derrota inimigos e explora o mundo, ganha um recurso chamado "glitch", que serve como moeda para desbloquear novas habilidades. Essas habilidades podem melhorar a furtividade de Zoe, dar novas opções de combate ou expandir sua movimentação.
Só que, antes de desbloquear qualquer uma delas, é preciso cumprir um desafio específico — como eliminar um número determinado de inimigos de forma furtiva, ou atacando de cima, por exemplo. Só após completar o desafio é que você pode gastar os glitches para comprar a habilidade.
O problema é que esse sistema, apesar de promissor, parece limitado demais. Muitas das habilidades disponíveis para desbloqueio são tão básicas que dariam mais sentido se estivessem disponíveis desde o início do jogo.
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Isso atrapalha a sensação de progressão natural, porque o jogador começa com poucas ferramentas e precisa “merecer” até as mais simples. Em vez de sentir que está evoluindo de forma fluida, você se vê travado em tarefas repetitivas só para liberar funções que podiam muito bem ser padrão.
A comparação com Kingdom Hearts II cabe bem aqui: assim como naquele jogo, Steel Seed esconde mecânicas importantes atrás de barreiras artificiais. São recursos que poderiam enriquecer a experiência desde o começo, mas que só aparecem após cumprir certos requisitos. Para alguns jogadores, isso pode ser uma boa motivação, mas para outros — especialmente os menos pacientes — pode acabar sendo frustrante e desmotivador.
Design Visual e Técnica
Steel Seed tem uma direção de arte consistente, mas não exatamente variada. A maioria dos cenários aposta em tons escuros e ambientes parecidos, o que pode cansar um pouco com o tempo. Em áreas onde não há inimigos, a escuridão é ainda mais forte, o que torna a exploração menos interessante — e, às vezes, até frustrante. Por outro lado, o jogo se destaca nas seções onde usa luz de forma mais criativa, com neons, efeitos de partículas e elementos visuais que lembram um futuro altamente tecnológico. Nesses momentos, o jogo mostra seu potencial artístico.

No lado técnico, o jogo se mantém estável. Em testes não foram encontrados bugs sérios nem problemas de desempenho. A interface é limpa e fácil de entender, e o design sonoro cumpre bem seu papel: mantém a tensão em momentos de perigo sem ser exagerado ou cansativo. Ainda assim, mesmo com tudo funcionando direitinho, o visual não chega a impressionar. Ele não tem o impacto necessário para competir com jogos de grande orçamento que se destacam pelos gráficos.
O Peso da Narrativa
Se tem algo que realmente impede Steel Seed de ser um jogo 10/10, é a história. A narrativa até tenta envolver o jogador com registros espalhados pelo cenário e conversas com alguns NPCs, mas a trama principal tem pouco ritmo e falta profundidade. A motivação da protagonista é clara — ela quer encontrar o pai e ajudar a restaurar o mundo —, mas o enredo não evolui de forma interessante. Existem poucas reviravoltas, e o mistério que move o jogo perde força rápido.
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O jogo até apresenta um vilão, um tipo de cyborg pistoleiro, que surge para dar mais urgência à missão. Mas ele aparece sem muito contexto e não é bem desenvolvido como personagem. Na prática, ele funciona mais como um obstáculo entre missões do que como uma ameaça que realmente marca o jogador ou afeta a história de forma significativa.
Mesmo assim, Steel Seed tenta trazer momentos emocionais. A jornada de Zoe, sua luta, sua fragilidade e sua insistência em continuar acabam tocando em temas com os quais muita gente pode se identificar. Mas falta um pouco mais de profundidade na escrita e mais naturalidade nos diálogos. Com isso, a narrativa poderia ter sido muito mais envolvente e memorável.
Um Potencial Ainda em Desenvolvimento
O nome Steel Seed já traz uma ideia bem simbólica: uma semente de metal plantada num mundo destruído, com a esperança de que algo novo possa nascer dali. E isso resume bem o que o jogo entrega. Ele é funcional, bem-feito, divertido em vários momentos — mas parece que ainda está no caminho, sem chegar a florescer por completo. Dá pra ver que há boas ideias ali: o universo, a jogabilidade, a relação entre Zoe e Koby... tudo isso mostra um potencial real. Mas falta “nutrição” narrativa para essas ideias crescerem de verdade.
Com atualizações futuras, DLCs ou ajustes técnicos, Steel Seed pode sim se transformar num daqueles jogos que ganham reconhecimento com o tempo, principalmente dentro do público indie. Hoje, no entanto, é um título que pode agradar a quem curte furtividade e ficção científica — desde que entre sabendo o que esperar.
Prós e contras
Prós:
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• Boa jogabilidade furtiva;
• Movimento e parkour responsivos;
• Combate complementar funcional;
• Atmosfera cibernética bem construída.
Contras:
• Narrativa pouco envolvente;
• Relacionamento entre personagens mal desenvolvido;
• Progressão de habilidades subutilizada;
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• Visual excessivamente escuro.
Conclusão
Steel Seed é um jogo que vive entre dois extremos: o promissor e o esquecível. A furtividade funciona bem, a progressão tem boas ideias, e o mundo que o jogo apresenta desperta curiosidade. Mas os tropeços na narrativa e a falta de impacto emocional deixam a experiência aquém do que ela poderia ser.
Para jogadores que gostam de uma experiência tática, escura e silenciosa, e curtem explorar cada canto do mapa em busca de melhorias e upgrades, Steel Seed pode, sim, valer a pena. Mas, se o que você procura é uma história envolvente ou combates marcantes, talvez seja melhor buscar outro título por enquanto.
Steel Seed é, acima de tudo, uma semente. Se ela vai florescer, dependerá dos próximos passos da desenvolvedora – e da paciência dos jogadores. Deixe nos comentários se você jogou Steel Seed. Se curtiu e se concorda conosco.
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